O agricultor Adão Felipach na margem do Rio Trajano, que limita sua fazenda: recuperação de parte das áreas florestais, para evitar a erosão, é um dos desafios para o Noroeste| Foto:
Cristiano Murzin comercializa leite, mas está de olho no turismo rural: aluguel de casa às margens de represa rende R$ 7 mil por ano
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Rio Trajano marca o li­­mite da fazenda de 20 alqueires do agricultor descendente de po­­loneses Adão Fe­­lipach, em Terra Rica, no Noroeste do Pa­­ra­ná. Em 1985, quando ele comprou a propriedade, o leito d’água tinha entre 5 e 7 metros. Hoje, o curso do rio é um "minicanion", com distância de 40 a 50 metros entre uma mar­­gem e outra. A profundidade chega a 20 metros em algumas partes. Uma área equivalente a quatro alqueires já foi carregada pelo minguado volume do Trajano porque a terra é arenosa, e por isso, delicada. Esse tipo de solo é conhecido como arenito caiuá e predomina em uma área de 12% do Pa­­raná, ou seja, toda a região No­­roeste (veja infográfico).

Sem cobertura vegetal, o solo fica vulnerável e suscetível à erosão. Junta-se a isso o fato de o Rio Trajano ser o destino de toda a água da chuva que cai sobre Terra Rica. A cada pancada, o riozinho cresce e a enxurrada lava as margens, derrubando mais terra e di­­minuindo o pedaço de solo cultivável por Filipach.

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Para a agricultura ser viável nesse tipo de solo é necessário se cercar de cuidados e recuperar parte das áreas de florestas, já que as árvores e a cobertura vegetal ajudam a dar firmeza ao solo. "Em razão do histórico uso inadequado das terras e do intenso desmatamento, a Região Noroeste aparece como uma das mesorregiões ambientalmente mais degradadas do estado. Atualmente, apenas 4% da cobertura florestal original encontra-se preservada", afirma um estudo regional do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), produzido no início da década.

Modernizar a agricultura na região passa por respeitar essa característica delicada da terra. Com isso, a produção tende a me­lho­rar. "O solo tem uma capacidade de armazenamento de água muito boa e responde bem à adubação. Por ser areia, se você descobrir o solo ele não segura a água e começa o processo de erosão", explica o engenheiro agrônomo Jonez Fidalski, do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar).

A região precisa rediscutir a predominância da cana-de-açúcar na produção agrícola, já que o cultivo mecanizado revolve a terra para o plantio. O Noroeste é o principal produtor: são 26,3 milhões de toneladas por ano (46% do estado), em uma área de 323 mil hectares.

Alternativa

O aspecto ambiental também gera um desafio do ponto de vista so­­cial. Com a tendência de mecanização por causa das queimadas (que antecedem o corte manual e emitem grandes quantidades de CO2), os municípios deverão en­­frentar o aumento das taxas de de­­semprego. Em tese, isso faria com que as usinas dispensassem a maio­­ria da mão de obra usada hoje. "A cana veio para substituir a pe­­cuária. Mas, e daqui a alguns anos?", questiona o coordenador das Associa­­ções Comerciais e In­­dus­­triais do Noroeste do Paraná (Ca­­cinpar), Carlos Augusto B. da Costa.

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Só reduzir o impacto da agricultura, no entanto, não basta. A região precisará atrair investimentos para industrializar a produção agrícola ou criar novas vocações comerciais – como Cianorte, referência na indústria do vestuário.

Para o professor de Adminis­­tração Jailson Arieira, da Univer­­sidade Pa­­ranaense (Unipar) em Umuarama, o desenvolvimento regional deve envolver o trabalho conjunto. "Temos vários agentes que não trabalham de forma integrada", diz. "Temos pelo menos quatro grandes cooperativas, a Secretaria da Agricultura, a Emater e as universidades trabalhando para o desenvolvimento, mas cada uma puxa para um lado."

Turismo

O pouco que resta de cobertura florestal está concentrado em áreas de preservação, como o Parque Nacional da Ilha Grande, e em esparsas propriedades privadas. Essas pequenas áreas têm se mostrado promissoras e são uma das chances de novas possibilidades para o Noroeste, que é banhado por três grandes rios: Parana­panema (ao Norte), Paraná (no Oeste) e o Ivaí, que corta a região.

O próprio Adão Felipach percebeu isso e nos fim de semana chega a receber até 300 pessoas em outra propriedade que administra, às margens do Paranapanema. Ele cobra R$ 4 para a pessoa passar o dia na beira do rio e R$ 8 para quem quiser acampar na propriedade. "No verão, [o turismo] dá mais que a lavoura", revela.

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O número de empresas cresceu 19% e o volume de trabalhadores aumentou 11% nos últimos dois anos, segundo o Ipardes. Mas ainda há dificuldades para desenvolver esse potencial. A principal é a falta de incentivo. Feli­­pach, por exemplo, não consegue levar luz elétrica até a beira do rio.

"Nossa região é bastante turística. Isso não foi desenvolvido", diz o prefeito de Diamante do Norte, Pedro Edivaldo Ruiperes Selani, presidente da Associação dos Municí­­pios do Noroeste do Paraná (Amun­­par). "Na época do ‘defeso’, isso aqui fica pulando de peixe. Nosso diferencial será a indústria do turismo, que não polui."

O descendente de romenos Cristiano Maier Murzin tem 50 alqueires de terra em Diamante do Norte e também está de olho nesse potencial. A família cultiva mandioca, mel e tem cerca de 160 vacas que produzem leite, mas também aluga uma casa velha às margens de um braço da represa de Rosana, próximo ao Rio do Corvo, para pescadores. "Até outubro não tem vaga", adianta o agricultor, que já começou a recuperação da reserva legal na margem da represa e do rio. Só com o aluguel de uma casa velha, a família consegue até R$ 7 mil por ano. Como o retorno é bom, o plano é construir outra casa e uma marina, para evitar que os pescadores precisem transportar os barcos guinchados em carros a cada fim de semana.