A discussão sobre temas ético-religiosos na campanha presidencial é um avanço ou um retrocesso da democracia brasileira?
A ideia de um Estado laico, como o brasileiro, é um fato importante da modernidade, na medida em que você não discrimina quem tem determinada prática ou crença diferente da maioria. Outra coisa é definir que as questões políticas não devem ter nenhuma ligação com a religião e a cultura de um povo. Há inúmeros grupos organizados que influem, fazem lobby. Não me parece nada antidemocrático o fato de existir esse lobby com raízes religiosas. É até bem razoável. Também não é algo incompatível com o Estado laico, como muitos tentam defender.
Esses assuntos não deveriam se restringir às eleições para o Congresso Nacional?
O ideal seria que sim. São os congressistas que formulam as leis. Mas do jeito que está organizado o sistema político brasileiro, o presidente tem até mais força legislativa que os parlamentares. As reformas importantes, que deveriam ser questões do Congresso, acabam centralizadas nas mãos do presidente. A gente pode achar uma pena, mas é assim que funciona. Por isso não dá para negar que o aborto, por exemplo, é um assunto importante. À medida que o presidente tem força para elaborar um projeto sobre esse assunto, a sociedade tem o direito de saber o que ele pensa.
Qual é o maior erro que um político pode cometer ao tratar desses temas?
É não ouvir a outra parte. O problema do aborto, como o de outras várias polêmicas, é que os políticos chegam à discussão levados por preconceitos. Há muito pouco debate substancial, fundamentado em argumentos que inclusive podem ser religiosos. Do ponto de vista programático, sempre vi o PSDB muito próximo ao PT nessas questões. Minha desconfiança é que o PSDB está assumindo uma oportunidade eleitoral [ao criticar o PT por defender a descriminalização do aborto] e não querendo aprofundar a discussão, o que seria bom para todos.
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