Lendas
Confira alguns dos mitos que envolvem as pesquisas eleitorais:
Quanto maior a amostra, melhor a pesquisa
O mais importante nas pesquisas eleitorais é a definição da amostra, que ela forneça uma representação adequada da população. Além disso, também é necessário observar o local em que as entrevistas são realizadas e a qualidade da formação dos entrevistadores e do questionário.
Pesquisa decide voto
Não existe nada que comprove que os eleitores tendem a votar no primeiro colocado nas pesquisas eleitorais. Pelo contrário, levantamentos já realizados a respeito disso mostraram que menos de 5% do eleitorado afirmou que poderia levar as pesquisas em consideração para decidir o voto.
Porcentual de indecisos não influencia
Quando há um número muito grande de indecisos, isso pode causar imprecisões no resultado das pesquisas. Isso porque, com a abstenção, não é possível ter um universo completo para avaliar e as pesquisas não conseguem prever qual será o destino do voto da massa de indecisos.
Fonte: Antônio Lavareda, Sociólogo; Genilda Alves de Souza, professora e estatístida da Faculdade Cásper Líbero; e Murilo Hidalgo, diretor do Instituto Paraná Pesquisas.
Mal foi encerrada a apuração de votos no último domingo, perdedores e alguns vencedores foram à imprensa reclamar da diferença entre o resultados das eleições e os dos levantamentos divulgados pelos institutos de pesquisa, o que poderia ter influenciado o voto dos indecisos. E, de fato, vários candidatos tinham razão: das 17 pesquisas de boca de urna realizadas pelo Ibope no último domingo a que a reportagem teve acesso, em 7 houve pelo menos um porcentual de votos estimado cujo resultado real estava fora da margem de erro.
Foram as pesquisas de boca de urna das eleições para o governo de seis estados e a da Presidência da República que erraram os resultados.
Na sucessão presidencial, o Ibope indicou que a candidata do PT, Dilma Rousseff (PT), teria 51% das intenções de voto, contra 30% de José Serra (PSDB) e 18% de Marina Silva (PV). O resultado final foi 46,9% para Dilma, 32,6% para Serra e 19,33% (PV) para Marina. A diferença entre o resultado de Dilma nas urnas e o que apontava a boca de urna foi de aproximadamente quatro pontos porcentuais. A margem de erro prevista era de apenas dois pontos porcentuais.
Já no Paraná, a principal reclamação foi em relação às pesquisas sobre a disputa pelo Senado. A pesquisa Ibope divulgada um dia antes das eleições (que não era, portanto, de boca de urna) mostrava o ex-governador Roberto Requião (PMDB) 13 pontos porcentuais à frente do deputado Gustavo Fruet (PSDB) na disputa pela segunda vaga de senador do Paraná. Nas urnas, a diferença entre os dois foi de menos de 200 mil votos, com Requião 1,74 ponto porcentual à frente de Fruet.
Também na disputa pelo Senado, mas em São Paulo, os institutos não previram a vitória de Aloysio Nunes (PSDB), que ficou em 1.º lugar na disputa. Ele aparecia nos levantamentos em 3.º.
Só na boca de urna
De acordo com o sociólogo Antônio Lavareda, só nos casos em que houve divergência fora da margem de erro nas pesquisas de boca de urna com resultado da votação é possível dizer que os institutos erraram. "A pesquisa de boca de urna não mede mais tendências em si, mas a ação [o voto]", comenta.
Essa diferença pode ocorrer por diversos fatores: questionários mal-elaborados, problemas no trabalho de campo e na definição da amostra. Mas a pesquisadora Genilda Alves de Souza, professora de estatística da Faculdade Cásper Líbero, ressalta que erros amostrais e problemas de questionário não são a regra dos grandes institutos. Para o diretor do Instituto Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, a maior dificuldade encontrada hoje pelos institutos é contratar mão de obra de qualidade para fazer as entrevistas. "Hoje a profissão de pesquisador não é nem mesmo formalizada."
Ele, porém, sai em defesa das pesquisas. Lembra que os acertos foram muito maiores que os erros e que é preciso destacar que as pesquisas são apenas um retrato do momento em que foi feito o levantamento. Isso também é reforçado por Genilda e Lavareda. Os três são unânimes em dizer que as pesquisas não podem ser encaradas como um prognóstico da realidade. O importante, de acordo com eles, é que as pesquisas detectem a tendência da corrida eleitoral.
"Os números são apenas tendências. O problema é que a imprensa toma o número estatístico como infalível, como imutável", observa Genilda. "É preciso observar uma série de resultados para acompanhar a tendência."
O argumento de que as pesquisas são apenas um diagnóstico do momento também é usado pela diretora-executiva do Ibope Inteligência, Márcia Cavallari. "A pesquisa é um momento, mas aquele momento não é congelado", comenta.
Indecisos
Outro ponto que pesa contra a precisão dos resultados das pesquisas é o alto índice de eleitores indecisos, principalmente no caso de eleições para o Senado como a deste ano, em que duas vagas estavam em disputa. "Esse voto para o Senado é o que as pesquisas têm mais dificuldade para medir. Porque é o objeto eleitoral menos relevante para o eleitor, o mais suscetível a mudanças", diz Lavareda. No Paraná, a pesquisa Ibope divulgada na véspera da eleição mostrava que 18% dos eleitores ainda não tinham definido o seu segundo voto para o Senado e 10% não sabiam em quem votar.
Influência dos levantamentos sobre o eleitor é limitada
A influência das pesquisas eleitorais na definição do voto é muito menor do que se costuma imaginar. O suposto poder dos levantamentos eleitorais em mudar o voto do eleitor para fazê-lo escolher quem está na frente o chamado voto útil é normalmente usado como argumento pelos candidatos perdedores para reclamar dos resultados das pesquisas, principalmente quando elas indicam números diferentes dos que saem das urnas.
Apesar de a reclamação ser grande, a pesquisadora Genilda Alves de Souza, professora de estatística da Faculdade Cásper Líbero, diz que "é muito pequena, ou quase nenhuma," a influência das pesquisas na decisão das pessoas. "O eleitor decide o seu voto a partir de conversas com amigos, familiares e do que vê na mídia. Ele consulta o que dizem as pesquisas, mas elas não são um elemento de decisão", completa Genilda, que está realizando um trabalho a respeito da influência da publicação das pesquisas eleitorais na intenção de voto durante o proceso eleitoral.
De acordo com Genilda, em 1994 o Datafolha tentou medir qual seria a influência das pesquisas no voto. Nesse levantamento, entre 3% e 4% do eleitorado afirmou que poderia levar os levantamentos em consideração. "Se as pesquisas são o que determina o vitorioso, não teria a inversão dos quadros eleitorais e muito menos mudanças, como a que determinou o segundo turno no país", comenta a professora.
Na avaliação do sociólogo Antonio Lavareda, porém, existe o chamado voto estratégico em que as pesquisas são utilizadas como parâmetros para o eleitor. No entanto, isso não funcionaria da maneira como a maioria dos políticos pensa: que o primeiro colocado tende a atrair mais votos. De acordo com Lavareda, o que pode acontecer é o contrário. Ao perceber que o segundo ou terceiro colocado têm chances de virar o jogo, parte do eleitorado pode passar a apostar num desses concorrentes.
Aparentemente, foi a tentativa de evitar que essa situação acontecesse na eleição estadual do Paraná que teria levado a campanha do candidato tucano Beto Richa (PSDB) a pedir à Justiça Eleitoral a proibição da divulgação de pesquisas eleitorais nas duas últimas semanas da campanha estadual. Embora a equipe de Richa negue, a medida só começou a ser tomada pela campanha do tucano após os institutos passarem a detectar uma aproximação do rival Osmar Dias (PDT).
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