Em um país de distâncias continentais, definir os compromissos eleitorais dos candidatos à Presidência da República é um desafio que domina diariamente a atenção de 33 profissionais nas campanhas de Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV).
Para saber detalhes desse trabalho, crucial na disputa pelo voto, o G1 conversou com os coordenadores de agenda de cada campanha.
Semanalmente, centenas de convites para palestras ou reuniões com entidades de classe, universidades, grupos empresariais e aliados políticos chegam aos comitês de campanha de petistas, tucanos e verdes.
Nesses 47 dias de disputa pelo Palácio do Planalto, regiões populosas, como o Sudeste, redutos eleitorais de aliados importantes ou regiões do país que tenham interesse direto com alguma proposta de campanha concentraram boa parte da atenção dos candidatos. Cada presidenciável, no entanto, tem um método próprio na hora de definir os compromissos.
O staff de José Serra, por exemplo, conta com três assessores que são diretamente responsáveis por receber, selecionar os compromissos que poderão ser aceitos e responder com agradecimentos os que serão recusados.
Todas as segundas-feiras à tarde, um grupo de sete integrantes da campanha tucana se reúne sob a coordenação da senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), para fazer o planejamento da agenda de Serra. Todos os compromissos escolhidos nessa fase são repassados ao próprio candidato, que dá a resposta final sobre os eventos que irá comparecer.
"O grupo analisa todas as solicitações que existem e analisa de acordo com os interesses da campanha. As regiões que o candidato não foi, onde ele já foi... Aí são discutidas as possibilidades e tudo é repassado para o candidato e ele [Serra] decide", afirma a senadora.
As necessidades políticas [da presença de Serra em determinado lugar] de cada momento também influenciam na agenda, explica Marisa Serrano.Segundo ela, os convites que chegam ao QG tucano preenchem cerca de 40 folhas de papel toda semana. Nenhuma solicitação da presença do candidato fica sem resposta, disse ela, e não há determinação prévia para recusar convites de determinados setores da sociedade ou regiões do país.
"Advogados, professores, médicos, representantes da indústria de máquinas pesadas, laboratórios, universidades federais, enfim, todos os convites são considerados e analisados. Não tem uma determinação prévia para negar nenhum convite. O que não dá para aceitar, a gente sempre responde e agradece."
Contato com eleitores
Um grupo de 16 assessores cuida da agenda de Dilma Rousseff, que sempre é definida em conjunto com os integrantes da coordenação política da campanha petista. A exemplo de Serra, Dilma também é quem dá a palavra final sobre os locais a visitar.
Segundo a assessoria de Dilma, o contato com eleitores, passeatas e agendas que possibilitem a apresentação do programa de governo são os critérios mais utilizados para aceitar convites e definir a agenda. A composição de alianças nos estados e a conjuntura política são outros fatores que influenciam na recusa ou aceitação de convites.
Grupos empresariais e representantes de setores da economia interessados em participar de eventuais projetos do novo governo também assediam os coordenadores petistas para conseguir um espaço na agenda de Dilma. O G1 tentou contato com o coordenador de agenda da petista, mas ele não atendeu às ligações.
Vetos
Já na campanha de Marina Silva (PV), compromissos ou convites que venham de empresas ligadas ao ramo do tabaco ou de armas são prontamente recusados, relata Luciano Zica, o responsável por coordenar a agenda da candidata. Convites de universidades para debates ou palestras, "por uma questão de tempo", diz Zica, também entraram na lista dos compromissos que Marina não atende.
"Uma situação hoje que é muito comum, que é debate em universidades, fechados para alunos, a gente não tem mais condição de atender. Temos feito muitas reuniões com segmentos de atuação empresarial para apresentar a nossa proposta, mas a gente não atende indústria de armas e de cigarro. Não aceitamos contribuição financeira e não gastamos o tempo da agenda com esses dois segmentos", destaca Zica.
Segundo o coordenador, sete integrantes da campanha se reúnem todas as terças-feiras, por volta de 7h da manhã para planejar a agenda de Marina e do seu vice, Guilherme Leal. Três profissionais foram contratados especialmente para gerenciar o trabalho.
"A Marina é boa cumpridora da agenda. Ela opina sempre que tem divergência muito grande. Também há o cuidado para compatibilizar a agenda do vice, que é bastante demandada", relata Zica.
Os deslocamentos de Marina pelo país levam em conta a divulgação das propostas de campanha.
"Para decidir onde a candidata irá, tomamos por base as principais cidades do país, que têm maior irradiação de opinião e procuramos fazer o link com temas programáticos. Por exemplo: amanhã [sábado, dia 21] ela estará na região do Vale do Itajaí (SC), onde tivemos uma série de acidentes ambientais, e lá ela deve lançar a proposta do programa para enfrentamento de acidentes ambientais", conta Zica.
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