A educação deixou de figurar no fim da lista de interesses dos eleitores brasileiros no momento do voto. Uma pesquisa divulgada nesta terça-feira (9) pelo Ibope Inteligência, em parceria com o Instituto Montenegro, a Fundação SM e o Movimento Todos Pela Educação, mostra que nas próximas eleições os brasileiros estarão mais atentos às propostas relacionadas à educação básica pública. A área está entre as quatro consideradas mais problemáticas e foi a que registrou maior variação porcentual, de 87%, em relação à última sondagem, feita há quatro anos. Em 2006, a educação era importante para apenas 1 em cada 10 brasileiros e ocupava o 7.º lugar entre os assuntos prioritários. Agora está entre as quatro áreas que merecem atenção especial dos próximos governantes. Do total de eleitores pesquisados, 28% acreditam que a educação é um dos principais problemas que o país enfrenta. Porém, quando os eleitores foram indagados sobre qual o meio mais eficaz para reduzir as desigualdades do país, a educação foi apontada como a solução para 75% dos entrevistados.
De acordo com o cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo (FGV-SP) Fernando Abrucio, a educação está entre os assuntos que começam a entrar na área da decisão do voto. "É um fenômeno novo no Brasil, pois nas pesquisas anteriores não aparecia em lugar de destaque. É um tema em ascensão na agenda pública, mas o Brasil ainda não coloca a educação em seu devido lugar", avalia. De acordo com Abrucio, três fatores explicam este aumento pelo interesse na temática educacional: a articulação da sociedade, a competitividade econômica e o aumento dos anos de escolaridade dos brasileiros, o que acaba gerando cidadãos mais críticos.
Na opinião da diretora-executiva do Movimento Todos Pela Educação, Priscila Cruz, a pesquisa mostra que o eleitor brasileiro passa a pensar mais no longo prazo. "Deixou de se preocupar apenas com os problemas que estão batendo à porta, como fome, miséria, saúde e segurança pública", diz. De acordo com Priscila, o Todos Pela Educação e outras organizações da sociedade civil irão elaborar uma carta-compromisso para que os candidatos deste ano se comprometam com as políticas públicas educacionais brasileiras. "Queremos sensibilizá-los para a causa da qualidade, que tem de melhorar", ressalta.
A educação vai mal?
No Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), realizado a cada três anos entre os países participantes da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil ocupa as últimas posições do ranking nas três áreas avaliadas: Ciências, Português e Matemática. Mesmo com o resultado ruim no cenário internacional, 34% dos entrevistados consideram como ótima ou boa a educação básica pública no Brasil, 44% como regular e 28% como ruim ou péssima.
Para a diretora-executiva do Instituto Paulo Montenegro, Ana Lúcia Lima, a pesquisa indica que o eleitor está mais crítico e conhecendo melhor assuntos restritos às áreas educacionais. Ela aponta uma queda de dois pontos porcentuais entre os brasileiros que não souberam responder quando indagados sobre os exames que avaliam a educação básica. Do total, 70% dos entrevistados acreditam que as avaliações externas ajudam a melhorar a qualidade da educação.
Os entrevistados também deram sua opinião sobre a qualidade da educação básica pública e sobre os pontos fortes e fracos do sistema educacional brasileiro, e informaram quais as entidades e pessoas que consideram como os principais agentes para a melhoria da qualidade do ensino. A pesquisa foi realizada com 2.002 eleitores com 16 anos ou mais de idade, de todas as regiões do país, em capitais e cidades do interior, em maio deste ano. A margem de erro é de 2 pontos porcentuais para mais ou para menos.
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