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De acordo com os auxiliares mais próximos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele vai encarar seus últimos dois meses de mandato degustando cada dia, cada hora, cada segundo que lhe resta. Lula não lamenta a certeza da saída. Mas insiste em não pensar nisso. Porque não pensar, revelou, é a maneira de manter-se no chão. "Sei que um dia a ficha vai cair e aí vou ver que não sou mais o presidente", disse Lula num desabafo.

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O presidente vive também momentos de profunda emoção. Seus auxiliares o têm visto com os olhos marejados no dia a dia, dentro do avião presidencial, no Palácio da Alvorada. Isso ocorre principalmente depois de cerimônias públicas em que Lula é abraçado pelos ministros, mas, de forma especial, quando o carinho vem do público. As manifestações de saudades do poder, agora com a marca de muita emoção, começaram a aparecer no final do primeiro semestre.

Durante visita ao Nordeste, em junho, Lula afirmou que já estava sentindo falta de sua atividade presidencial, embora faltassem ainda seis meses para a despedida. Mas para se consolar, disse que não ser mais presidente tem suas vantagens. "Todo ato político que participo agora é o último, já estou com saudade e pensando no que fazer", disse em Aracaju, no dia 10 de junho, ao inaugurar casas populares. "Vou querer tomar um banho de praia, tomar uma cervejinha sem ninguém encher o saco e dizer que o presidente está bebendo", avisou ele. "Um filho de Deus tem direito de tomar uma geladinha na beira da praia."

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O discurso funcionou mais como um desabafo do momento. Lula comunicou a seus auxiliares que imediatamente depois de entregar o poder, pretende voltar para seu apartamento, em São Bernardo do Campo (SP). Espera que até lá a reforma que mandou fazer tenha terminado. A partir daí, quer tirar um período de férias, aqui mesmo no Brasil. Em seguida, deverá percorrer o mundo, para receber os mais de 30 títulos de doutor honoris causa que lhe foram oferecidos em todos os continentes e os quais se recusou a receber na Presidência.

Lula está amadurecendo ainda a ideia de criar um instituto, que não será o da Cidadania, este fundado por ele quando ainda estava na oposição. Nesse novo instituto, o presidente acha que dá para ser voz ativa em atividades como a de ajudar a combater a fome e a pobreza no mundo, a trabalhar para resolver os problemas da crise energética e dos países da África, ainda envolvidos em lutas tribais no século 21.

ONU é dúvida

Indagado por várias vezes se pretende brigar por algum cargo na Organização das Nações Unidas (ONU) ou entidades multilaterais, Lula tem repetido que não o fará. Ele acha que para ter um bom desempenho numa destas funções é preciso ter dedicação exclusiva. E acha que ficar preso a um posto vai tirá-lo da linha de frente de outros, que julga mais importantes. Como os institutos de pesquisas têm apontado a aprovação de 83% dos eleitores ouvidos a seu governo, Lula acha que está num índice de popularidade que, no fundo, significa uma exigência dos brasileiros para que não desapareça da vida pública.

Isso, na visão do presidente, significa ter papel importante em algumas coisas, como a reforma política. Lula pretende conversar com ex-presidentes como Fernando Henrique Car­­doso, Itamar Franco, Fernando Collor e José Sarney para tratar da necessidade de se fazer uma mudança radical na política brasileira. Ele acha que as experiências dos quatro, que somam 25 anos, pode ajudar o país a ter uma das legislações políticas mais modernas do mundo.

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