Longe dos palanques para não descontentar aliados nesta eleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acabou se tornando alvo de uma disputa travada entre candidatos a prefeito do PT, dos diversos partidos que compõem a base governista e até mesmo do oposicionista PSDB.
O uso da imagem do presidente nas campanhas já levou tanto petistas quanto aliados a recorrer à Justiça Eleitoral em alguns estados, situação que começa a se acirrar com o início, no último dia 19, do horário eleitoral na televisão.
No Rio, onde o petista Alessandro Molon já ameaçou recorrer à Justiça caso algum adversário usasse imagens do presidente na campanha, Marcelo Crivella (PRB), Jandira Feghalli (PC do B) e Eduardo Paes (PMDB) vinculam-se ao presidente em discursos, slogans e sites oficiais.
Em São Gonçalo, na região metropolitana fluminense, a Justiça Eleitoral proibiu o imagens de Lula veiculadas no programa eleitoral da prefeita Aparecida Panisset, candidata à reeleição pelo PDT.
A representação, movida pela campanha do petista Altineu Côrtes, foi aceita com base em resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de fevereiro, que veda a participação na propaganda partidária de integrantes de partidos que não estejam na coligação.
Bahia
Com base na mesma resolução, no entanto, a Justiça Eleitoral em Salvador rejeitou ação do petista Walter Pinheiro e liberou o uso da imagem do presidente na campanha do prefeito João Henrique Carneiro (PMDB), candidato à reeleição.
"O nosso processo de identidade com Lula e governador Jaques Wagner vai além do simples uso da imagem. Não cheguei agora no PT, estou desde a construção do partido", afirma Walter Pinheiro, para quem "a sociedade vai saber separar o que é verdadeiramente parceria".
O prefeito João Henrique cita diversas parcerias com o governo federal para justificar a participação do presidente em sua campanha. "As grandes intervenções da prefeitura na cidade são em parceria com o governo federal. Como não falar no Lula? Seria até uma injustiça de minha parte."
Piauí
Em Teresina (PI), imagens do tucano Silvio Mendes, que concorre à reeleição, ao lado de Lula e do governador Wellington Dias (PT) no horário eleitoral, provocaram revolta na campanha do petista Nazareno Fonteles, que também recorreu à Justiça pela proibição.
Para a assessoria jurídica do tucano, as imagens foram mencionadas "apenas para demonstrar as parcerias e o bom relacionamento que a atual administração tem como os governos federal e estadual".
Ceará
Em Fortaleza, a estréia do programa eleitoral da senadora Patrícia Gomes (PDT), em que aparece ao lado do presidente Lula, também levou a campanha da prefeita Luizianne Lins (PT), que tenta a reeleição, à Justiça Eleitoral.
Na ação, a coligação que apóia a petista pede a remoção não só das imagens do presidente, como do deputado Ciro Gomes e do seu irmão, o governador Cid Gomes, ambos do PSB, partido que não está na aliança de Patrícia.
Ainda não notificada, a assessoria jurídica da pedetista afirma que o que foi levado ao ar são fotografias que contam vida parlamentar da senadora Patrícia, que já que ocupou a vice-liderança do governo no Senado entre 2003 e 2006.
Pernambuco
Candidato pelo governista PSC à prefeitura de Recife, o deputado Carlos Eduardo Cadoca diz se sentir "confortável" em se aliar a Lula e ao governador Eduardo Campos (PSB) durante a campanha.
"Faço parte da base do governo desde 2006, atendendo a um chamamento de um governo de coalizão. Não usamos ainda imagens nem de Eduardo [Campos] nem de Lula [na campanha]. Estamos vendo o momento em que vamos usar", disse.
A declaração de Cadoca, no entanto, causa certo desconforto na campanha do prefeito João da Costa (PT), cuja campanha trabalha no sentido de mostrar que ele é o único candidato do presidente no Recife.
"Houve a liberação política do presidente [do uso de sua imagem] por parte dos aliados. Mas juridicamente a lei veta a participação de um integrante de um partido no programa de candidato de outro fora da coligação. Politicamente estamos trabalhando para não confundir o eleitorado", diz a coordenadora da campanha de Costa, Carla Menezes.
Rio Grande do Sul
A assessoria da deputada Manuela DÁvila (PC do B) cita as ligações históricas da sigla com o PT para explicar a presença de Lula no discurso e até agora não em imagens da campanha pela Prefeitura de Porto Alegre.
"Em 1989, o PC do B foi o único partido aliado ao lado de Lula. Desde esse ano, sempre se aliou a Lula nas campanhas a presidente. Temos responsabilidade e comprometimento grande, reconhecido por ele, para que chegasse à presidência", diz o presidente do PC do B no estado, Alberto Frasson.
Aparentemente alheia à disputa para ter o mais importante cabo eleitoral do país na sua campanha, a deputada Maria do Rosário (PT) diz confiar na "associação direta" de sua imagem à de Lula.
E se os adversários usarem imagens de Lula na campanha? "Se usarem, vai caber ao eleitor fazer a diferença. Se for um uso não coerente com a aliança, vai parecer uma questão superficial, vou procurar esclarecer o eleitor. Mas não me oponho", diz.