Um novo verniz para a madeira
Uma região com 577 empresas ligadas à indústria da madeira, que absorvem direta ou indiretamente 70% dos empregos e respondem por 87% do Valor Adicionado Fiscal (VAF) de 21 municípios. Apesar de ser responsável por 25% da produção nacional de portas e esquadrias, com 1,3 milhão de unidades por ano, o Sul do Paraná tem renda per capita inferior à média estadual e taxa de pobreza acima da média do estado.
Os irmãos Antônio Alceu da Silva e José Ivo da Silva voltavam para casa, na área rural de Rebouças, depois de trabalhar no corte de erva-mate no município vizinho de São João do Triunfo. Lentamente, os dois avançavam em uma carroça velha pela PR-364, no ritmo de dois cavalos de potência. Eles não se importam em transitar na rodovia sem asfalto que liga São Mateus do Sul e Irati. Mas torcem para que a promessa feita há mais de 30 anos, de asfaltar o trecho de 47 km, seja cumprida. Hoje, quando chove, os filhos ficam sem aula por causa das condições da estrada.
O único trecho asfaltado da PR-364 fica perto da usina de xisto da Petrobras, em São Mateus do Sul. Se a obra fosse concluída, seria possível aumentar o tráfego de produtos na região e evitar um grande desvio rodoviário. Hoje, a ligação entre Irati e São Mateus é feita por Palmeira, o que aumenta o trajeto em cerca de 100 quilômetros. "O eixo que liga duas das principais cidades do estado, com PIB de quase meio bilhão de reais, é feito por estrada de chão. Isso é inadmissível pela quantidade de dinheiro que circula entre elas", reclama Paulo Orestes Ostapiv, coordenador das Associações Comerciais e Empresariais do Centro-Sul do Paraná (Cacesul).
A malha rodoviária da Região Sul é antiga e há trechos sem asfalto. Os trechos asfaltados têm buracos, irregularidades na pista e sinalização precária. Um dos piores casos é o da BR-153, perto de União da Vitória. A pista tem muitos buracos e nas proximidades de General Carneiro há deficiências no asfalto, o que obriga caminhões e carros a reduzirem a velocidade para até 30 km/h.
"Precisa melhorar o tipo de asfalto. Na época, foi feita uma rodovia meio improvisada, mas ela ficou assim até hoje", diz o diretor-geral do câmpus da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) em Irati, Mário Menon. "É importante que ela seja uma rodovia de acordo com a importância dela, com acostamento e asfalto na largura certa."
Melhorar a estrutura rodoviária da região é primordial para atrair investimentos, avalia o prefeito de Irati, Sergio Luiz Stoklos. Principalmente no caso da BR-153. "Existe o projeto de transformação em uma rodovia realmente federal, mas falta concluir o trecho entre Ventania e Ipiranga e a ligação entre Paulo Frontin e União da Vitória", afirma. "Isso faria a ligação de diversas regiões no país na chamada Transbrasiliana e seria um atrativo a mais para os investimentos na região."
Só no mapa
As promessas de asfaltamento da PR-364 já causaram muita confusão. Alguns mapas do Paraná foram impressos na década de 90 trazendo a rodovia como asfaltada antes mesmo de as obras começarem. Há alguns anos, era comum caminhoneiros pararem no escasso comércio ao longo da rodovia para confirmar se aquela estrada de chão realmente era a PR-364. "Tem caminhoneiro que acha que está enganado", conta Neusa de Prado Tussolini, 58 anos, que há 27 atende uma pequena venda na beira da estrada. Ela diz que deixou de investir no local por causa das condições da rodovia.
Segundo os moradores, uma nova promessa de asfaltamento foi feita recentemente pelo governo do estado. "Já teve governador que inaugurou o asfalto aqui. Agora estão prometendo de novo, mas isso é só política", diz o comerciante João Muscalak.
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