Escândalos influenciaram a campanha
Agência O Globo
Cuidadosamente calculada pelo presidente Lula e executada com mão de ferro pelo PT, a blindagem da campanha de Dilma Rousseff à Presidência se mostrou frágil diante dos escândalos que atingiram nomes da confiança da candidata: o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel e a ex-ministra Erenice Guerra. Lula e integrantes do Planalto já temiam a "maldição de setembro", numa referência a 2006, quando apareceram as denúncias sobre os "aloprados do PT", que levaram o presidente ao segundo turno contra o tucano Geraldo Alckmin. Mas, nesta campanha, os escândalos respingaram antes.
A máquina de ganhar eleição
Rogerio Waldrigues Galindo
O lulismo, ou o petismo, conseguiu o que o PSDB sonhou e não atingiu: um projeto de longo prazo com base nas urnas.
Ao mesmo tempo em que vive seu auge, com a eleição de Dilma Rousseff e a perspectiva de formar suas maiores bancadas históricas no Congresso, o Partido dos Trabalhadores tem à frente o desafio de equilibrar sua inédita força política com as exigências da governabilidade, balizada pelo aliado PMDB. Dessa forma, bandeiras ideológicas do PT do controle social da mídia à legalização do aborto poderão ter de ficar restritas à mobilização social e partidária, poupando o futuro governo de desgastes. Para isso, o partido se prepara para exercitar sua musculatura, na era pós-Lula, pelo Legislativo, sem "imposições programáticas".
Na opinião do vice-presidente do partido, Humberto Costa (PE), o resultado das urnas é uma demonstração de que o PT já não vive mais à sombra de Lula e conseguiu amadurecer para não ficar à sombra também da máquina administrativa federal.
"O PT aprendeu com os erros e conseguiu separar o que é o papel do partido e o que é o papel do governo", disse Costa às vésperas das eleições. "O partido também avançou muito no seu papel questionador, e acredito que esses avanços vão ajudar no futuro governo Dilma. O PT vai ter uma função muito mais evoluída no próximo governo porque sabe hoje como deve atuar."
A presidente eleita já decretara que bandeiras históricas do partido serão assunto da sociedade civil organizada. Na campanha, repetia: "Movimento é movimento, sindicato é sindicato, e governo é governo." Na trincheira de governo, para auxiliar nessa separação, estarão Antonio Palocci, cotado para a Casa Civil, e o atual ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, nome certo no primeiro escalão. Entre as batalhas que o PT tentará travar em paralelo estão a redução da jornada de trabalho, a descriminalização do aborto, a taxação de grandes fortunas e a audiência prévia à reintegração de terras invadidas.
Usada em tom de ameaça pela oposição, essa nova relevância programática do PT foi um trunfo pouco alardeado internamente, em parte para evitar temores sobre as "imposições" que o partido poderia fazer a Dilma. Em setembro, o deputado cassado José Dirceu (PT-SP) sintetizou a petroleiros: "A eleição da Dilma é mais importante do que a do Lula, porque é a eleição do projeto político, porque a Dilma nos representa." Dirceu, forte articulador do PT, elegeu o filho Zeca na Câmara e aguarda apenas o julgamento do mensalão no STF para retomar uma vida política mais ativa.
Sua volta ao Executivo é improvável, mas jamais foi descartada. O discurso de Dilma é igual ao dele: não existe pena de "banimento".
A disputa que ele mencionou, com o acirramento e escândalos da reta final de campanha, fortaleceu os aliados moderados.
"É Dilma quem dará o ritmo, o perfil e a coloração da prática política do governo. Não há temor (de excessos) do PT. Eles já têm a Presidência, uma vantagem imensa. Para o PMDB, é fundamental a boa convivência na coalizão, especialmente saindo de uma campanha tão violenta", explica Moreira Franco (PMDB), um dos coordenadores do programa de governo, que acabou ficando na gaveta.
Porém o documento final eliminou as propostas polêmicas do PT e serviu de "embrião" para "pesos e balanços" entre os aliados.
A primeira grande prova de força do PT será a queda de braço com o PMDB pelas presidências da Câmara e do Senado, em fevereiro. Dela, sairão também as relações da "governabilidade" de Dilma. Na Câmara, os "nomes naturais" são Cândido Vaccarezza (PT- SP) e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).
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