O que esperar do próximo presidente do Brasil? Muito mais do que tentar fazer um tira-teima entre as gestões do PT e do PSDB, quem assumir o Palácio do Planalto tem a obrigação de manter e ampliar as conquistas sociais e econômicas do Brasil nos últimos 16 anos. Grande parte da estrada já está pavimentada, mas caberá a Dilma Rousseff (PT) ou José Serra (PSDB) liderar a caminhada.
Para fazer um breve balanço das gestões do tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e do petista Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), a Gazeta do Povo consultou dados sobre diversos indicadores relevantes e contou com a colaboração de especialistas, doutores em sua área de conhecimento. Eles também ajudaram a apontar alguns dos caminhos que precisam ser trilhados pelo próximo chefe da nação em algumas áreas prioritárias.
Em linhas gerais, não se espera nenhuma grande mudança em relação ao que já vem sendo adotado. Essa expectativa decorre não apenas do desenvolvimento já "engatilhado" em várias áreas, mas é fruto da falta de planos de governo dos candidatos. Nem Dilma nem Serra publicaram um documento amplo sobre suas metas para o Brasil.
A estabilidade econômica, grande marca de FHC, foi mantida por Lula e praticamente se tornou patrimônio nacional. Os grandes avanços nessa área, entretanto, só foram possíveis pela atuação de outro presidente: Fernando Collor (1990-1992). "Tanto FHC como Lula fazem parte de um projeto que começou com Collor: o de inserção do país no comércio internacional, facilitando as importações e exportações, permitindo a maior industrialização do Brasil e o maior consumo", diz o doutor em desenvolvimento econômico José Guilherme Vieira, professor da UFPR.
De lá para cá, o número de empregos formais passou de 22,3 milhões em 1992 para 35 milhões atualmente. Durante o governo de Fernando Henrique, a alta foi de 21%, com incremento de 5 milhões de vagas. Entre 2003 e agosto de 2010, na gestão de Lula, foram criadas 10 milhões de vagas, variação positiva de 28%.
Dívidas
Luciano Nakabashi, doutor em economia e professor da UFPR, destaca que o governo Lula conseguiu reverter os déficits na balança comercial (diferença entre o que é exportado e importado pelo país), comuns na gestão anterior. Mas ele pecou ao manter os gastos públicos muito elevados, assim como a dívida interna. "Ele teve mais condições de controlar os gastos, porque a economia estava crescendo; mas não o fez."
De 2003 a 2008, na gestão Lula, o Produto Interno Bruto (PIB) médio anual do Brasil ficou acima da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), que reúne as grandes economias europeias, os Estados Unidos e o Japão. A taxa brasileira média ficou em 4,13%, contra 2,38% dos demais países. Entre 1995 a 2002, na administração tucana, a situação era inversa. Durante o governo de FHC, o Brasil cresceu em média 2,29%, contra 2,83% das 30 nações da OECD.
A dívida interna, que começou a crescer a partir de 1995, está hoje no auge. Em agosto deste ano, chegou a 39% do PIB. Em sete anos e oito meses, foi uma alta de 14,4 pontos porcentuais. No mesmo período durante a gestão FHC, a variação foi ainda maior (18,5 pontos), mas a dívida não passou de 24,27% das riquezas nacionais.
Na administração petista, o que acabou foi a dívida externa. De 1992 (primeiro dado disponível) até 1996, ela foi caindo, chegando a 11,2% do PIB. Depois, voltou a subir, atingindo o pico de 32,7% do PIB em 2002 último ano da gestão FHC. Em 2007, já na era Lula, o Brasil deixou de ser devedor externo, acumulando um saldo positivo de 0,9% do PIB.
Mudanças
Os dois professores da UFPR dizem que a redução dos gastos será fundamental a partir do ano que vem. E apostam que deve ocorrer um arrocho no salário dos funcionários públicos. "Indepen-dentemente de quem assuma, vem um controle de gastos por aí. Deve ocorrer no primeiro ano de mandato, pois é muito impopular. E, até a próxima eleição, [o arrocho] já foi absorvido", diz Vieira.
Dilma e Serra também têm se mantido calados sobre a valorização do real diante do dólar. Mas, provavelmente, tomarão alguma medida cambial. "A gente vinha com superávits na balança e passamos a ter déficits que, se continuarem por dois ou três anos, vão frear o crescimento. É preciso uma política de estímulo à exportação", afirma Nakabashi.
Serra, considerado desenvolvimentista, deve interferir para ajudar setores específicos da economia. Mas se espera também que Dilma tome algumas medidas, porém mais abrangentes.
"Temos de ter em mente que o Brasil está entrando em um período de prosperidade. Vendemos commodities, que é o que o mundo quer, e a China não para de comprar. Devemos receber ainda muitos investimentos estrangeiros e teremos a Copa do Mundo e a Olimpíada", observa Vieira.
Mas, justamente para dar conta desses grandes eventos mundiais, o próximo presidente terá de investir naquilo que nem FHC nem Lula fizeram da forma esperada: investir em infraestrutura. "O Lula começou a fazer, mas não na velocidade necessária. Nossos portos, aeroportos, estradas, foram solenemente ignorados por muitos anos. Outro absurdo é o gargalo energético que poderemos ter em breve, pela falta de linhas de transmissão."
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