A vitória de Dilma Rousseff na eleição presidencial de domingo terá reflexos significativos em todos os setores da política brasileira. A eleição da petista deve forçar a reestruturação da oposição no país, afirma o cientista político Rubem Barboza Filho, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
O presidente Lula deixa o governo com altos índices de popularidade. Isso será um problema para Dilma?
A Dilma não vai conseguir cumprir o papel de negociação interna que o Lula cumpriu. Isso porque ele está sustentado por esses altíssimos índices de popularidade. Ela foi imposta pelo Lula e não surgiu do movimento interno do partido. A Dilma não tem nem o talento e nem a legitimidade que ele teve. A preservação deste modelo no próximo governo ou vai entrar em crise ou o Lula vai interferir a todo momento.
Como será a relação dela com a oposição?
Ela vai ter dificuldades porque terá uma oposição mais hábil do que existiu até agora e mais contundente. De um lado a Marina e de outro Aécio Neves. Os paulistas cedem espaço para o Aécio e por isso será um jogo mais complicado do que o jogado pelo Lula.
E quanto ao governador eleito do Paraná, Beto Richa. Ele também deve ser um nome de destaque nesta nova oposição?
Sim. Ele também deve ter um papel fundamental. O que acontece é que com a segunda derrota do Serra, de fato ele não pode continuar insistindo e permanecer com a posição que ele desfrutou até agora. Até porque o [José] Serra quase não conseguiu se organizar no primeiro turno. No segundo turno as pessoas tentaram se juntar mais, Aécio, Beto, o próprio [governador de São Paulo, Geraldo] Alckmin. Mas acho que ele não terá mais força para fazer composição partidária como essa. Ele continuará sim, sendo um nome importante como é o Fernando Henrique [Cardoso]. Mas a liderança vai passar para outras mãos.
Então a vitória de Dilma dará mais força para que seja feita oposição. Mais do que conseguiram fazer no governo Lula?
Se reconfigura, até porque o Aécio tem uma penetração muito forte em partidos, não só no PSDB, no PMDB, PSB, PPB. O Beto Richa traz também uma juventude maior, uma disposição maior. O próprio Alckmin também não vai ser uma figura tão apagada. Na oposição a coisa vai ficar mais equilibrada. Digamos que o PSDB ganhou as joias da coroa, São Paulo e Minas Gerais e o PT a coroa. O modo de atuação da oposição vai ser diferente. Vai ser mais forte, não no sentido mais aguerrido, de ficar batendo na Dilma o tempo todo. Será mais eficiente.
O poder do presidente Lula de reunir aliados é classificado por muitos cientistas políticos como antidemocrático. O senhor concorda?
O que o Lula fez foi transformar o Estado em uma arena, trazendo todo mundo para dentro do Estado. Ali dentro ele tinha a capacidade de arbitrar os conflitos. Isso é antidemocrático porque você elimina o processo da própria sociedade. Você instrumentaliza os movimentos para um enredo próprio, dele, não republicano. É a manifestação de fazer em um ciclo da história um enredo que é seu e não uma coisa que pertença ao povo.
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