Serra e Dilma se cumprimentam com beijos, antes do início do debate: foi o único momento de cordialidade entre os dois, numa noite em que não faltaram ataques mútuos| Foto: Nélson Almeida/AFP

OPINIÃO: Discussão vira confronto de Lula x FHC

Os nomes de Lula e de Fernando Henrique Cardoso foram pronunciados algumas poucas vezes durante o debate da Band TV. Mas, no fundo, durante todo o tempo a discussão que se travou entre Dilma Rousseff e José Serra foi sobre os governos federais de que eles participaram.

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A questão do aborto, que tem colocado a candidata a presidente Dilma Rousseff (PT) em uma saia-justa, por causa de seu posicionamento contraditório sobre o tema, foi um dos principais assuntos do primeiro debate do segundo turno da eleição presidencial, realizado ontem à noite pela Band TV. Em um clima bastante tenso, o assunto foi mencionado por diversas vezes e foi o tema da primeira pergunta da petista a José Serra (PSDB). Ela acusou a campanha do adversário de calúnia, injúria e difamação, e ressaltou, por pelo menos duas vezes, que o tucano é alvo de uma ação criminal por afirmar coisas a respeito dela sem provas.

"Tenho visto o seu vice, Índio da Costa... a única coisa que ele faz é criar e organizar grupos, até aproveitando a fé das boas pessoas, para me atingir, em questões religiosas. Essa forma de campanha que usa o submundo é correta?", foi a pergunta de Dilma.

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Na resposta, Serra disse que é "solidário" a quem sofre injúrias, pois ele passa pela mesma situação. Ele jogou a responsabilidade sobre as cobranças que Dilma está sofrendo sobre ela própria. "A população cobra conhecimento. Querem saber qual foi a sua história, o que fez na vida pública. Vocês [se referindo a Dilma e ao PT] confundem sempre verdades e reportagens com ataques, com coisas orquestradas", afirmou. Em seguida, lembrou que em um dos debates do primeiro turno, em meados de agosto, a candidata afirmou que era a favor da descriminalização do aborto e, agora, está dizendo que é contra. "As pessoas cobram coerência", disse ele.

Dilma respondeu em tom agressivo. "Acho que você deve ter cuidado para não ter mil caras. Na última calúnia contra mim, disse que minha campanha tinha aberto sigilos [fiscais]. Hoje, você é réu de [uma ação] por calúnia e difamação. Se cuida [Serra], porque você pode estar dando os primeiros passos [para cair] na questão da Ficha Limpa."

Por várias ocasiões, Dilma tentou voltar ao tema e mostrar que Serra também se contradiz a respeito do aborto. Ela lembrou que o tucano, quando era ministro da Saúde, foi responsável pela norma técnica que efetivamente permitiu que o aborto fosse realizado pelo sistema público de saúde, nos casos previstos em lei (estupro e risco à vida da grávida). Dilma também reclamou por duas vezes de acusações que teriam sido feitas pela esposa do tucano, Monica Serra (ela teria dito que a petista era "a favor de matar criancinhas"). E voltou a dizer que a campanha de Serra estava criando um clima de ódio no Brasil, país marcado pela tolerância.

Privatizações

Acusações mútuas sobre a privatização de empresas estatais também marcaram o debate. En­­­­quanto Dilma usou declarações de tucanos, como Luiz Carlos Men­­­donça de Barros e David Zylbers­­­tajn, na tentativa de vincular Serra à ideia de privatizar a Petrobras, Serra rebateu dizendo que o governo Lula reduziu a participação nacional no controle do Banco do Brasil, além de ter vendido dois bancos públicos.

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A candidata do PT foi a primeira a abordar o tema. Em sua pergunta, quis saber de Serra se ele concordava com a gestão da Petrobras no governo Fernando Henrique, quando a estatal teria reduzido a participação acionária da população e arrecadado pouco.

"É só chegar a campanha e o PT volta sempre a essa história. O que vocês fazem é uma coisa. O que dizem é outra. O PT colocou o Ban­­­co do Brasil na Bolsa de Nova York e aumentou a participação do capital privado. Vocês reclamam que foram vendidas as ações da Pe­­­trobras, mas o governo Fernando Henrique continuou com o controle", respondeu o candidato tucano.

Os dois também travaram uma discussão acalorada sobre segurança. Serra falou sobre a onda de arrastões recentes no Rio de Janeiro e questionou Dilma por ela ser contra a proposta de criar um Ministério da Segurança. A petista não deu uma resposta clara sobre o tema e preferiu ressaltar a parceria da Força Nacional, formada por policiais civis e militares dos estados.

Serra criticou essa ação federal, prometendo criar uma Guarda Nacional com policiamento fixo, que não dependa dos estados. Posteriormente, quando o tema voltou à tona, Dilma disse que a criação de um ministério não resolve o problema, pois o policiamento, o sistema penitenciário e a Justiça devem caminhar juntos, para haver mais diálogo.

Quando questionado sobre a continuidade do programa Minha Casa, Minha Vida, Serra se disse surpreso com o tom agressivo da oponente. "É todo um treinamento. Ela está se mostrando como realmente é." O tucano ainda questionou Dilma sobre a falta de investimentos em infraestrutura, portos e aeroportos. Dilma afirmou que os aeroportos estão lotados porque as pessoas estão com mais dinheiro para viajar.

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Colaborou Caroline Olinda.