Enquanto o candidato ao governo Beto Richa (PSDB) enfatiza em suas propostas o desenvolvimento do Paraná, Osmar Dias (PDT) decidiu priorizar a promoção de ações sociais. O tucano tem um programa de gestão à direita do espectro político, mais focado na economia. Já o plano do pedetista está mais à esquerda, preocupado com questões sociais. Essas conclusões podem ser extraídas da análise do texto dos planos de governo apresentados à Justiça Eleitoral pelos dois principais concorrentes ao Palácio Iguaçu. Para analisar os dois programas de governo, a Gazeta do Povo utilizou um programa de informática que cria uma espécie de "nuvem de palavras", mostrando quais termos e expressões são mais usadas em textos e discursos. E consultou especialistas para comentar as "nuvens".
O resultado mostra que, nas entrelinhas de suas propostas, os dois candidatos são mais diferentes do que costumam aparentar. "As palavras isoladas ou em expressões são cheias de significados e encharcadas de ideologia. O uso repetido é funcional para evidenciar linha ideológica ou a falta dela", explica a professora Deizi Link, especialista da PUCPR em semântica e análise de discurso consultada pela Gazeta do Povo.
Lema tucano
A "nuvem de palavras" do plano de Richa mostra que o termo preferido do tucano é "Paraná" , usado na maioria das vezes para encerrar frases como "... estratégia de desenvolvimento de todo o Paraná". Em segundo lugar vem a palavra "desenvolvimento", cujo uso reiterado a transforma num lema da campanha do candidato do PSDB.
Essa análise é corroborada pelo levantamento das palavras duplas que mais se repetem ao longo do discurso de Richa. Algumas das expressões mais utilizadas no programa do candidato são justamente "desenvolvimento humano" e "desenvolvimento econômico". Também aparece com frequência no texto tucano a expressão "valor agregado" jargão empresarial, com forte conotação econômica, de desenvolvimento industrial.
"Pequenos municípios" também é um termo duplo que aparece várias vezes nas propostas do candidato, indicando que Richa pretende dar especial atenção às cidades com população pequena do interior.
No plano tucano, chama ainda a atenção a referência ao próprio candidato. A expressão "Beto Richa" é a segunda mais frequente no texto. "O Richa tem muita preocupação em construir a própria imagem de estadista moderado. Fala muito de si", observa a professora Deizi Link.
Interesse social
Já nas propostas de Osmar, a palavra mais recorrente é "ações", na maioria das vezes usada como alternativa a uma certa vagueza nas propostas de políticas públicas, em expressões como "... execução das ações necessárias". "O programa propõe muita coisa, mas deixa muito em aberto", analisa Deizi.
Logo depois, o segundo termo mais usado no programa do pedetista é o verbo "promover", normalmente seguido por menções a questões sociais. A palavra "social" é a terceira que mais aparece.
Analisando as expressões (palavras duplas) mais usualmente empregadas no plano de Osmar, a que mais ocorre é "regiões metropolitanas". Isso pode indicar que, ao contrário de Richa, o foco de um eventual governo de Osmar não serão os pequenos municípios, mas as grandes aglomerações urbanas.
Em seguida, as expressões mais recorrentes no programa de gestão do pedetista é "interesse público" e "empresas públicas". Osmar, aliás, vem enfatizando de forma enérgica a defesa das estatais paranaenses, usando a promessa de que não fará privatizações como um de seus principais compromissos de campanha.
Influência partidária
A cientista política Maria Lúcia Victor Barbosa, professora aposentada da Universidade Estadual de Londrina (UEL), afirma que a "nuvem de palavras" do plano de Osmar, com mais peso nas ações sociais, mostra uma clara influência dos partidos que compõem a coligação dele (principalmente PDT, PT e PMDB). "A orientação é mais paternalista e populista, próxima da ideologia do PT e do presidente Lula [aliados de Osmar]. Soa humano e simpático, por mais que ele não venha a cumprir o que foi prometido [se for eleito]", diz Maria Lúcia.
Por outro lado, diz ela, o programa de governo de Richa, baseado em desenvolvimento, passa a ideia de pragmatismo em oposição ao discurso populista de inclusão social. "Ele procura representar a figura mais jovem, de alguém que pode trazer renovação. A ênfase no desenvolvimento cria a ideia de mudança em todos os setores", afirma a cientista política.
Já a doutora em Ciência em Comunicação Lucília Romão, da Universidade de São Paulo (USP), tem um entendimento diferente do da cientista política. Para ela, "desenvolvimento" evoca a ideia do "Brasil Grande", ideologia do século passado. "É uma palavra tatuada por uma rede histórica de filiação política elitista. O desenvolvimento nunca é igual para todos", afirma Lucília.
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