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Manual do eleitor

Cinco dicas para acompanhar o horário eleitoral sem se iludir com o marketing político:

1) Não é jornalismo, nem cinema - As campanhas desenvolvem formatos que imitam telejornais, filmes e videoclipes. Começou em 1989, quando o programa de Lula era a Rede Povo, uma paródia da Rede Globo. A ideia é transmitir credibilidade. Mas, ao contrário do jornalismo de verdade, eles só transmitem uma versão – a que favorece o candidato.

2) Cuidado com a emoção - A melhor maneira de criar magnetismo com o eleitor é passar emoção. Por isso as campanhas apostam em histórias tristes e também felizes, tentando mostrar o lado humano do candidato. Ontem, Dilma contou que quando criança rasgou dinheiro para compartilhar com um menino pobre. Serra disse que seu pai carregou caixas de frutas para ele carregar caixas de livros.

3) Cheiro de povo? - Os candidatos vão se esforçar durante toda a campanha para passar a imagem de que são parecidos com o cidadão comum. Ou seja, vão aparecer dezenas de vezes em meio ao povo, em situações que obviamente estão fora da sua realidade. Serra, por exemplo, usou ontem cenas em que almoça em um restaurante popular.

4) Compare versões - Horário eleitoral é como uma novela, tem início, meio e fim. Começa com as biografias, que situam os candidatos para o eleitor, passam pelas propostas até que, mais para o final, vêm o debate de ideias, a desconstrução do adversário e os ataques. Mas eles sempre vão parecer mocinhos em todas as etapas. Por isso é bom acompanhar os programas de todos os adversários e comparar versões no "mundo real".

5) Nada é tão simples - Administrar um estado ou um país é uma tarefa hercúlea, impossível de ser descrita em poucos minutos. Por isso os candidatos elegem no máximo cinco grandes temas de campanha, normalmente baseados em pesquisas de opinião pública. No geral, são apresentadas soluções simplistas para temas complexos como saúde, educação e segurança pública. Sempre busque mais detalhes para não cair na propaganda enganosa.

Culinária indiana

Dadaísmo ou não, o primeiro dia de programação eleitoral nos lembrou da culinária indiana, mais propriamente de um prato – o chamado "maharaja thali". Que não é propriamente um prato, mas um perfil de refeição cuja lógica é absolutamente simples: por um preço ínfimo, você recebe uma travessa redonda, grande, internamente dividida em várias pequenas células.

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Brasília - Os dois principais candidatos à Presidência da República escolheram estratégias diferentes para o mesmo propósito na estreia do horário eleitoral gratuito na televisão. Ambos valorizaram a própria biografia, mas enquanto José Serra (PSDB) preferiu imagens ao lado de pessoas comuns, Dilma Rousseff (PT) apareceu quase sempre sozinha. Os programas também foram pontuados pelo enaltecimento de Lula e pela utilização de novos truques de linguagem de cinema e jornalismo.

Já Marina Silva (PV) foi a única entre os quatro principais concorrentes que fugiu da apresentação pessoal e aproveitou o tempo de 1m23s a que tinha direito para defender a bandeira do meio ambiente. Com menos tempo ainda, Plínio de Arruda Sampaio (PSol) mostrou o passado em defesa da reforma agrária. Os demais candidatos reforçaram o discurso alternativo, contra os nomes majoritários nas pesquisas.

Serra abriu a transmissão de 7m18s enfatizando a origem humilde. Ressaltou que o pai era vendedor de frutas e que sempre estudou em escolas públicas. Depois, focou na trajetória política e tentou expor uma imagem de gestor preparado para o cargo, quase sempre com base nos feitos na área de saúde.

Com 10m38s à disposição, Dilma apresentou várias imagens da infância e contou histórias comoventes, como quando rasgou uma nota para "dividir" dinheiro com uma criança pobre. Deu destaque ao período em que atuou em movimentos contrários à ditadura militar e usou depoimentos de colegas de prisão – ela foi presa política entre 1970 e 1972. Em tom de documentário, o programa também mostrou imagens cotidianas de Dilma, passeando com o cachorro e andando de carro em Brasília.

O espaço petista na televisão teve dois depoimentos de Lula, gravados sem o presidente olhar diretamente para a câmera, para dar um ar de espontaneidade. Ele falou sobre o momento em que conheceu Dilma e que precisou "apenas de uma reunião" para decidir que ela seria ministra de Minas e Energia, em 2003. Também deu o crédito da sua gestão bem avaliada no Palácio do Planalto à capacidade de coordenação administrativa de Dilma.

Tanto no rádio quanto na televisão, o programa de Serra surpreendeu ao apresentar um jingle que cita o presidente. "Quando o Lula da Silva sair, é o Zé que eu quero lá", diz a canção. O tucano também fez poucas críticas ao atual governo e, sempre que pôde, usou o slogan "O Brasil pode mais".

Para o cientista político Leonardo Barreto, da Uni­­versidade de Brasília, Serra usou a mesma estratégia de popularização adotada por Geraldo Alckmin (PSDB) em 2006. "A tentativa de tornar o candidato mais popular é válida, mas tem limites. Houve um excesso no final do programa quando o Serra, que é paulistano, apareceu em uma suposta favela do Rio de Janeiro participando de um churrasco na laje – ainda por cima embalado por um pagode que cita o Lula", analisa. Barreto também avaliou que o programa de Dilma apresentou-a em uma espécie de "estufa", sem contato com gente.

Apesar do longo período de exposição no rádio e na televisão, o especialista em marketing político Gaudêncio Tor­­quato vê poucas chances de o horário eleitoral mudar o resultado das eleições. Ele defende que a decisão de voto obedece três critérios – mo­­mento econômico (40%), apoios políticos (30%) e imagem do candidato (30%). "O peso é relativo, os programas valem mais para reforçar a ideia daqueles que já se decidiram e caçar alguns indecisos."

O presidente da Associação Brasileira de Consultores Políticos, Carlos Manhanelli, tem outra opinião. "A distância entre Dilma e Serra ainda é muito pequena para achar que está tudo decidido." Segundo ele, o marketing ajuda, mas não faz milagre. "Se o candidato é ruim, mesmo uma propaganda muito boa não vai conseguir mudar essa imagem."

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