As ações realizadas pela Polícia Federal, Receita Federal e Forças Armadas na Tríplice Fronteira (entre o Paraná, a Argentina e o Paraguai) são apenas paliativas e pontuais e não resolvem o problema da criminalidade na região uma das portas de entrada de drogas e armas no Brasil. Essa é a opinião do coordenador do curso de Direito da Unioeste em Foz do Iguaçu, Jorge da Silva Giulian.
"Cada vez que há alguma operação, a criminalidade volta toda para dentro da cidade. Temos 500 mil habitantes nas três cidades da fronteira e uma população flutuante de 20 mil a 30 mil pessoas, a maioria turistas, que estão vulneráveis à violência", diz ele, que também é líder do Centro de Estudos da Criminalidade da Unioeste.
Segundo Giulian, é preciso reforço no policiamento ostensivo e na investigação. "Há uma preocupação muito grande com o contrabando e o descaminho. Mas também é preciso controlar os crimes contra o patrimônio e contra a vida."
De acordo com dados da Secretaria Estadual da Segurança, ocorreram 221 mortes violentas na Área Integrada de Segurança Pública (AISP) de Foz do Iguaçu em 2009. Somando as sete cidades da região, a população total é de 436.455 pessoas o que resulta em uma taxa de homicídios de 50,6 por 100 mil, contra uma média estadual de 29,2 no ano passado.
As operações centralizadas em Foz do Iguaçu também causaram a migração do crime organizado para outras cidades. Guaíra, cidade de 30 mil habitantes a 244 quilômetros da Tríplice Fronteira, virou rota de contrabando e foi palco da maior chacina no Paraná em novembro de 2008, quando 15 pessoas foram brutalmente assassinadas.
Exército
De acordo com os especialistas consultados pela Gazeta do Povo, o projeto que dá poder de polícia às Forças Armadas aprovado pelo Senado e aguardando sanção do presidente Lula terá impacto reduzido no combate à violência nas fronteiras. Para Denis Mizne, do Instituto Sou da Paz, o Exército poderia contribuir mais com outras ações, como o controle das exportações de armas, que depois voltam ilegalmente ao país.
"Isso [o projeto] é um retrocesso. O governo deveria investir mais na Polícia Federal e nas parcerias com governos estaduais e municipais", avalia o professor Pedro Bodê, da UFPR. "Parece uma maneira de querer economizar e de firmar uma postura de que vale tudo contra as drogas."
Drogas
Os especialistas também concordam que o combate às drogas tem falhado em todo o país. "Há demanda e há consumo. É um delírio achar que as pessoas vão deixar de usar drogas lícitas ou ilícitas. Precisamos pensar em outras soluções que não a pura repressão. A sociedade precisa de saúde e educação, para começar", declara Bodê.
Para Denis Mizne, não adianta nada lotar "as Febens da vida" com usuários ou pequenos traficantes. "É preciso um trabalho de inteligência para desarticular o tráfico pelo topo e evitar a entrada de drogas no país. Também é preciso combater a lavagem de dinheiro, para que os chefões nao lucrem com as drogas." Ele também ressalta que é preciso trabalhar sistematicamente com os jovens. "É preciso disputar o jovem com o tráfico. O crime organizado atrai porque oferece poder, respeito, visibilidade, o sentimento de pertencer a um grupo, autoestima. É preciso oferecer isso também."
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