Presidenciáveis em posições distintas
A relação de Beto Richa e Osmar Dias com os candidatos à presidência de suas coligações foi um capítulo à parte. José Serra deu o pontapé inicial da sua candidatura em uma caminhada realizada em Curitiba. Mas depois foi esquecido pelo tucano paranaense por seu desempenho nas pesquisas eleitorais. Mesmo assim Curitiba promete ser a capital em que Serra terá o melhor desempenho.
Do outro lado, a candidata Dilma Roussef e o presidente Lula foram as figuras centrais da campanha de Osmar Dias. Lula esteve no Paraná três vezes e Dilma, cinco. A imagem de ambos também foi muito explorada no material de campanha de Osmar.
A impugnação das pesquisas eleitorais pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) tornou a eleição para o governo do estado do Paraná uma disputa às cegas na reta final da campanha. Foi o último e marcante ato de um processo que redefiniu a polarização das forças políticas no estado e contou com um inédito engajamento do poder federal. Principais candidatos ao cargo, Osmar Dias (PDT) e Beto Richa (PSDB) passaram de aliados nas últimas eleições a adversários ferrenhos, após três meses de acusações recíprocas e batalhas judiciais.A candidatura oficial de Osmar, decidida no último instante como cabeça da coligação que representa a base aliada do presidente Lula, deu início ao clima de rivalidade. O pedetista alegou que Beto traíra um acordo de apoiá-lo nestas eleições. O tucano rebateu, acusando Osmar de barganhar vantagens na esfera federal ao dar palanque à candidata petista Dilma Rousseff.
Com a disputa polarizada e sem perspectiva para um segundo turno, o candidato tucano começou a campanha com vantagem. Depois de uma votação acachapante para chegar à prefeitura de Curitiba e liderando nas primeiras pesquisas, Beto empunhou a bandeira da renovação. Do outro lado, Osmar ainda tentava justificar a coligação heterogênea que o uniu ao PT e a rivais históricos.
Os primeiros embates entre Beto e Osmar deram-se em sabatinas. Apresentando propostas parecidas e muitas acusações, Beto tentou colar a imagem de Osmar ao Movimento Sem Terra (MST). O pedetista rebateu, ligando o oponente ao ex-governador Jaime Lerner e às privatizações.
O início do programa eleitoral na televisão, em agosto, não alterou o cenário nos primeiros 45 dias de campanha. Só a partir do engajamento do presidente Lula, aliado a uma estratégia de campanha mais cara e agressiva, houve recuperação de Osmar Dias nas pesquisas eleitorais. A chamada "onda Lula" foi o fator mais importante da corrida eleitoral. Mas perdeu força para a guerra jurídica que começou no dia da terceira visita do presidente Lula ao Paraná.
Dia 22 de setembro foi o momento chave da campanha eleitoral. O comício de Lula e Osmar Dias no Sítio Cercado, em Curitiba, foi auge da transferência de votos do presidente para candidatos de sua coligação. Até então, o pedetista estava em curva ascendente e aparecia em situação de empate técnico com Beto Richa. No mesmo dia da visita presidencial, o PSDB conseguiu impugnar uma pesquisa de intenções de voto do Datafolha. Desde então, outras sete sondagens foram impugnadas pelo TRE. Na sexta-feira à noite, o TSE liberou a divulgação da pesquisa Ibope.
"Esta eleição será lembrada por conta das impugnações das pesquisas, fato inédito no Paraná e no Brasil democrático. Todo o resto era de certa forma esperado, menos este atentado à liberdade de informação", analisa o cientista político Ricardo de Oliveira, professor da UFPR.
O fim da campanha foi marcado por acusações cada vez mais agressivas, divulgação de pesquisas sem registro legal e muita tensão entre os dois postulantes ao Palácio Iguaçu. Veja os principais episódios da campanha no Paraná.
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06/07/10
O prefeito de Curitiba Beto Richa (PSDB) e o senador Osmar Dias (PDT) polarizam a disputa pelo cargo de governador e saem para o duelo com armas eleitorais importantes. Ambos conseguem fechar alianças fortes, com estruturas partidárias sólidas e aliados no comando da máquina pública. Beto aposta numa escrita: prefeitos da capital geralmente se elegem governadores no Paraná. Osmar compõe uma aliança heterogênea que inclui ex-adversários como o PT e Roberto Requião (PMDB), agora candidato ao Senado. No início, imaginava-se ambos muito ligados aos candidatos a presidente: Richa daria palanque para José Serra (PSDB) e Osmar para Dilma Rousseff (PT). Só a segunda hipótese se confirmou.
24/07/10
Os primeiros dias da campanha foram marcados pelo desconforto de Osmar Dias em ter como principal aliado o ex-governador Roberto Requião. Os dois tiveram de justificar inúmeras vezes os motivos que levaram os adversários em 2006 a se tornarem aliados na nestas eleições. Osmar chamou a aliança de "unidade necessária" e garantiu que as divergências seriam "superadas em nome do projeto para o estado". O adversário Beto Richa criticou a incoerência da união até o final da campanha.
31/07/10
Primeiro grande evento da campanha, comício reúne Osmar, Lula, Dilma e toda a chapa no mesmo palanque no centro de Curitiba. A primeira das três visitas do presidente ao Paraná revela a estratégia da coligação: Lula será o personagem principal da disputa. Na época, os tucanos minimizavam a influência do presidente, pois Serra liderava as pesquisas de intenção de voto no estado.
12/08/10
O primeiro debate na tevê reúne todos os candidatos nanicos e reduz a chance de choque entre Beto e Osmar. Outros três debates televisivos ocorrem durante a campanha. No dia 20 de setembro, na RICTV, o candidato Luiz Felipe Bergmann (Psol) afirma que os dois principais candidatos são iguais, representantes do mesmo grupo político: Osmar seria o "Tio Cowboy" e Beto, "o Sobrinho Playboy".
17/08/10
Primeiro dia do horário eleitoral gratuito no rádio e na tevê. Por causa das coligações que formaram, os dois principais candidatos têm praticamente o mesmo tempo de propaganda. Com o lastro das primeiras pesquisas com números favoráveis, Beto larga na frente com bem-produzidos programas propositivos. Após desacertos nos primeiros programas, Osmar muda a equipe de produção e traz Lula e Dilma para seus vídeos. Um Osmar emotivo e íntimo do poder federal afirma que vai "entrar pela porta da cozinha de Dilma". Beto reage e diz que tem ideias próprias e não precisa de padrinhos. O clima de tensão começa a crescer.
19/08/10
Em Foz do Iguaçu, Osmar usa pela primeira vez uma das expressões mais marcantes da campanha. Ao estilo do presidente Lula, o pedetista usa metáfora futebolística e chama os adversários tucanos de um "time de piás de prédio". O apelido repercute na internet. Beto diz que o pedetista estaria sofrendo da Síndrome de Estocolmo (quando a vítima cria laços afetivos com o agressor), como forma de ironizar a relação entre Osmar e Requião.
26/08/10
Pesquisa do Ibope divulgada neste dia mostrava Beto Richa 16 pontos porcentuais à frente de Osmar. No dia seguinte, o Datafolha dava vantagem de 17 pontos. Com estes números, o tucano parecia navegar em mar calmo, rumo ao Palácio Iguaçu. Os partidários de Osmar apostavam na alteração do cenário, caso a chamada "onda Lula" chegasse ao Paraná.
22/09/10
Lula vem pela terceira vez ao Paraná em menos de um mês. Em comício no bairro do Sítio Cercado, o presidente critica Beto e pede votos para Osmar. Neste mesmo dia, a primeira pesquisa de intenção de votos (Datafolha) é impugnada pelo PSDB por conter supostos erros na metodologia. O senador Alvaro Dias declara o voto ao irmão Osmar depois de ser duramente criticado por Beto.
28/09/10
O PSDB consegue impugnar a quinta pesquisa eleitoral. No mesmo dia, material de campanha de Osmar que trazia reprodução não autorizada da coluna do jornalista Celso Nascimento, da Gazeta do Povo, é apreendido pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE). O TRE também multa Beto por veicular na internet pesquisa eleitoral sem registro. Inserções ofensivas a Osmar são retiradas do rádio e da tevê.
03/10/10
Dia do confronto final de Beto Richa e Osmar Dias nas urnas. Nos últimos dias, a impossibilidade de divulgação das pesquisas de intenção de voto, que foram impugnadas no TRE a pedido do PSDB, deixaram os mais de 7 milhões de eleitores sem informações sobre o desempenho dos candidatos. A expectativa é que até as 22 horas de hoje seja divulgado o nome do novo governador do Paraná.
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