A candidata da PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, respondeu ontem a um artigo publicado no site da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), assinado por dom Luiz Gonzaga Bergonzini, bispo de Guarulhos (SP), recomendando o boicote à candidatura dela por causa da defesa do aborto nos casos permitidos por lei. Em entrevista a uma rádio pernambucana, concedida ontem de manhã, Dilma afirmou que a posição de dom Luiz não representava a da CNBB como um todo. "Até onde eu sei não é a posição da CNBB", disse. A candidata avaliou que o aborto não deve ser tratado como uma questão religiosa, mas de saúde pública. Ela defendeu que o governo cumpra a lei e faça o procedimento em estabelecimentos de saúde públicos nos casos estabelecidos por lei estupro e risco de morte para a mãe. "O que nós defendemos é o cumprimento estrito da lei, que prevê casos em que o aborto deve ser feito e provido pelo Estado", disse, ressaltando que mulheres com melhores condições fazem abortos em clínicas, enquanto as menos favorecidas acabam recorrendo a técnicas perigosas, como o uso de agulhas de tricô.
"Não conheço nenhuma mulher que ache aborto uma coisa maravilhosa. Não se deve tratar a questão como religiosa, mas de saúde pública", afirmou. "[O bispo] parte de pressuposto incorreto. Tanto eu quanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não somos pessoas que acham que o aborto é algo para se falar que se defende. O aborto é uma violência contra o corpo de mulher."
O texto, intitulado "Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus", foi publicado na segunda-feira, mas foi retirado ontem do site da CNBB. A íntegra do documento, datado de 19 de julho, também foi bloqueado no site da Diocese de Guarulhos, onde continua anunciado na página inicial. No artigo, dom Luiz diz não pertencer a nenhum partido, mas ressalta que, como bispo, "denunciamos e condenamos como contrárias às leis de Deus todas as formas de atentado contra a vida, dom de Deus, como o suicídio, o homicídio, assim como o aborto, pelo qual, criminosa e covardemente, tira-se a vida de um ser humano, completamente incapaz de se defender". "Já afirmamos muitas vezes e agora repetimos: não temos partido político, mas não podemos deixar de condenar a legalização do aborto", diz o texto. "Isto posto, recomendamos a todos verdadeiros cristãos e verdadeiros católicos a que não deem seu voto à senhora Dilma Rousseff e demais candidatos que aprovam tais liberações, independentemente do partido a que pertençam."
O bispo disse em entrevista ao portal G1 que orientará os padres de Guarulhos a pregar nas missas o voto contra a candidata do PT.
Esquerda tenta mudar regra eleitoral para impedir maioria conservadora no Senado após 2026
Falas de ministros do STF revelam pouco caso com princípios democráticos
Sob pressão do mercado e enfraquecido no governo, Haddad atravessa seu pior momento
Síria: o que esperar depois da queda da ditadura de Assad
Deixe sua opinião