Se um desavisado em política desembarcasse no Brasil depois de meses ausente, ficaria confuso ao ver candidatos da oposição cedendo aos encantos da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos jornais, rádio e televisão.

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Até mesmo oposicionistas de vulto, como os candidatos municipais Gilberto Kassab (DEM) e Geraldo Alckmin (PSDB), preferem burlar a identidade partidária a correr o risco de perder votos nas eleições municipais.

Parte dessa "fascinação" é atribuída ao índice histórico de aprovação de Lula, na casa dos 64 por cento, segundo recente pesquisa do Datafolha.

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"Nenhum candidato quer criticar abertamente o presidente porque pode ser castigado nas urnas", afirmou à Reuters nesta sexta-feira o analista político David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB).

Em São Paulo, onde o reduto de inimigos políticos do presidente é tradicionalmente maior, nem mesmo o principal adversário de Lula em 2006 e o hoje grande aliado do governador José Serra (PSDB) resistiram.

"Com o Lula, tudo bem. O problema é o PT", ressalta o locutor do programa da campanha do tucano Geraldo Alckmin que, derrotado nas urnas naquele ano, costumava criticar o "descalabro ético" promovido pela administração federal.

Já o prefeito paulistano, Gilberto Kassab (DEM), colocou Lula no patamar dos "maiores políticos do Brasil", ao lado dos oposicionistas Serra e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

"Ele tem feito uma boa gestão", justificou o democrata, na última quinta-feira, em sabatina à Folha de S. Paulo.

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Kassab tenta permanecer no comando da capital paulista. Apesar de integrar o DEM, enfrenta um processo na Justiça Eleitoral por ter usado a expressão "o presidente já está junto", numa alusão a um suposto apoio do petista.

Para o juiz do caso, a campanha tem a "intenção de iludir e viciar a avaliação do eleitor".

O candidato tucano à reeleição em Cuiabá, Wilson Santos, usou a irmã do presidente como cabo eleitoral. Em seu programa de TV, Ledinalva da Silva dos Santos compara o aliado ao parente por parte de pai na ajuda aos pobres.

Tapas e beijos

Até quem já ameaçou dar uma "surra" no presidente andou mostrando arrependimento na campanha municipal.

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Hoje postulante à prefeitura de Salvador, o deputado democrata Antônio Carlos Magalhães Neto justifica o rompante do passado.

"Reagi de forma exagerada, é verdade. Mas amadureci", alega em seu programa eleitoral de TV.

Marqueteiros têm recomendado a seus candidatos o comportamento de não bater em Lula com base em pesquisas de opinião pública. A estratégia é ainda mais reforçada nos municípios do Nordeste, onde a popularidade do presidente alcança patamares ainda mais expressivos.

"Em princípio isso é inusitado e contraditário, mas na lógica eleitoral eles têm razão", acrescentou David Fleischer.

O plano de não atacar o presidente, no entanto, enfraquece o discurso da oposição, interessada em retomar o poder nas eleições de 2010.

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Uma outra explicação para tamanha blindagem é a relação do governo federal com estados e municípios. Em seu primeiro mandato, Lula investiu na aproximação com prefeitos. Criou um departamento no âmbito da presidência especialmente para atender as demandas das cidades e procurou estabelecer uma ligação direta com o Executivo federal.

"O grau de dependência do governo é tal que hoje os governadores e prefeitos perderam a condição de fazer oposição a Lula", afirmou o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA). (Reportagem adicional de Ana Paula Paiva).