Um Lula salivante subiu no palanque na noite de terça-feira (10). Falou, como esperado, maravilhas de sua candidata no primeiro comício em Minas Gerais, mas dedicou o dobro do tempo para desferir duros golpes aos adversários, a quem desafiou a "passar o Brasil a limpo".
O presidente previu a vitória de Dilma Rousseff nas eleições de outubro, mas admitiu que o pleito pode ser decidido somente no segundo turno.
"Se não der no primeiro turno, não tem problema. Eu não ganhei no primeiro turno... Como ela é melhor do que eu, mais capaz do que eu e já sabe mais do que eu, ela pode conseguir", disse ele a uma plateia de 7 mil pessoas, segundo dados oficiais da Polícia Militar.
Minas, estado que exibe a cobiçada vitrine de segundo maior colégio eleitoral do país, é constantemente apontado como o fiel da balança da sucessão. Dilma e o adversário tucano, José Serra, disputam cada palmo dessa arena.
Para quem testemunhou o evento da noite passada, Lula parecia querer responder às críticas recentes feitas pela campanha do PSDB a seu governo. Ao mesmo tempo, tentava puxar o oponente para o ringue do "nós contra eles".
"Eles estão incomodados porque eles sabem. Antes, Dilma, diziam assim pra mim: 'onde o Lula inventou essa Dilma? Essa Dilma nunca foi candidata, essa Dilma nunca debateu em lugar nenhum, onde Lula foi arrumar essa Dilma?' E eles, agora, que (antes) não sabiam onde o Lula arrumou a Dilma, já sabem que a Dilma será a futura presidenta da República", alfinetou.
O presidente, habituado a discursos inflamados em agendas de campanha, estava ainda mais ácido. Bradava e gesticulava além do habitual. Estava ali na condição de cabo eleitoral e defensor de seu "legado".
Investiu sempre que pôde na associação com a petista. Num sinal de confiança, declarou que daria não um, mas "dez talões de cheque em branco" a ela.
Para ele, Dilma é portadora de seus votos não por sua popularidade, mas porque o governo é bem avaliado. Segundo analistas, esse dado é visto, de fato, como uma das razões do crescimento de Dilma nas pesquisas.
"Eu acho bom que eles queiram debater o governo; acho bom que eles queriam debater obras. Nós estamos dispostos a fazer comparação, fio de bigode por fio de bigode, estamos dispostos a passar esse país a limpo", provocou.
Inspirado, não poupou nem o Jornal Nacional, da TV Globo. Ao elogiar a presidenciável na entrevista concedida ao telejornal na véspera, queixou-se de uma alegada abordagem agressiva por parte dos entrevistadores. Fez isso dando uma rosa a Dilma "pela calma" nas respostas. Era a deixa para entrar na questão de gênero.
"O maior legado que vou deixar pra esse país não é o Luz para Todos, o Bolsa Família... O maior legado que posso deixar para esse país é não ter tido medo de indicar uma mulher para tomar conta deste país com coração de mãe. E a palavra correta é cuidar, não é governar. Esse país precisa ser cuidado."
CPMF
Remontando o debate na TV Bandeirantes na semana passada, em que Serra acusou o Executivo de pouco investimento e má gestão na saúde, Lula insinuou que o tucano nada fez para evitar a derrota da CPMF no Senado. Disse isso acusando o PSDB de tirar "120 bilhões de reais do governo" (40 bilhões por ano) em recursos para a área.
"Pra depois, na campanha, vir dizer que a saúde não está boa? Era o partido dele, ele era governador (de São Paulo)."
A oposição conseguiu derrotar a proposta de prorrogar o imposto porque o PMDB, parceiro preferencial hoje e na época, decidiu trair o governo e votar com DEM e PSDB.
Não por acaso, Lula pediu votos para eleger uma bancada majoritária no Senado para que Dilma Rousseff não passe o mesmo "sufoco" que ele passou no Senado "com PSDB e DEM".
Dilma falou pela metade do tempo. Antecedeu o presidente, dono do discurso mais forte e normalmente o mais esperado. Disse que seu Estado se orgulhará de ter uma mineira na Presidência da República.
"Nós vamos, sim, ter saudade do presidente Lula, mas vamos honrar a memória de seu governo (elegendo a continuidade)", disse a candidata.
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