Silmara Maceno conseguiu informações sobre a situação dos presos da Penitenciária Central do Estado, em Piraquara, e espera ajudar no combate à violência lutando por melhores condições nos presídios| Foto: Ivonaldo Alexandre / Gazeta do Povo

Logo, logo a bomba vai estourar. Vamos diminuir a violência aqui fora combatendo as drogas dentro dos presídios!" É assim que Silmara Maceno, 38 anos, anuncia o plano ainda misterioso. Há cinco meses, tudo mudou na vida dessa técnica em laboratório, que trabalha como servente geral em um restaurante. Movida pelo amor, no dia 15 de março procurou uma rádio AM em Curitiba e informou: queria reunir o maior número de familiares de presos para pressionar as autoridades a fim de obter informações da Penitenciária Central do Estado (PCE), em Piraquara. Dois meses depois da rebelião que deixou cinco mortos, ninguém tinha ideia das condições dos presos lá dentro. Silmara queria saber do marido, Elizeu Domingues, pai do caçula dos três filhos dela, de 3 anos.

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No dia seguinte, conseguiu reunir cinco mulheres em uma ONG de defesa dos Direitos Humanos e três dias depois estavam em 11 esposas na Corregedoria dos Presídios. Hoje, ela é presidente da Associação Brasileira de Apoio e Defesa dos Direitos Humanos e Carcerários, que conta com cerca de 50 famílias e oferece assessoria jurídica aos associados, com uma extensa rede de colaboradores. Em seis meses de cobrança, Silmara pressionou e conseguiu o restabelecimento das condições mínimas de prisão na PCE, coisa que demorou cerca de dois anos na rebelião anterior. "Eu gosto de tudo que é difícil. Eu sempre gostei de fazer bem aos outros e eu vejo que isso é uma missão de Deus. Vou fazer do meu marido um grande homem", afirma.

A iniciativa de Silmara é oportuna e cresce no vazio deixado pelo Estado no combate à violência. Não é de hoje que os presídios são "escolas do crime", mas ela acredita que pode mudar isso. A vontade de Silmara é o pedido da maioria dos eleitores de Curitiba e região metropolitana: melhorar a segurança pública.

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Segundo levantamento da Paraná Pesquisas feito com exclusividade para a Gazeta do Povo, mais de metade dos ouvidos diz que o item deverá ser a prioridade do próximo governo estadual. Dos três principais itens, dois se referem a questões ligadas à violência: segurança pública (54,1%), saúde (35,9%) e drogas (30,6%). "Creio que devemos focar nossas forças para solucionar as questões que envolvem a destinação dos resíduos [lixo] produzidos pela região metropolitana de Curitiba, para o enfrentamento da violência e o consumo de crack", diz o prefeito de Campo Largo, Edson Darlei Basso, presidente da Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Curitiba (Assomec),

A preocupação não é à toa. O número de mortes violentas cresce ano a ano na região, segundo dados da Gazeta do Povo recolhidos junto ao Instituto Médico Legal (IML) de Curitiba. Em 2008, até o mês de agosto, haviam sido cometidos 985 assassinatos. Neste ano, no mesmo período, foam 1.204 – aumento de 22%.

Os números ajudam a confiança de Silmara. A população carcerária somente em Piraquara – que concentra sete presídios estaduais – chega a cerca de 5 mil pessoas, mas há detentos em situações piores em delegacias no interior do estado. Para ela, se as coisas forem acertadas dentro das unidades, a situação melhorará aqui fora. "Às vezes tem mortes que ninguém consegue explicar. Um menino é morto sem razão nenhuma, mas, na verdade, ele está pagando por um pai ou uma mãe que está dentro do presídio", diz Silmara. "Uma mãe contou que pagava para manter o filho vivo lá dentro. Depois que ele [o preso] foi assassinado, ela foi morta no portão de casa."