Empresas incentivam funcionários
Uma situação um pouco mais rara é das empresas estimularem seus funcionários para a atuação social e cidadã dentro da própria organização. No entanto, há alguns exemplos em atividades com esse foco ocorrem. Os funcionários da imobiliária Apolar, por exemplo, participam uma vez por mês de um "Momento Cívico", composto por uma palestra e debates sobre um tema de relevância no momento. "É uma atitude bacana da empresa que faz a gente pensar em como é ser cidadão, conhecer nossos direitos e gostar das coisas do país", diz a funcionária Helaine Machado.
Segundo superintendente Michel Galiano, é preciso apontar os problemas, mas também valorizar aspectos positivos da nossa democracia. "Nossa república, com todas as falhas que nós sabemos, tem evoluído no sentido de se tornar uma democracia mais forte".
Interior
Preocupação semelhante move a empresaria Lindamir Gobel, proprietária de uma revenda de autopeças na cidade de Ventania, região dos Campos Gerais. Ela conta que adquiriu gosto pelo debate político depois dos encontros da rede de participação política da FIEP (Federação das Indústrias do Estado do Paraná).
Lindamir pendurou nas paredes da loja notícias divulgas pela imprensa sobre casos de corrupção na Assembleia Legislativa do Paraná, sobre a Lei da Ficha Limpa, eleições, entre outras. A "decoração", conta, torna o ambiente de trabalho um ponto permanente de debate político.
Ela explica também que nas cidades do interior a noção de cidadania é facilmente desvirtuada por troca de favores e apadrinhamentos. "Ou você trabalha para um politico que é dono de fazenda ou trabalha na prefeitura para o mesmo grupo. Tento fazer meus funcionários saberem quem são os políticos que os representam", conta.
Não é de hoje que diversas empresas descobriram a responsabilidade social e a importância de uma preocupação maior com a realidade que as cerca. A cidadania também faz parte desse conceito. Atitudes que podem ser consideradas cidadãs - como envolvimento em projeto sociais, atividades comunitárias e voluntárias - podem até contar pontos no currículo de quem procura um emprego, uma vaga em programas de trainee ou mesmo na carreira de quem já trabalha.
O diferencial aí está no próprio postura do profissional. "Em um processo seletivo se busca também considerar a parte comportamental do candidato, já que conhecimentos e habilidades podem ser adquiridos com cursos e treinamentos. É dentro dessa área que as características de uma pessoa que pratica esse tipo de atividade são destacadas", explica o diretor de Recursos Humanos da Globalhunters, Cristian Ney Gomes.
Carla Virmond, psicóloga e diretora da Acta Educação, RH e Carreira, salienta que o peso das características de comportamento em seleções é grande. "Quando a empresa faz uma analise do perfil, a composição comportamental é muito forte, podendo contar até três quartos da 'nota' final", explica.
Pontos fortes
Mas que qualidades o mercado vê nessas pessoas? De partida, por se dedicarem para alguma atividade extra de cunho social demonstram proatividade, explica Gomes. "É muito mais fácil ir para casa e ficar com a família, jogar bola com amigos, do que se engajar assim. Isso conta com um 'plus', um algo a mais", explica.
Quem se envolve trabalhos sociais também demonstra maior conhecimento da realidade na qual está inserido, além de colocar muito das suas características pessoais em projetos dentro das organizações, explica Carla. "É do que a sociedade precisa como um todo: pessoas que se preocupem com o bem comum". Além disso, tem uma visão mais completa do problemas por pensarem de forma sistêmica, completa a diretora.
Especialistas também acentuam que a determinação, criatividade e empreendedorismo são outros pontos fortes, já que há necessidade de lidar quase sempre com questões delicadas, verbas escassas e trabalhar sem remuneração. Até a liderança nesse tipo de cenário é diferenciada. "Em uma empresa, as pessoas estão lá para trabalhar, tem remuneração e seguem um objetivo. Normalmente em projetos sociais não há salários. Nem o líder nem seus comandados recebem nada", explica. "Liderar assim é muito mais difícil que dentro de uma empresa. Essas pessoas desenvolvem um 'tato' muito maior com a equipe", conclui.
Não é crime
Por outro lado, o fato de não se envolver com causas sociais não é condenado pelas organizações, conta Gomes. Ele explica que há pessoas que se sentem compelidas a realizar esse tipo de missão, mas não é regra. No entanto, cada profissional tem algo com que se importe, podendo ajudar a sociedade nessa área, defende o diretor. "Eu tinha uma colega que se preocupava muito com a questão do povo indígena, situação com a qual não me identifico. No entanto, me sensibiliza muito a questão dos moradores de rua, e participo sempre de campanhas do agasalho e outras com esse foco", finaliza.
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