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Ferramenta

A maioria das postagens aparece de seis formas:

- Agradecimentos: "obrigado, fulano" ou "bom dia, fulano, e obrigado".

- Retweets: termo do microblog quando se ‘passa adiante’ algo escrito por outros usuários. Geralmente são autopromocionais.

- Divulgação de agenda ou propostas: enviado a todos os eleitores, divulgação do que o candidato fez ou pretende fazer, do site ou de coisas ligadas à campanha.

- Comentários: aleatórios, não relacionados diretamente com eleição ou com a campanha dos candidatos.

- Debate com eleitores: mensagens mais elaboradas do que o padrão "certamente, você tem razão, obrigado", em que há troca de ideias e conteúdo.

- Conversa com eleitores: interação superficial, com apresentação de propostas genéricas.

  • Veja como estavam divididas as 800 mensagens postadas pelos candidatos

A expectativa que existia no início do período eleitoral deste ano, de que a rede de microblog Twitter se tornaria um instrumento que permitiria aprofundar a troca de ideias e de propostas entre candidatos e eleitores, não se concretizou. Apesar de existir alguns casos isolados de maior interatividade, o principal uso que vem sendo feito do Twitter por políticos é o de mobilizar militância política e divulgar agendas de campanha. É o que se constata ao acompanhar as publicações que políticos fazem com a ferramenta on-line, a poucas semanas do dia da votação.A reportagem da Gazeta do Povo acompanhou 400 mensagens publicadas no Twitter pelos dois principais candidatos (200 cada) à Presidência da República e ao governo do estado, para entender qual é o uso que políticos aspirantes a cargos no Poder Executivo, que possuem maior estrutura de campanha, estão fazendo dessa ferramenta social. A coleta de dados aconteceu entre os dias 2 e 17 de setembro. As publicações – ou "tweets" (do verbo "to tweet", em inglês, "piar") – feitas por Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) e por Beto Richa (PSDB) e Osmar Dias (PDT) foram classificadas em seis categorias: agradecimentos, "retweets", divulgação de atividades e propostas, comentários, debate com eleitores e conversa com eleitores. Embora essa classificação possa parecer um tanto aleatória, ela permite concluir que o Twitter é basicamente usado como instrumento de marketing e de divulgação das campanhas eleitorais.

Das 200 mensagens publicadas, os presidenciáveis José Serra e Dilma Rousseff não publicaram nada que pudesse sugerir estarem debatendo com eleitores pelo microblog. Já entre os candidatos a governo do estado, nas 200 publicações analisadas, Osmar Dias publicou 11 mensagens (5,5%) que caracterizaram debate de ideias e propostas, enquanto Beto Richa publicou nove (4,5%). Os quatro candidatos utilizaram a ferramenta para divulgação de propostas ou suas agendas de campanha com índice acima de 30% do total de mensagens publicadas.

Os candidatos usam ferramenta on-line para permanecerem próximos de suas militâncias. É o que se conclui ao analisar a quantidade de mensagens publicadas que se inserem em categorias como "Conversa com eleitores" e "Agradecimentos". A categoria "Conversa com eleitores" refere-se a mensagens que são destinadas a usuários específicos, cujo conteúdo não caracteriza debate de ideias. Em geral, são respostas a militantes ou simpatizantes de suas candidaturas. Beto e Osmar publicaram um porcentual respectivamente de 47,5% e 28,5% do total de mensagens de "Conversa com eleitores". Entre os dois presidenciáveis, o índice ficou em 29% para Serra e 12,5% para Dilma.

Já na categoria retweets, estão as mensagens de outros usuários que são reproduzidas pelos próprios políticos. Em boa parte, são mensagens sobre si próprios ou sobre trabalhos que realizaram. Nesse item, Osmar é o que mais usou a ferramenta no período analisado. Foram 28,5% das mensagens publicadas para reproduzir postagens de políticos ou eleitores.

Apesar de ser uma novidade nessas eleições, ampliando interação entre candidatos e eleitores, o Twitter não se efetivou como espaço para troca de ideias. O diretor de Projetos da ONG Transparência Brasil, Fabiano Angelico, afirma que o pouco debate entre candidatos e eleitores em redes sociais decorre, em parte, porque os cidadãos comuns são vistos apenas como receptores de informações e não como interlocutores políticos. "Ao longo do tempo as redes vão se formando, ganhando força e consistência. Talvez o debate se amplie e envolva as instituições, mas não vamos ver muita interlocução com líderes políticos", afirma Angelico. Segundo ele, a dificuldade de interação com políticos em redes sociais ocorre porque, em sua maioria, os políticos são figuras tradicionais, acostumados com a velha forma de fazer política.

Já o cientista social Sérgio Amadeu, pesquisador de redes sociais, considera que o Twitter acaba sendo usado pelos políticos mais como um palanque do que para a troca de ideias com eleitores. Ele lembra que para usar a ferramenta a fim de interagir com outros usuários gasta-se muito tempo. "E tempo é uma coisa que sabemos que os candidatos não têm". Amadeu acredita que o Twitter vai ser importante após as eleições. "As pessoas vão continuar seguindo os políticos eleitos. E eles vão ter que saber o que fazer com seus apoiadores".

Ilusão perdida

Embora as redes sociais facilitem a interação entre os cidadãos, dificilmente isso resultará em participação efetiva da população no debate público. Essa é a avaliação do pesquisador de Ciência Política e Direito Cons­titucional, Carlos Strapazzon. "Minha impressão é que a situação não difere do que acontecia na Ágora grega. É uma ilusão imaginar que aquelas reuniões coletivas tinham tantos debatedores de boa qualidade". Em outras palavras, as redes on-line permitem o debate, mas isso não significa que ele irá efetivamente ocorrer.

Strapazzon lembra que mais debate pode não significar que haverá maior qualidade. "Ainda que as condições de acesso ao debate sejam ampliadas, não significa que teremos melhores discussões. Mais gente vai dizer sim e não. Mas colocar uma crítica, ponderar uma razão, contestar um fato, isso é para poucos, que, normalmente, têm condições mais especializadas para falar e que, além disso, estão dispostos a se expor".

Colaborou Elisa Lopes, especial para a Gazeta do Povo.

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