Luís Alves de Miranda espera para ser atendido em Campo Mourão: descentralizar a saúde é um dos desafios da região| Foto: Albari Rosa / Gazeta do Povo

Eram 6 horas da manhã quando o casal Luís Alves Miranda, 73 anos, e An­­tô­­nia Lopes Miranda, 72, saí­­ram de casa para encontrar um ônibus da prefeitura de Quin­­ta do Sol para ir até Campo Mourão, distante 47 km, para uma consulta. Às 7 horas, os dois já estavam na frente do prédio do Con­­sórcio Intermunicipal de Saúde da Comunidade dos Mu­­ni­­cípios da Região de Campo Mourão (Ciscomcam), mas a consulta de Luís com um urologista para tratar de uma inflamação na próstata seria apenas às 10 horas.

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Seriam pelo menos três horas de espera dentro do prédio apertado do consórcio, que presta ser­­viços de saúde para 25 municípios do Centro-Oeste. Cerca de 600 pessoas vão até lá todos os dias, para fazer principalmente consultas e exames especializados. Sentada em um banco de madeira, Antônia contou a saga para buscar tratamento para o marido aposentado, que precisa conviver com uma sonda e uma bolsa para armazenar a urina.

A solução dada pelos médicos é a cirurgia para a retirada da próstata. Antônia trenta viabilizar a operação há três meses. Um médico particular pediu R$ 4 mil para fazer a cirurgia, de­­pois de o casal pagar R$ 100 pela consulta – valor inviável por causa da renda da família. Eles recorreram ao Sistema Único de Saúde (SUS), mas antes precisam ser encaminhados por um especialista – antes disso, Luís precisa passar por uma série de exames. O problema é a demora. "Ele não faz xixi há 35 dias e sofre muito com a sonda", lamenta Antônia. Co­­mo sabe que o processo será lento, se adiantou e pagou o eletrocardiograma. "Até o do coração eu paguei para entrar rápido. Paguei R$ 100."

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A lentidão é o reflexo da política de saúde na Região Centro-Oeste do estado nos últimos anos. As prefeituras se uniram em consórcio – prática cada vez mais comum no Paraná, prin­­cipalmente na área da saúde – para oferecer consultas e exames especializados, já que sozinhos os municípios não teriam como arcar com esses custos. O problema é que os atendimentos são feitos em um único local, o que gera filas de espera. A demora tam­­bém se reflete nas cirurgias ou em atendimentos de alta com­­plexidade, realizados pela Santa Casa de Campo Mourão (on­­cologia e ginecologia) e a Cen­­tral Hos­­pitalar (ortopedia).