Lula, em comício do 1º de Maio deste ano, promovido pela Força Sindical, entidade que se mantinha afastada do PT, mas acabou aderindo: cinco das seis principais centrais do país apoiam Dilma , a candidata do presidente| Foto: Ricardo Stuckert/Presidência

Virando político

Confira cinco sindicalistas que deixaram os sindicatos para entrar na política:

Lula

Há 30 anos, o atual presidente da República comandou a greve mais importante da história brasileira. Mesmo sob repressão da ditadura militar, 80% dos 200 mil metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema cruzaram os braços por 41 dias. O feito consolidou o PT e a CUT.

Lech Walesa

Também em 1980, o polonês fundador do Sindicato Solidariedade conduziu mais de 50 mil grevistas no estaleiro de Gdansk contra as políticas trabalhistas do comunismo. Assim como Lula, também foi preso e eleito presidente, em 1990. Não conseguiu voltar ao poder nas eleições de 1995 e 2000.

Luiz Antonio de Medeiros

Foi o anti-Lula do sindicalismo dos anos 1980. Em 1991 fundou a Força Sindical, em oposição à CUT. De comunista e exilado no anos 1970, elegeu-se deputado federal pelo PFL (atual DEM) em 1998. Em 2007, aderiu ao governo Lula.

Paulinho da Força

Sucessor de Medeiros na Força Sindical, foi candidato a presidente em 2002 na chapa de Ciro Gomes. Está no primeiro mandato como deputado federal.

Vicentinho

Foi presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema e, depois, assumiu a CUT. Está no segundo mandato como deputado federal pelo PT.

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Entrevista

José Pastore, sociólogo da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em economia do trabalho

Qual deve ser o limite entre sindicalismo e política?

O limite, em geral, é dado pela prática. Se avaliarmos todo o mundo desenvolvido, políticos e sindicalistas só andam juntos antes das eleições.

Depois é cada um para o seu lado. O candidato que vence e é apoiado pelos trabalhadores logo começa a cobrar moderação por parte dos sindicatos, que não esquecem o seu papel. Isso gera um processo de afastamento, que chega a um inevitável divórcio. Já nos países mais pobres, especialmente na América Latina, o governante é tentado a cooptar os sindicatos o tempo todo. Aí, ele pede moderação e eles simplesmente obedecem, sem contestar.

Como é essa cooptação?

Ela é feita com cargos, dinheiro e poder. Há, por exemplo, vários projetos em tramitação no Brasil para ampliar ainda mais o imposto sindical ou para dar mais atribuições aos sindicatos. Além disso, o governo Lula alocou muitos e muitos sindicalistas no conselho das empresas estatais e em cargos executivos.

Os sindicatos saem mais fortes do governo Lula?

Em muitas áreas, eles estão mais fortes. Eles têm muito mais recursos para mobilização, estão mais equipados, contam com um pessoal mais preparado. São bem mais capazes para sentar nas mesas de negociação e apresentar argumentos fortes. Em relação à antiga atitude contestadora, de luta, eles saem mais fracos. Há um espírito de moderação.

O apoio quase integral das centrais a Dilma é bom para as entidades trabalhistas?

Se ela ganhar, o modelo atual vai se repetir ou até ser radicalizado. O Brasil é tentado a seguir o caminho do peronismo sindical praticado na Argentina. Lá, as benesses oferecidas foram tão grandes que o país se transformou em uma república de sindicalistas.

Qual é o futuro do sindicalismo no Brasil?

No curto prazo, depende de quem vencer a eleição. No caso da Dilma, vai continuar o modelo atual, muito aparelhamento do Estado, onde a carteirinha do sindicato vale mais do que o mérito.

Tenho impressão de que o Serra valorizaria mais o mérito. Mas o indiscutível é que ele, caso vença, terá uma duríssima oposição sindical pela frente. (AG)

Confira o peso de cada central sindical

Um grupo que representa 4,5 milhões de trabalhadores, estruturado e com dinheiro, está na linha de frente das eleições de 2010. Não é o PT. Mas joga quase todo a favor da candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff, e dos governistas que disputam as eleições deste ano nos estados. Mais misturadas com a política do que nunca, as centrais sindicais usam as armas que possuem para permanecer próximas ao poder. Cinco das seis principais entidades sindicais do país já declararam apoio formal ou informal à ex-ministra da Casa Civil – Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical, Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), Nova Central e Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (NGTB). A União Geral dos Traba­lhadores (UGT), terceira em número de sindicatos filiados, rachou entre a petista e José Serra (PSDB). A proporção se reproduz na disputa pelo Palácio Iguaçu, com a maioria favorável a Osmar Dias (PDT) e apenas metade da UGT ao lado de Beto Richa (PSDB).

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Peso sindical

O apoio das centrais não é desprezível. Somadas, elas contam com 40% a mais de filiados que PT (1,4 milhão) e PSDB (1,3 milhão) juntos. Além disso, entre 2008 e 2009, dados do Ministério do Trabalho apontam que elas foram turbinadas com R$ 144,5 milhões da contribuição sindical paga pelos trabalhadores com carteira assinada.

Com os bons ventos da economia e o aumento do emprego formal, o valor do repasse pode até dobrar neste ano. Comparado com outras estruturas similares, o orçamento pode ser considerado pequeno, mas salta aos olhos quando a soma leva em conta os recursos de 5.796 sindicatos que estão sob o guarda-chuva das centrais. Somente nos primeiros sete meses de 2009, o imposto gerou R$ 1,7 bilhão. Cabe aos sindicatos, confederações de trabalhadores, federações e centrais 60% do total da contribuição sindical.

É essa maré de generosidade para os sindicalistas que leva ao apoio majoritário das entidades a Dilma. Além disso, ela é a candidata de Lula, o operário que chegou ao Planalto – e que depois disso não se esqueceu dos aliados do passado. Vários nomes do primeiro escalão do governo, como o bancário paranaense Paulo Bernardo, hoje ministro do Planejamento, são originários do movimento sindical.

A influência mais visível está no Ministério do Trabalho, desde 2003 conduzido por políticos que começaram nos sindicatos. Começou com Jaques Wagner, passou por Ricardo Berzoini, até chegar ao ex-presidente da CUT Luiz Marinho. Em 2008, por pressão do presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, a pasta foi assumida pelo pedetista Carlos Lupi.

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Presidente parceiro

No plano legal, Lula também foi parceiro ao vetar parte da lei que formalizou as centrais, em 2008. O trecho cortado pelo presidente permitia a fiscalização do Tribunal de Contas da União à aplicação da contribuição sindical pelas centrais. "Os sindicalistas foram tratados como aliados e foram aquinhoados com cargos. Em troca, não causaram problemas comuns no governo FHC", avalia o cientista político Carlos Melo, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper).

Para Melo, houve uma "cooptação natural" dos movimentos de trabalhadores. Primeiro porque a maior central do país, a CUT, tem as mesmas raízes do PT e seria coerente que cedesse quadros para o governo. O cenário econômico também facilitou o diálogo e atraiu dissidentes como a Força Sindical, que mantinha distância dos petistas.

Nessa linha, uma análise do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socio­econômicos (Dieese) prevê que o número de categorias profissionais com reajuste superior ao índice de inflação deve bater recorde em 2010. A melhor marca em todos os tempos também é do governo Lula. Em 2007, 87,7% das negociações salariais de todo Brasil geraram ganhos reais para o trabalhador.

O economista Anselmo Santos, da Universidade de Campinas (Unicamp), explica que os dados deixam a base dos trabalhadores satisfeita, o que também se reflete na avaliação do governo e na tendência de voto pela continuidade da gestão petista. "O atrito foi menor porque o contexto foi melhor", diz.

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Para Santos, o movimento sindical não foi meramente cooptado e merece crédito. "As centrais tiveram papel decisivo em questões como o aumento real do salário mínimo e a ampliação da licença-maternidade. Também foram maduras durante a crise econômica mundial [entre 2008 e 2009]." Na época, Lula agiu em conjunto com os líderes sindicais para reduzir o desconforto provocado pelo aumento de demissões.

Bancada sindical encolheu na gestão Lula

A bancada sindical no Congresso Nacional tenta recuperar em 2010 as dez cadeiras que perdeu em 2006 – ano da reeleição de Lula. Em 2002, o grupo contava com 74 parlamentares. Quatro anos depois, passou para 64. E, em números atualizados, tem apenas 61, segundo o Departa­­mento Intersindical de Análise Parla­mentar. Hoje, ela corresponde a metade da bancada ruralista.

Apesar da previsão de que o grupo tende a crescer novamente, apenas 47 dos atuais representantes tentarão a reeleição. Entre os nomes mais fortes que deixarão o parlamento estão os dos senadores Marina Silva (PV), que concorre à Presidência, e Tião Viana (PT), candidato a governador do Acre.

Na lista da atual bancada sindical há três paranaenses petistas – os deputados federais Ângelo Vanhoni, Assis do Couto e Dr. Rosinha. Todos são candidatos à reeleição. "A força do movimento sindical é legítima e pode ser decisiva em uma eleição porque consegue cativar a base eleitoral", opina Rosinha, que foi fundador do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Curitiba.

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As principais bandeiras da bancada são a redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais, a política de aumento real do salário mínimo e a manutenção dos direitos trabalhistas previstos na Constituição.

Osmar herda apoio do movimento no Paraná

A coligação com o PT de Dilma Rousseff e o PMDB de Roberto Requião rendeu a Osmar Dias (PDT) o apoio maciço do movimento sindical no Paraná. Uma série de comitês eleitorais de trabalhadores, especialmente em empresas estatais, já estão em funcionamento para apoiar o pedetista. Já Beto Richa (PSDB) tem encontrado resistências entre os sindicalistas.

O secretário-geral da Força Sindical no estado e vereador em Curitiba, Clementino Vieira (PMDB), afirma que as centrais sempre tiveram bom relacionamento com Requião – o que incluiu uma série de cargos no governo. "Nós, da Força, entramos de cabeça na parceria com o PMDB e estamos trabalhando a favor de todos os candidatos da chapa", diz.

Do lado tucano, o candidato sindicalista a deputado estadual, Marcelo Urbaneja (PMN), vice-presidente da UGT, diz que o adesismo da maioria das centrais às campanhas apoiadas pelo PT é ruim para o sindicalismo. "Os políticos da CUT e da Força Sindical são governo, mas não trabalham para o trabalhador. Não conseguiram encampar as reformas trabalhista, previdenciária e sindical. Eles são apenas mais gente na folha de pagamento do governo."

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