Consequências

Dutra defende expulsão de culpados

Agência Estado

O presidente do PT, José Eduardo Dutra, afirmou ontem que se houve de fato acesso imotivado por parte do analista tributário Gilberto Souza Amarante aos dados fiscais do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, ele terá que arcar com as consequências, sendo objeto de inquérito pela Receita e, caso seja confirmado o ilícito, a exclusão de Amarante dos quadros do partido.

Dutra disse que as primeiras informações obtidas com o presidente do PT de Minas, Reginaldo Lopes, são de que de fato o analista é filiado ao PT, embora não seja conhecido pelo presidente do PT em Arcos e que, por isso, não deve ser militante do partido.

"Ele é analista da Receita. Em se comprovando que houve acesso imotivado, além de responder a processo na Receita ele será objeto de um processo de ética do partido, porque o PT não concorda com esse tipo de prática, se choca frontalmente com nossos estatutos e nosso código de ética. Em se comprovando que ele acessou isso de forma imotivada ele será excluído dos quadros do PT", disse Dutra, que desvinculou o episódio do processo eleitoral. "Nenhum de nós o conhece, nem os dirigentes do PT de Arcos o conhecem e estamos aguardando mais informações a respeito de quem é o Gilberto", acrescentou, lembrando que o PT tem 1,2 milhão de filiados.

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O analista tributário Gilberto Souza Amarante, que trabalha para a Receita Federal no interior de Minas Gerais e acessou dez vezes os dados fiscais do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, é filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT) desde 2001. De acordo com os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Amarante é um dos 276 filiados do PT que votam na cidade de Arcos, vizinha ao município mineiro de Formiga, onde o analista acessou, no dia 3 de abril de 2009, o CPF de Eduardo Jorge dez vezes em menos de um minuto.

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A identificação de Amarante foi feita pelo jornal O Estado de São Paulo com base no número do título de eleitor e do registro no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) do analista tributário. A situação do registro de filiação de Amarante é classificada como "regular" pelo sistema do TSE. O servidor do Fisco vota na 18.ª zona eleitoral, na seção 35, que fica na Casa de Cultura de Arcos. A agência da Receita Federal responsável pela região do município de Arcos é sediada em Formiga e está subordinada à Delegacia de Divinópolis, a 124 quilômetros da capital Belo Horizonte (MG).

Eduardo Jorge, que tem domicílio fiscal no Rio de Janeiro, não tem negócios nem imóveis na cidade mineira de Formiga, o que reforça a suspeita de violação de seus dados pelo analista. Os acessos feitos a partir do computador no interior de Minas aconteceram seis meses antes do início da série de violações de sigilos fiscais de dirigentes tucanos e da filha do candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra.

O caso da violação dos dados fiscais de EJ e de outras pessoas ligadas ao PSDB, como Verônica Serra, vem sendo explorado na propaganda eleitoral de José Serra. O PT nega envolvimento em irregularidades.

Explicações

O vice-presidente do PSDB afirmou que pedirá à Receita Federal que informe a razão das consultas ao seu CPF. Além de Formiga, EJ teve dados de seu CPF consultado em outras 22 ocasiões, de acordo com a investigação da Corregedoria da Receita.

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Os dados fiscais de Verônica foram obtidos pelo contador Antonio Carlos Atella Ferreira, que era filiado ao PT quando usou uma procuração forjada para acessar os dados da filha do ex-governador de São Paulo. O PT afirma que o pedido de filiação de Atella não foi concluído, mas o Tribunal Regional Eleito­ral (TRE) confirmou o registro da filiação.

Os acessos aos dados de Eduardo Jorge pelo analista de Formiga foram identificados pelo Serviço Federal de Pro­cessamento de Dados (Serpro), que a pedido da Receita Federal fez uma "Apuração Especial", relacionando todas as consultas envolvendo o CPF do vice-presidente do PSDB no período de 2 de janeiro a 19 de junho de 2009.