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Joaquim Roriz: manobra jurídica iria garantir sua candidatura | Antônio Cruz/ABr
Joaquim Roriz: manobra jurídica iria garantir sua candidatura| Foto: Antônio Cruz/ABr

Brasília - A estratégia montada pelo ex-candidato ao governo do Distri­­to Federal Joaquim Roriz (PSC) para influenciar seu julgamento de ficha suja no Supre­­mo Tri­­­bunal Federal (STF) levou o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) a propor a criação de um código de ética para a magistratura.

A medida passou a ser defendida pela corregedora nacional de Justiça, ministra Eliana Calmon, depois que Roriz tentou contratar o genro do ministro do Supremo Carlos Ayres Britto como seu advogado. Caso isso se concretizasse, Ayres Britto, que era relator do caso e já havia indicado que barraria a candidatura de Roriz, teria de se declarar impedido de continuar no julgamento devido ao parentesco com o advogado de defesa. Mas o genro não aceitou trabalhar para Roriz.

"Nunca precisou, mas agora eu acho que nós precisamos, com urgência, baixar um código de ética da magistratura", defendeu a corregedora. "Do ponto de vista ético, temos hoje uma sociedade bastante esgarçada e a magistratura sofre muito com isso."

Eliana Calmon lembra que, em casos como esse, cabe ao CNJ baixar uma resolução "lembrando o que pode ou não ser feito". Seria um texto mais abrangente do que a Lei Orgânica da Ma­­gistratura (Loman). O assunto vai estar na pauta do CNJ, em reu­­­­nião do dia 19.

Filmagem

O genro de Ayres Britto, Adriano Borges, protagonizou um dos inúmeros episódios que envolveram parentes de ministros de tribunais superiores. Ele é um entre os aproximadamente 20 parentes de ministros que advogam nos tribunais superiores. Borges foi filmado numa conversa com Roriz negociando pagamento de R$ 1,5 milhão de pró-labore e mais R$ 3 milhões se conseguisse garantir a candidatura de Roriz no STF. Barrado pela Lei da Ficha Limpa, Roriz sabia das poucas chances de man­­­ter a candidatura por causa do voto do relator, Ayres Britto.

O advogado Eri Varela, ligado a Roriz, afirma na queixa-crime que protocolou na Pro­­curadoria-Geral da República que Adriano Borges negociava com Roriz justamente o impedimento de seu sogro na votação. Sem Britto pelo caminho, Roriz conseguiria reverter a decisão que barrou sua candidatura por 5 votos a 4. Como não obteve sucesso – o julgamento terminou empatado em 5 votos a 5 –, Roriz desistiu da candidatura em favor de sua es­­posa, Weslian.

Na queixa-crime, Varela diz que foi Borges quem procurou Roriz, apresentando como cartão de visita seu parentesco com o ministro. O negócio não evoluiu, aparentemente por causa do valor dos honorários. Quando se viu alvo da estratégia de Roriz, Britto pediu ao presidente do STF, Cezar Peluso, que ordenasse a investigação do caso.

Regras rígidas

O Código de Processo Civil, de 1973, já tentava impedir práticas como essa. Em um de seus artigos, proíbe advogados de entrar no meio de processos em tramitação para impedir um magistrado de julgá-lo.

Britto diz que, mesmo com a proibição, há brechas que precisam ser fechadas. "Se você usa esse ponto da lei e vota a favor, passa a impressão que agiu em favor do advogado parente. Pode também se sentir coagido a votar contra e cometer uma injustiça", diz ele.

Ayres Britto afirma que apoia a criação do código de ética, que deve empenhar regras rígidas para evitar suspeição sobre os juízes. "Sou radical. Sei que isso vai criar problemas com os advogados, mas temos de encontrar uma regra firme, como a que proibiu o nepotismo."

A favor de Ayres Britto, dados dos tribunais mostram que Adriano Borges não ganhou nenhuma das 68 causas que defendia no TSE, além de perder os 11 processos que tramitavam no STF. Adriano renunciou a todos esses processos depois de reveladas as negociações com Roriz para não "constranger os clientes e os tribunais". Procurado, ele não quis se ma­­nifestar.

"Esse caso do Adriano [Bor­­ges] é emblemático. A forma como ele se apresentou, como os fatos ocorreram denota falta de ética, mas não vejo outro tipo de problema com advogados parentes de ministros", afirma o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante. "Se alguém estiver favorecendo alguém, são os próprios magistrados, que também merecem ser punidos."

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