Há quase uma década, Márcio Antônio de Morais, 33 anos, roda as estradas do Noroeste do Paraná na função de motorista de caminhão. Durante quatro anos, transportou leite de um lado para o outro. Nos últimos três anos, dirigiu o caminhão-guincho de uma das maiores fábricas de roupa feminina em Cianorte, a Morena Rosa. Com o trabalho, sustenta a mulher e um filho de 3 anos.
Márcio nunca se acidentou, mas ainda se incomoda com uma tragédia que presenciou: a morte de três pessoas em um acidente entre um carro e um caminhão frigorífico, na BR-323, na altura de Cruzeiro do Oeste. Ele foi um dos primeiros a passar no local após a batida. Mesmo depois de dois anos, a cena dos três corpos dentro do carro estão fixados na memória e voltam, entre uma curva e outra.
Todo dia na estrada, Márcio sabe que não está livre de passar por uma situação parecida. "Medo a gente não tem. Mas em um dia de chuva, mesmo com experiência, a gente se preocupa." O temor é de toda a região, que precisa usar as rodovias. O caso mais grave é a BR-323, onde o motorista presenciou o grave acidente. A rodovia é a principal ligação de Guaíra, Umuarama e Cianorte a Maringá e ao estado de São Paulo, um dos principais destinos da produção industrial do Noroeste. "De Umuarama para a frente, nem acostamento tem", lamenta o caminhoneiro.
No mês passado, 76 líderes empresariais, políticos e religiosos de dez municípios do Noroeste se reuniram para lançar uma campanha pela duplicação dos 270 quilômetros da rodovia entre Guaíra, no Oeste, e Maringá, no Norte do estado, cortando toda a região do Noroeste. Com dados de 2008, eles estimavam o volume de tráfego em 9 mil veículos por dia nas proximidades de Umuarama.
Mais pedágio, mais acidentes
O aumento no número de mores na BR 323 foi causado pelos motoristas que nos últimos anos mudaram de rota para escapar das seis praças de pedágio nas BR-277 e BR-369, entre Foz do Iguaçu e Maringá. E o reflexo está nos números da Polícia Rodoviária Estadual, que registrou 26 mortes desde o início do ano. Além disso, houve aumento de 34% no número de acidentes nos sete primeiros meses deste ano em relação a 2009 e crescimento de 22% na quantidade de feridos.
A rodovia é fator determinante para o Noroeste buscar novas oportunidades de trabalho e tentar barrar a tendência de diminuição da população em mais de 1% até 2020, segundo projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). "[A duplicação] facilitaria a atração de empresas e investimentos para a região e diminuiria os custos e a demora do transporte, além de aumentar a segurança com a redução do número de acidentes. Hoje a velocidade média é baixa e com isso gasta-se mais combustíveis, pneus e para fazer a manutenção da rodovia, que tem um alto fluxo de veículos", afirma o professor de Administração Jailson Arieira, da Unipar, ao explicar de que forma a rodovia bloqueia o desenvolvimento regional.
Mas esse não é o único problema logístico. A promessa da Ferroeste de levar uma ligação de trem até o Mato Grosso do Sul, para buscar a soja produzida no estado vizinho e levá-la até o Porto de Paranaguá, passando por Umuarama, ajudaria a alavancar a agricultura, também forte na fruticultura. O trecho de ligação rodoviária com Curitiba também é um problema. "Desde o início da colonização até hoje a estrada é a mesma. Isso é um absurdo", comenta o industrial Antonio Gonçalves Vicente, coordenador da Federação das Indústrias do Paraná (Fiepr) na região de Paranavaí. "Para Curitiba, pagamos um pedágio caro e temos que passar pela Serra do Cadeado, com pequenos trechos duplicados."