Brasília, Aparecida e Belo Horizonte - A "guerra santa" na qual se transformou o 2.º turno da eleição presidencial teve ontem mais um capítulo. O candidado José Serra (PSDB) compareceu à missa na Basílica de Nossa Senhora Aparecida, em São Paulo, no Dia da Padroeira do Brasil, numa tentativa de se aproximar do eleitorado religioso. Já os assessores da candidata Dilma Rousseff (PT), que esteve em Aparecida anteontem, preparavam nesta terça-feira os detalhes finais de uma reunião da petista com lideranças evangélicas, hoje em Brasília, na qual ela irá se comprometer a não enviar ao Congresso um projeto de lei para legalizar o aborto, caso seja eleita.
A reunião entre Dilma e evangélicos de várias denominações foi preparada sob medida pela coordenação da campanha para estancar a sangria de votos entre cristãos e tentar pôr um ponto final na polêmica do aborto. O PT defende a legalização da prática em suas diretrizes e Dilma declarou, em 2007, que era a favor da descriminalização da interrupção da gravidez. Mas, durante a campanha deste ano, ela mudou de opinião.
O encontro de hoje também tem por objetivo fazer um afago aos evangélicos, apenas dois dias após Dilma ter visitado Aparecida, onde a petista rezou e reafirmou sua crença no catolicismo. A reunião ocorrerá em um hotel de Brasília e deve contar com a presença do presidente Lula.
Na tentativa de enfrentar o problema do aborto, a coordenação da campanha de Dilma foi remontada para dar assento a políticos que integram a Frente Parlamentar Evangélica ou são próximos à Igreja Católica. São eles que farão a interlocução, a partir de agora, com bispos, padres e pastores e atuarão como porta-vozes da candidata no segmento religioso.
"Vamos deixar claro que, a exemplo do governo Lula, a gestão de Dilma não entrará em assuntos como aborto ou união civil entre homossexuais. Trata-se de temas muito afeitos ao Congresso e a Igreja tem de pressionar os parlamentares para travar essa luta lá dentro", afirmou o senador eleito Walter Pinheiro (PT-BA), que é evangélico.
O PT ainda deve prosseguir na estratégia de tentar "colar" em José Serra a imagem de conservador e retrógrado e de que ele estaria por trás dos boatos e mensagens "sujas" na internet de que Dilma vai legalizar o aborto.
"Eles têm uma campanha na televisão, no debate político. Ao mesmo tempo no submundo, nos subterrâneos, têm uma campanha com argumentos absolutamente medievais", disse ontem o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra.
Apesar da acusação do PT contra Serra, ontem, na parte de fora do Santuário de Aparecida, foram distribuídos panfletos assinados pela Regional de São Paulo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), recomendando que os eleitores não votem em candidatos que defendem o aborto.
O panfleto, de quatro páginas, não cita nominalmente Dilma Rousseff, mas refere-se ao PT e à "ministra da Casa Civil" como defensores da descriminalização do aborto. E, na missa campal de Contagem (MG), na Grande Belo Horizonte, o mesmo papel foi entregue aos fiéis. Mais tarde, a CNBB informou, por meio de assessoria, que sua regional paulista não pode falar em nome da entidade nacional.
Sem banalização
A missa da qual Serra participou ontem em Aparecida começou 25 minutos mais tarde para esperar o candidato, que se atrasou. O tucano negou que haja uma "banalização" do debate sobre religiosidade no Brasil em razão das eleições presidenciais.
"Essa é uma questão que foi introduzida pelas pessoas, não pelos partidos nem pelos candidatos. Numa campanha, os candidatos apresentam o que fizeram e sua visão de mundo, e as pessoas vão se interessando. Os valores acabam aparecendo também", disse ele, que participou da missa ao lado da mulher, Monica.
Para o presidenciável, o tema da religião aparece no debate não por causa de uma "estratégia" eleitoral, "mas porque o Brasil coloca essa questão". Serra disse que o assunto não "macula" o Estado brasileiro, que é laico. Além de Monica, ele estava acompanhado do candidato a vice-presidente, Indio da Costa (DEM); do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM); e dos deputados federais tucanos José Aníbal e Paulo Renato Souza.
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