Cientistas políticos ouvidos pela Gazeta do Povo após o debate de ontem avaliam que faltou aos presidenciáveis Dilma Rousseff e José Serra discutirem questões mais estruturais o debate foi sobre temas pontuais. Ao mesmo tempo, dos três especialistas consultados, dois consideraram que Serra se saiu um pouco melhor na busca do voto dos indecisos, apesar de considerarem que o tucano deveria ter sido mais incisivo.
Para Carlos Luiz Strapazzon, os dois candidatos entraram "programados para falar para os indecisos", o que esfriou os ânimos em relação aos encontros anteriores. "Estavam muito certinhos, muito programados para dar respostas ajustadas àquilo que é a expectativa média de as pessoas ouvirem. Achei que nenhum dos dois abordou seriamente se o Brasil tem ou não tem recursos para fazer esse mundo de coisas que eles falam", disse. "O Serra não assume claramente um projeto de Brasil, mas tenho impressão de que foi mais didático. Fez diferença a qualidade da comunicação, o que não quer dizer qualidade dos argumentos."
Já para o professor da UFPR Ricardo Costa de Oliveira, o fato de Dilma Rousseff liderar as pesquisas dá vantagem à petista no balanço do debate. "Como é por pontos, quem está na frente leva vantagem em um debate com empate técnico. O Serra precisaria de algo extraordinário, alguma diferença que fosse quase um nocaute, e isso não acontece em debate", afirmou. "Foi um encontro bem técnico e sem agressões, com um formato interessante."
A ex-professora da Universidade de Londrina e escritora Maria Lúcia Victor Barbosa também avalia que Serra deveria ter sido mais incisivo. De qualquer maneira, avalia que o tucano se saiu melhor na busca pelos votos dos indecisos. "O Serra articula melhor seus pensamentos. Mas, se as pesquisas estiverem certas, não altera muito a essa altura." Para ela, no debate de ontem, como em toda a campanha, os candidatos ficaram muito presos a questões genéricas. "Eles perdem muito tempo com questões genéricas de saúde e educação, por exemplo. Os dois são economistas, mas por exemplo não foi discutida a dívida púbica, que é avassaladora."