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“Eu nunca disse que o MST me agrada, porque não me agrada. Eu nunca disse que era a favor do aborto, porque eu sou contra", José Serra, candidato do PSDB à Presidência | Weslei Marcelino / Reuters
“Eu nunca disse que o MST me agrada, porque não me agrada. Eu nunca disse que era a favor do aborto, porque eu sou contra", José Serra, candidato do PSDB à Presidência| Foto: Weslei Marcelino / Reuters

Freud explica: Em ato falho, tucano afirma ser a favor do aborto

Durante o encontro de ontem em Brasília, o candidato tucano cometeu um ato falho. Disse que é favor do aborto, para logo depois se corrigir, se posicionando contrariamente à prática de interromper a gravidez. "Eu nunca disse que sou contra o aborto, porque eu sou favor", disse ele. Percebendo o equívoco, se corrigiu: "Eu nunca disse que sou a favor do aborto, porque eu sou contra".

Embora venha se posicionando contra o aborto, Serra, quando foi ministro da Saúde, assinou a norma técnica que facilitou a interrupção da gravidez em hospitais públicos nos casos previstos em lei (estupro ou risco de morte da gestante).

Beto Richa lamenta "ataque" do presidente

Três dias após ser eleito governador do Paraná no primeiro turno, Beto Richa (PSDB) disse ontem, durante a reunião da campanha de José Serra, em Brasília, que o ponto baixo da corrida eleitoral foi ter sido atacado pessoalmente por Lula. "Fiquei espantado. Um presidente da República não age daquele jeito, não condiz com o cargo que ocupa."

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Queixas sobre "excessos" de Lula

A confiança de José Serra por ter chegado ao segundo turno e a alegria de senadores e governadores eleitos pelo PSDB e DEM no domingo contrastaram ontem com a tristeza dos vários perdedores da oposição durante o ato tucano em Brasília. Os derrotados foram representados nos discursos pelo senador tucano Tasso Jereissati, que não conseguiu se reeleger pelo Ceará. "Perdi as eleições, mas se o Zé Serra ganhar, me sentirei mais vitorioso do que se tivesse ganhado", afirmou.

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Brasília - A virada para o segundo turno da eleição presidencial ressuscitou o legado dos governos Itamar Franco (1992-1995) e Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) para a campanha do tucano José Serra. Também reforçou o lado "cristão" do candidato, que usou ontem o primeiro grande evento político após a eleição de domingo, em Brasília, para criticar a postura de Dilma Rousseff (PT) sobre o aborto.

A estratégia para diferenciá-lo da petista associando-o à herança de FHC e aos valores cristãos ficou clara no discurso de 42 minutos, que terminou embalado pelo novo jingle de campanha – "O Serra é do bem".

O anti-Lula

Se no primeiro turno Lula chegou a ser citado com reverência na propaganda tucana, agora a ordem é partir para o ataque. "O brasileiro não está cobrando um governo de santinhos, mas de gente séria", disse Serra, criticando irregularidades cometidas na atual gestão. E, após chamar os petistas de "duas caras", complementou: "Não queremos um Brasil parecido com a casa da mãe Joana".

O resgate das ações de FHC (PSDB) e de Itamar (PPS) atende pedidos de correligionários de peso como o senador eleito por Minas Gerais, Aécio Neves, e o governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, ambos do PSDB. "O Brasil de hoje não foi descoberto em 2003. Somos partes fundamentais do bom momento que vive o país", defendeu o mineiro.

Serra enfatizou a importância do Plano Real para a economia e disse que é sempre bom lembrar os responsáveis por sua implantação: Itamar e FHC. Fez vários elogios a Itamar, que estava presente. Como recomendação ao aliado, Itamar disse que Serra deveria seguir mais a própria cabeça e menos os marqueteiros.

O candidato também garantiu que está preparado para o embate sobre privatizações ocorridas no governo FHC – que deve ser proposto por Dilma. "Não me venham com trolóló de factoides dessa natureza." Adiantou que usará como argumento o sucesso da abertura das telecomunicações, que popularizou a telefonia no país. Também adiantou que mostrará uma suposta incoerência de Lula: o PT nunca se esforçou para desfazer qualquer privatização após assumir o Planalto.

A reaproximação de Serra com o passado se deve em grande parte ao efeito "Aloysio Nunes". O senador eleito em São Paulo pelo PSDB foi o único entre os principais concorrentes a cargos majoritários no Brasil que utilizou formalmente o apoio de FHC no horário eleitoral gratuito. Recebeu 11 milhões de votos e ficou em primeiro lugar no estado, embora todas as pesquisas indicassem que ele ficaria atrás de Marta Suplicy (PT) e Netinho de Paula (PCdoB), aliados de Lula.

Ambiguidade de Dilma

Além do resgate de lideranças internas, Serra também deixou claro que pretende aproveitar a onda de ataques de líderes religiosos contra Dilma. O alvo escolhido ontem foi a ambiguidade da adversária ao se posicionar sobre a legalização do aborto. Embora ela tenha sustentado, durante a campanha, que é contra legalizar a interrupção da gravidez, a petista já declarou o contrário duas vezes – em entrevistas à Folha de S. Paulo, em 2007, e à revista Marie Claire, em 2009.

"Eu nunca disse que o MST me agrada, porque não me agrada. Eu nunca disse que era a favor do aborto, porque eu sou contra", disse, sem mencionar diretamente Dilma. Serra também falou que sua opinião é até contestada por amigos, que o acham "atrasado", mas afirmou que tem "razões íntimas para ter essa convicção".

O erro, para ele, é Dilma não ter uma posição clara. "Erra quem quer enrolar, ficar enrolando. Chegou-se ao máximo de estampar em primeira página [de jornais] que o PT iria tirar o aborto do programa de governo." Serra disse que as mudanças do programa são um desrespeito às pessoas e que, com ele, essa "decepção" não ocorrerá.

Antes do discurso do tucano, o presidente do DEM, deputado federal Rodrigo Maia, já havia tocado em temas religiosos. "Vai acontecer o que o PT nunca imaginou: uma vitória retumbante da oposição, daqueles que representam a liberdade de imprensa, os valores cristãos", afirmou o parlamentar.

Serra refutou, no entanto, que a nova estratégia eleitoral do PSDB e de aliados significará uma guinada à direita na campanha. Ele contou que acha curioso quando ele e sua coligação são chamados de "conservadores". "Nada é mais neoliberal e conservador do que a atual condução da política econômica do país."

Para reforçar a tese de que é "do bem", disse que vai responder aos ataques do PT com "serenidade". "Às falanges do ódio que insistem em dividir a nação, vamos responder com nosso trabalho presente e nossa crença no futuro. Quanto mais mentiras os adversários disserem sobre nós, mais verdade nós vamos dizer sobre eles."

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