As denúncias envolvendo a ex-ministra-chefe da Casa Civil Erenice Guerra, pelo menos até o momento, não impactaram no resultado da pesquisa de intenção de votos. De acordo com cientistas políticos, a falta de uma imagem, algo que se traduza em prova, faz com que as denúncias ainda não preocupem o eleitor.
Mesmo Erenice tendo sido braço-direito de Dilma quando a presidenciável estava à frente da Casa Civil, a candidata do PT subiu um ponto porcentual, tendo 51% das intenções de voto, segundo pesquisa Datafolha realizada entre 13 e 15 de setembro e divulgada ontem pelo jornal Folha de S. Paulo.
De acordo com a cientista política Luciana Veiga, professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), tentar explorar as denúncias pode ser uma estratégia ineficaz porque o ataque precisa ser claro e provado, em função da alta satisfação com o governo federal e do bom desempenho de Dilma na campanha. "Falta uma foto, como os dólares espalhados na mesa de Roseana Sarney, ou as cenas no aeroporto [nas quais um petista foi detido com dinheiro na cueca]. Se não tem imagem, não está comprovado", diz Luciana.
Pesquisas acadêmicas realizadas no Brasil mostram que denúncias de corrupção têm pouco impacto na definição do voto, de acordo com o cientista político Emerson Cervi, professor da UFPR. "Corrupção aparece como uma das maiores preocupações da população apenas para 2% dos eleitores. Impacta apenas quando apresenta uma característica simbólica, como uma fotografia, ou gravação de vídeo", diz Cervi. Os dois especialistas analisaram as eleições 2010 na manhã de ontem, durante o 2.º Seminário Nacional de Sociologia e Política, realizado na UFPR.
Para os especialistas, mesmo as denúncias sendo fortes, pode ser tarde para incluir ataques consistentes na campanha. Os cientistas polítcos lembram que o governo federal está em campanha desde o ano passado e a capacidade de transferência dos votos de Lula para Dilma está se mostrando forte. "A estratégia de ataque é o que resta a Serra nesses últimos dias de campanha. As propostas já foram apresentadas, a ideia de mostrá-lo como o bom administrador e ministro da Saúde já foi colocada. O que resta e atacar para ver se consegue bater na credibilidade", diz Luciana.
Essa estratégia, de acordo com a professora, seria usada para mostrar para o eleitor que Dilma não é tão capaz como Lula de controlar situações de crise, que não teria pulso, como o atual presidente. Para Luciana Veiga, entre os acertos do governo Lula, um dos principais foi mostrar-se forte durante a crise econômica mundial de 2008, provando que era eficiente para enfrentar momentos de crise, por maiores que fossem.
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