Além de mostrar que, a cada dez eleitores, seis votam em José Serra (PSDB), o primeiro turno das eleições provou que em Wenceslau Braz, cidade do Norte Pioneiro, um bom cabo eleitoral e a militância podem fazer a diferença em uma campanha. Na cidade, onde vivem cerca de 19 mil habitantes e 14,5 mil eleitores, tradicionalmente o que dita a regra nas eleições para presidente é o poder de convencimento dos cabos eleitorais.
Foi assim que José Serra conseguiu 63,36% dos votos válidos (6.886) sem nunca ter aparecido na cidade, sem ter enviado pouco ou quase nenhum material de campanha e sem investir um único centavo no município. A diferença é que o tucano teve à sua disposição um grupo de simpatizantes que acabou virando militância. Liderados pelo ex-prefeito Cristovam Andraus (PMDB), o candidato se tornou o preferido dos eleitores. E a tendência é que a história se repita no segundo turno.
Mas outros fatores contribuíram para tanta popularidade. Wenceslau Braz é administrada por um prefeito que apoia a petista Dilma Rousseff e tem uma das piores taxas do Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Paraná, ocupando a 249.ª posição. Mas, mesmo assim, a cidade não conta com nenhuma grande obra do governo federal no combate à pobreza ou de investimento na qualidade de vida da população. A única presença do governo na cidade é o programa Bolsa Família, que atende 1,8 mil cadastrados. Mas nem isso foi suficiente para reverter em votos.
O ex-prefeito Cristovam Andraus reconhece que o fato de a cidade ter apenas dois grupos políticos influencia no resultado das eleições, porque reflete a situação da política local naquele momento. Para ele, sem grande obras, qualquer político perde apoio popular e transferir votos fica mais difícil. "Nosso grupo conseguiu sair vitorioso em todas as disputas, de deputado estadual a presidente", afirma ele.
Porém, José Serra surpreendeu mais por causa da militância em torno do seu nome. O vendedor Francisco Sávio dos Santos é um serrista de carteirinha. Além de votar em Serra, Santos conta que saiu nas ruas pedindo voto para o candidato. Convenceu a família e os amigos. E promete fazer o mesmo até dia 29. "Agora o alvo são os votos da Marina Silva", diz ele.
A aposentada Maria de Lourdes Fonseca, 74 anos, afirma que Serra, além de "melhor ministro da Saúde do Brasil", ainda "criou" os genéricos. "E o que a Dilma fez?", indaga. Sem nenhuma bandeira e apenas com adesivos feitos de forma artesanal, os fãs de Serra vão conseguindo fazer a diferença. A prioridade, diz o ex-prefeito Cristovam, é fazer valer a tradição também no 2.º turno.
Tradição tucana
José Luiz Andraus, chefe da gabinete da prefeitura de Wenceslau Braz e braço direito do prefeito, Atahyde Ferreira dos Santos Júnior (PSDB), diz que a cidade tem uma tradição de votar nos candidatos tucanos. Segundo ele, isso acontece desde 1989, quando Mário Covas era o presidenciável do recém-criado PSDB. O chefe de gabinete vai mais longe e considera que os votos de Dilma (28,99%) até surpreenderam, em função da sua baixa popularidade na cidade. "Fizemos bem mais do que podíamos. Considero que ela foi até bem votada."
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