A candidata petista à presidência da República, Dilma Rousseff, defendeu neste domingo (10) a exposição da série de desenhos Inimigos, em que o artista pernambucano Gil Vicente "executa" personalidades como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ao mesmo tempo, concordou que os urubus que fazem parte da instalação do artista Nuno Ramos estavam estressados. As duas obras são as mais polêmicas da 29ª Bienal de São Paulo.
Segundo a candidata, a cultura não pode ser objeto de censura. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) solicitou que obras de Gil Vicente fossem retiradas da Bienal, com o argumento de que fariam apologia do crime. "A gente tem de entender que a obra de arte trabalha o simbólico e que as pessoas têm direito de se manifestar culturalmente. Do ponto de vista estético, é uma obra até bonita. Agora o que ela quer dizer são outros '550', depende do que ele quis expressar, mas fazer qualquer gesto contra essa obra é um absurdo."
Sobre a instalação de Nuno Ramos, Dilma disse que constatou que os animais estavam "estressados". "Acho que aí é uma questão de preservação do ser vivo", disse, destacando que a obra não foi censurada.
Após visita à Bienal, onde aproximou-se de diversas crianças para tirar fotos, a candidata esquivou-se de comentar a última pesquisa Datafolha e centrou seu discurso no tema cultura. "A Bienal de São Paulo é muito importante para o Brasil principalmente no momento de 'projeção do futuro'. Você não projeta um país só pela economia, mas também pela capacidade de afirmar sua cultura do ponto de vista internacional", disse.
Segundo Dilma, a Bienal "dá a dimensão do Brasil e a relação do Brasil com o mundo". A candidata afirmou que a o evento é dos três grandes do mundo, ao lado da edição de Kassel, na Alemanha, e Veneza, na Itália, e ressaltou que a Bienal de São Paulo "estava numa situação de dificuldade", mas foi retomada.
Um dos pontos ressaltados por Dilma foi a formação das crianças, tanto por meio da percepção das obras quanto por um jogo. "É uma espécie de mapa do tesouro. E o tesouro é justamente acessar toda a questão simbólica", afirmou. A candidata ressaltou considerar importante que as exposições possam ser itinerantes nos anos intermediários às mostras, de forma compacta. "Acredito que cada vez mais a Bienal vai ter uma importância muito grande no Brasil."