Pequenos agricultores precisam de incentivos fiscais para crescer
Izaias Pereira Santana, de 43 anos, abandonou na metade uma reunião neste ano que discutia a possibilidade de industrializar e transformar em suco o maracujá produzido no Litoral do Paraná. Apesar de colher cerca de 3 toneladas da fruta por ano, o pequeno agricultor de Morretes ficou assustado com o custo estimado para comprar o maquinário e processar o maracujá de acordo com as normas sanitárias, que beirava os R$ 30 mil.
Interatividade
Internautas podem escrever sobre as necessidades de cada região. Veja abaixo a opinião de moradores do Litoral:
"Precisamos urgentemente de um plano e ação referente à segurança pública. A insegurança tomou conta de nossa vida. Não interessa se você mora em bairro bem localizado ou não. Até para o filho ir ou voltar do colégio hoje é preocupante."
Marcos Magalhães.
"O Litoral é a região mais carente em investimentos. Todo governante tem um foco maior na Região Norte/Centro-Sul, regiões produtoras e não olham os problemas no Litoral nem em época de temporada. Precisamos de investimentos em turismo, geração de empregos..."
Rogério.
"Precisaríamos que nossos governantes, de maneira inteligente, implantassem indústrias não poluentes nessa região, para alavancar empregos para os jovens. Também destinar uma área industrial entre os municípios e construir barracões para esse destino. Senão nossas cidades ficam como estão: pobres e sem futuro."
Lary José Pavan.
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O setor de turismo do Litoral do Paraná tem 701 empresas que empregam 3,2 mil pessoas. Porém, boa parte delas funciona somente nos três meses de verão e permanece fechada nos outros nove meses do ano, abrindo em raras oportunidades entre março e novembro. O motivo é a falta de turistas nas sete cidades litorâneas fora do período de férias escolares e de calor nas praias. Não é que não existam roteiros turísticos desvinculados do sol, do mar e da praia. O problema é que eles são subexplorados e colocam no marasmo econômico a população de 257 mil pessoas que moram na região, que recebe mais de 1 milhão de visitantes numa mesma vez durante a temporada.
O setor turístico está crescendo no Litoral paranaense, mas menos do que desejam aqueles que trabalham no atendimento aos visitantes e conhecem o potencial regional. Entre 2006 e 2008, o número de empregados no setor cresceu 18,5% e a quantidade de empresas ligadas ao turismo aumentou 12,5%. Porém, dá para mais o problema é colocar isso em prática.
"O individualismo das entidades é muito grande. Elas não se articulam para produzir ações em conjunto", explica o professor de Gestão e Empreendedorismo da UFPR Litoral, Valdir Denardin. "Precisamos de um trabalho único, regional. Pensar em vender a região e não cada cidade", concorda Amilton de Paula, prefeito de Morretes e presidente da Associação dos Municípios do Litoral do Paraná (Amlipa).
Por isso, o pescador Odair Ribeiro, de 34 anos, que nasceu e cresceu na Ilha do Mel, torce para que façam essa articulação logo para que a renda dele aumente. De dezembro a fevereiro, Odair consegue até dobrar a renda média de R$ 500 com "bicos" como carregador de malas na areia e da quantidade de peixe vendido aos restaurantes. No restante do ano, a pesca é voltada para subsistência e para alimentar os poucos visitantes da Ilha.
Se o movimento turístico no período de "inverno" fosse similar ao do verão, ficaria mais fácil dar alguns confortos aos cinco filhos de Odair. Também daria para fazer a manutenção do pequeno barco usado para espalhar a rede em cardumes de Pescada Amarela, peixe comum em toda a costa brasileira e com um sabor ótimo para a cozinha. Atrativos para isso não faltam na Ilha e Odair tem na ponta da língua a solução para o problema da sazonalidade do turismo em todo Litoral paranaense, mas que não depende diretamente dele. "Se criassem um meio de fazer mais propaganda da Ilha no inverno, viria mais gente."
A percepção de Odair para a Ilha do Mel vale para todos os outros atrativos. A cidade de Paranaguá é reconhecida pelo Ministério do Turismo como um dos lugares com potencial de influenciar o crescimento turístico do entorno, mas está longe de conseguir isso. "Em 2011, devem ser concluídas algumas restaurações dos prédios tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e ser inaugurado o Aquário Marinho. Isso deve ajudar", fala Yahia Hamud, presidente da Associação Comercial de Paranaguá.
Além de divulgação, falta estruturar e comercializar o potencial do turismo religioso, histórico, cultural, gastronômico, ecológico e de aventura. Atividades que não estão ligadas necessariamente ao verão e às praias. Neste contexto, encaixam-se o casario dos séculos XVIII e XIX, em Paranaguá; as romarias ao Santuário de Nossa Senhora do Rocio, as igrejas de Nossa Senhora do Pilar, São Benedito e Bom Jesus do Saivá, em Antonina; o fandango em Guaraqueçaba; o Parque Saint Hilaire-Lange em Matinhos; o barreado e o Parque Estadual do Pico Marumbi em Morretes.
Some-se a isso a existência de 68% da biodiversidade de mamíferos do Paraná, por exemplo. "As bacias costeiras são ecossistemas estuarinos de grande importância, com extensões expressivas de manguezais, onde habitam pelo menos 200 espécies de peixes (66 delas, além de crustáceos e moluscos, têm importância comercial)", registra um estudo do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes). Motivos para convencer um turista a descer a serra do mar existem, porém, isso não basta. É preciso estar preparado para recebê-lo.
Infraestrutura
A estrutura das cidades e dos pontos turísticos precisa ser melhorada para incrementar o crescimento do setor no Litoral, que tem potencial de ser o maior empregador regional. "Não adianta vir o turista e não ter pousadas, hotéis e os restaurantes estarem fechados fora da temporada. Só vamos melhorar depois de rompermos essa sazonalidade", reconhece o professor de Gestão e Empreendedorismo da UFPR Litoral, Valdir Denardin.
Um dos desafios para os municípios é logístico. As rodovias e as principais avenidas nas cidades litorâneas costumam registrar congestionamentos. Não há, por exemplo, linhas de ônibus que facilitem a ida de um atrativo ao outro. A maioria dos deslocamentos precisa ser feita de carro, o que costuma gerar acúmulo de veículos nas ruas estreitas.
A mão de obra também precisa ser qualificada. Só assim será possível criar oportunidades para que cerca de 60 mil famílias consigam sair da situação de pobreza. "A região sofre muito com o vaivém de pessoas, um fluxo migratório muito grande. Isso faz com que as pessoas não se fixem aqui e busquem uma qualificação", explica o professor Denardin.
Além disso, as praias, principais atrativos do Litoral, estão ameaçadas e também precisam de investimentos para que o mar não destrua o que resta de areia devido à retirada da restinga (vegetação que impede a perda de areia nas praias). O Litoral espera que, finalmente, saia a obra de engorda da praia de Matinhos e haja a recuperação da orla em Guaratuba, que sofre com constantes ressacas.
O governo federal prevê investir cerca de R$ 15 milhões através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para buscar cerca de 1,3 milhão de metros cúbicos de areia em alto-mar para engordar em 50 metros a praia de Matinhos numa extensão de 13 km, de Caiobá, ao lado do Morro do Boi, ao balneário Flórida.
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