O presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava com "coceira na língua", nas palavras do próprio, e, após uma semana em que denúncias de tráfico de influência derrubaram uma ministra do governo, o foco de seu discurso neste sábado, durante comício em Campinas (SP), tinha endereço certo: a imprensa.
Ele assumiu o papel de rebatedor das denúncias publicadas pela mídia, que colocaram uma nuvem de tensão sobre a campanha da presidenciável Dilma Rousseff (PT), que está em primeiro lugar nas pesquisas e com chance de vencer no primeiro turno da eleição, daqui a 15 dias.
Ao lado de sua candidata, afirmou que iria se conter, mas não conseguiu. Comparou alguns veículos da imprensa a partidos políticos e considerou mentirosas as reportagens.
"Dilma, nós não vamos derrotar apenas os blocos adversários tucanos, nós vamos derrotar alguns jornais e revistas que se comportam como se fossem partido político e não têm coragem de dizer que são partido político e têm candidato", disse.
Referindo-se indiretamente à revista Veja, que publicou a primeira denúncia contra a Casa Civil na semana passada, Lula disse que a publicação destila ódio. "Eu estive lendo algumas revistas que vão sair essa semana, sobretudo uma que eu não sei o nome dela. Parece "Olha". Ela destila ódio e mentira. Ódio", discursou Lula durante o ato político.
Depois de explorar denúncia de tráfico de influência envolvendo a Casa Civil na semana anterior, neste fim de semana a revista Veja afirma que Vinícius de Castro, assessor da mesma pasta exonerado na segunda-feira, teria recebido 200 mil reais em seu gabinete, relacionados à compra de medicamento pelo governo.
A denúncia ocorre após outros casos divulgados pela mídia levarem à demissão de Erenice Guerra do comando da Casa Civil. A saída dela, braço-direito de Dilma enquanto a petista ainda era ministra, ocorreu após denúncia de Veja sobre um suposto lobby no ministério comandado por seu filho, Israel.
A existência do alegado esquema foi reforçado por reportagem do jornal Folha de S.Paulo, publicada na quinta-feira, dia de sua saída do governo.
"Tem dia que determinados setores da imprensa brasileira chegam a ser uma vergonha. Se o dono do jornal lesse o seu jornal e o dono da revista lesse a sua revista, eles ficariam com vergonha do que estão escrevendo", disparou o presidente.
Em alguns momentos, Lula também partiu contra seus adversários. Novamente, assumiu a posição do "nós contra eles" e desafiou uma comparação entre o governo do "metalúrgico" e o dos "sociólogos e engenheiros", numa referência à administração Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
"Não tem nada que faça um tucano mais sofrer do que a gente provar que eles têm um bico muito grande para falar e um bico pequeno para fazer", afirmou.
Dilma preferiu não comentar a nova denúncia durante o ato. Mais cedo, afirmou em entrevista que não havia lido a reportagem da revista mas defendeu rigor na apuração do caso. Em seu discurso no comício, falou sobre educação, mulheres e sobre a continuidade de políticas do governo de Lula caso eleita.
"Eu honrarei esse legado desse governo, que é garantir que esse país seja um país desenvolvido, sem miséria, sem discriminação e seja uma grande democracia, onde todos nós podemos viver em paz", disse a candidata.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Deputados da base governista pressionam Lira a arquivar anistia após indiciamento de Bolsonaro
A gestão pública, um pouco menos engessada
Deixe sua opinião