Brasília - As acusações de corrupção na Casa Civil paralisaram ontem as votações nas comissões do Senado. Sem acordo com os governistas para votar os convites para a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra e a candidata Dilma Rousseff (PT) prestarem depoimentos no Senado, a oposição impediu a retomada dos trabalhos.
Autor dos convites, o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) não aceitou recomeçar as votações na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) sem incluir os requerimentos de Dilma e Erenice. "O que deseja o governo é proteger-se até as eleições. E, depois, sem a preocupação do desgaste político os governistas tentarão rejeitar a proposta e levar o assunto ao esquecimento", disse.
O presidente da CCJ, senador Demóstenes Torres (DEM-GO), se mostrou disposto a retomar as votações mesmo sem analisar os convites. Após consultar Alvaro, porém, a comissão acabou por paralisar os trabalhos. "O Alvaro quis impor um desgaste político; ficamos sem votar de novo."
O filho da ex-ministra, Israel Guerra, é acusado de fazer lobby para ajudar a MTA Linhas Aéreas a obter a renovação de uma concessão da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). A renovação permitiu, depois, que a empresa assinasse um contrato em condições privilegiadas com os Correios.
Reportagem publicada ontem pelo jornal Folha de S.Paulo mostrou ainda que o esquema de tráfico de influência comandado por Israel Guerra usava não apenas a estrutura da Casa Civil mas também a de pelo menos outros dois órgãos da Presidência da República: a SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos) e o GSI (Gabinete de Segurança Institucional).
Computadores e funcionários dessas outras duas repartições foram utilizados pelo grupo de amigos de Israel Guerra, que era peça central do contato de empresários com negócios do governo cobrando uma "taxa de sucesso" pelo tráfico de influência.
Ontem, o marido da ex-ministra Erenice, José Roberto Camargo Campos, negou em depoimento que tenha atuado para beneficiar a empresa de telefonia Unicel, que o contratava como prestador de serviços. A empresa conseguiu uma licença inédita concedida pela Presidência da República para poder operar.