Expectativa

Pré-sal dá poder a Dilma

Guerrilheira, militante, política, mãe, avó e uma das mulheres mais poderosas do mundo. A presidente eleita Dilma Rousseff é colocada pela imprensa internacional em posição política mais forte do que a chanceler da Alemanha, Ângela Merkel, e a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton. A principal razão desse poder estaria nas reservas petrolíferas brasileiras, como o pré-sal, avaliadas por especialistas estrangeiros como razão de orgulho e boas expectativas de desenvolvimento para o país continental, com quase 190 milhões de brasileiros. A força de Dilma nas urnas, porém, não se repetiu na eleição para o executivo nos estados. Apenas duas mulheres – Roseana Sarney (PMDB-MA) e Rosalva Ciarlini (DEM-RN) – conseguiram elegerem-se governadoras em 2010: uma a menos do que em 2006, quando foi registrado o recorde de mulheres à frente do Poder Executivo estadual. Na Câmara dos Deputados o número de mulheres é igual à legislatura anterior: 45. Para o Senado, sete mulheres foram eleitas, contra oito vitoriosas nas eleições de 2002, quando houve renovação completa da casa.

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Para os especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, a chegada à Presidência de uma mulher não implicará, necessariamente, mais espaço das mulheres no governo, assim como não garantirá que temas historicamente ligados à população feminina terão prioridade na agenda pública. O fato em si também é relativizado. "Simbo­­licamente falando, há um im­­pacto muito forte, as­­sim como houve quando da chegada do [presidente negro norte-americano Barack] Obama ao po­­der. No entanto, pela forma como Dilma surgiu, imposta pelo presidente, ela mais se assemelha à [presidente da Ar­­gentina] Cris­­tina Kirchner [considerada herdeira política do marido, o ex-presidente Nestor Kirchner, morto na semana passada]. Há um vácuo de poder, pelo fato de ela não ter uma trajetória partidária propriamente dita".

A cientista política Maria Lúcia Victor Barbosa afirma: "O importante é ter ética e capacidade de trabalhar pelo bem comum. Ser mulher não significa nada, e muitas, como a [ex-ministra da Economia] Zélia Cardoso de Mello, foram um desastre.

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O que interessa é ter um projeto político consistente. Eu gosto muito de uma frase da [ex-primeira ministra indiana] Indira Gandhi: 'Eu não sou uma mulher no poder. Eu sou uma pessoa no poder'. Votar ou esperar algo de alguém em função do gênero não faz sentido".

Na opinião da socióloga norte-americana Mirian Adelman, membro do Núcleo de Estudos do Gênero, ligado ao Depar­­tamento de Ciências Sociais da Universi­­dade Federal do Paraná (UFPR), Dilma pode criar políticas que favoreçam o gênero feminino não pelo fato de ser mulher, mas porque seu partido está historicamente mais ligado às reivindicações do movimento de mulheres. "O mais importante não é ser mu­­lher, mas estar identificado com as suas causas. Há muitas mulheres, como a [ex-candidata à vice-presidência dos EUA pelo Partido Republicano] Sa­­rah Palin, que defendem ideias retrógradas so­­bre a condição feminina, ao passo que alguns homens, como Oba­­ma, são mais sensíveis a essas causas".

A socióloga afirma que, tão importante quanto eleger mais mulheres, é fortalecer a presença delas em movimentos da sociedade civil, como sindicatos e associações de defesa da mulher.

"As mudanças não ocorrem apenas através das políticas de Estado, mas também por meio da cultura. É uma correlação de forças permanente, e a cultura tem um grande poder no sentido de mu­­dar o estado das coisas".