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Serra, Dilma e Marina, antes do debate: os dois primeiros “ignoraram” a candidata do PV e Plínio de Arruda Sampaio, do PSol | Rahel Patrasso/Futura Press
Serra, Dilma e Marina, antes do debate: os dois primeiros “ignoraram” a candidata do PV e Plínio de Arruda Sampaio, do PSol| Foto: Rahel Patrasso/Futura Press

Opinião

Novata, Dilma gagueja, mas não cai

André Gonçalves, correspondente em Brasília

Uma dúvida pairava em torno do primeiro debate entre os presidenciáveis. Como se sairia a única entre os quatro candidatos que nunca antes na história deste país havia disputado uma eleição? Dilma Rousseff (PT) não foi bem. Mas também não foi mal.

A petista levou para o encontro a excelente performance na pesquisa CNT/Sensus (veja detalhes na página 17), que a colocou dez pontos porcentuais na frente de José Serra (PT). Vestiu colar de pérolas e uma roupa talvez extravagante demais, ao estilo Marta Suplicy. Gaguejou muito até o terceiro bloco, mas usou a muleta de sempre para permanecer de pé – o governo Lula.

Dilma falou o tempo inteiro como se fosse o próprio presidente. E, com base no atual governo, tentou acuar José Serra, lembrando que os petistas geraram mais que o dobro de empregos dos tucanos. Parecia jogo de cartas marcadas.

Serra, o experiente, respondeu que não fazia política olhando para trás. Ou seja, não quis defender o legado de FHC. Esperava-se do ex-governador uma postura mais incisiva, o que não aconteceu. Ele até partiu para o ataque algumas vezes, quase chorou nas considerações finais, mas Dilma conseguiu se equilibrar (apesar de também quase cair nas lágrimas).

Em resumo, não serão os debates televisivos que mudarão o rumo das eleições. O modelo é engessado e com quatro nomes fica mais difícil de a discussão avançar. Raramente as propostas saem da superficialidade, o que abre brecha para que todos só repitam mais do mesmo.

Ou seja, Dilma vai continuar falando como Lula. Serra vai continuar driblando as mesmas enrascadas. Um simples jogo para ver quem erra menos.

  • Dilma: roupa chique no debate.

Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) centralizaram o primeiro debate na televisão entre os candidatos à Presidência da República desta campannha eleitoral, realizado ontem à noite pela Band TV. Os dois aproveitaram todas as opor­­­tunidades que tiveram para centrar o foco um no outro. Serra buscou criticar a administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), principal cabo eleitoral de Dilma. E a petista procurou apontar os fracassos da gestão do ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso. O tema "corrupção", que atingiu tanto a administração de FHC quanto a de Lula, foi ignorado pelos dois principais concorrentes ao Palácio do Pla­­­nalto.

Na tentativa de desqualificar um ao outro, Serra e Dilma praticamente esqueceram os outros dois candidatos convidados a participar do evento, Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (PSol). Marina e Plínio chegaram a ficar blocos inteiros sem receber nenhuma pergunta de seus oponentes, o que era permitido pelas regras.

O debate, que foi o ar das 22 ho­­­­ras de ontem até pouco depois da zero hora de hoje, começou morno, com uma pergunta da organização para todos os candidatos. Eles tinham de escolher, como primeiro ponto a "atacar" em seu possível governo, um de três temas: educação, saúde ou segurança.

À exceção de Marina, que escolheu a saúde, dizendo que já tinha sofrido por falta de bom atendimento gratuito, os outros disseram que não havia como escolher um dos três. Serra chegou a dizer que era como escolher entre três órgãos vitais do corpo humano.

Jornada de trabalho

Quem começou a elevar um pouco o tom do debate foi o candidato Plínio de Arruda Sampaio. Fez a mesma pergunta a Dilma e depois a Serra – se eles aceitavam o que ele chamou de reivindicações dos movimentos sociais. Incluiu nesse pacote a limitação do tamanho de fazendas no Brasil e a redução da jornada de trabalho sem diminuição do salário. Dilma e Serra evitaram respostas radicais. Serra disse ser contra as duas propostas. E Dilma disse que a jornada não deve ser assunto do governo e sim de uma negociação entre patrões e trabalhadores. Afirmou ainda ser contra a limitação do tamanho das propriedades rurais.

Depois, a partir do fim do primeiro bloco, Serra e Dilma começaram finalmente a se enfrentar diretamente. Primeiro foi Dilma quem perguntou a Serra sobre o número maior de empregos que a gestão presidencial do PT criou, em relação ao governo do tucano Fernando Henrique Cardoso. Como Serra pretendia mudar isso? Serra foi evasivo e respondeu atacando deficiências da gestão de Lula, dizendo que o PT deixou os aeroportos e os portos do país "engarrafarem". Dos 20 maiores portos do país, segundo ele, 19 estariam com problemas. As estradas também estariam mal. A BR-116, entre Curitiba e São Paulo, foi citada como mau exemplo.

A partir daí, os dois monopolizaram as perguntas, praticamente esquecendo os outros dois candidatos que participavam do debate. Serra perguntou, por exemplo, por que o governo federal estaria prejudicando os alunos das Apaes [entidades de assistência a pessoas com deficiência] ao cortar verbas de transporte. Classificou isso como uma "crueldade". Dilma elogiou as Apaes e disse que o atual governo ajudou muito os portadores de deficiência.

O centro do debate se voltou para os dois candidatos. Plínio chegou a reclamar. Disse que os dois criaram um "blocão" e esqueceram dos demais concorrentes. Afirmou que ele também queria receber perguntas. Mas Serra e Dilma ignoraram o protesto e continuaram debatendo entre si. A única pergunta para Plínio, durante todo o debate, foi feita por Marina.

Socialista radical

Quando tiveram chance de apa­­­recer, Plínio e Marina tentaram se diferenciar dos dois candidatos mais fortes. O candidato do PSol fez um discurso socialista radical, defendendo uma divisão de renda mais rápida no país, com reforma agrária em um novo nível. Com isso conseguiu se destacar em relação aos oponentes. Ma­­­­rina apostou na sua biografia, lembrando a sua infância pobre.

No quarto bloco do programa vieram as perguntas feitas por jornalistas do grupo Bandeirantes. Para Dilma, a pergunta, feita pelo jornalista Joelmir Betting, foi sobre política econômica. Até quando o povo brasileiro terá de conviver com juros tão altos e com a atual carga de impostos? Dilma defendeu uma reforma tributária que desonere os investimentos e disse que a atual política do governo será suficiente para, em um futuro breve, diminuir a taxa de juros.

O jornalista José Paulo de Andrade, o segundo a perguntar, disse a Serra que ele e o PSDB tentam "esconder" o governo FHC. E perguntou se ele não faria novas privatizações. Serra respondeu que vai tratar o patrimônio público sem "arrebentar" empresas importantes. Citou como exemplo os Correios, que segundo ele teriam piorado no atual governo devido ao loteamento de cargos.

Para Marina Silva, Joelmir Betting perguntou se a prioridade deveria ser combater o aquecimento global ou problemas ambientais do dia a dia, como a falta de esgoto. A candidata respondeu que tudo faz parte da mesma equação, e que não é possível separar um problema do outro.

A última pergunta da noite foi a Plínio de Arruda Sampaio. José Paulo de Andrade, da Band, quis saber por que o candidato e seu partido são a favor de propostas radicais, como a ocupação de terras, e por que ele é contra projetos como o da Hidrelétrica de Belo Monte, que está sendo construída pelo governo federal no Pará. O can­­­didato afirmou que Belo Monte é um erro econômico e que reforma agrária só se faz com pressão das massas.

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