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Yuri Mendes, 17 anos, se prepara para as primeiras eleições: “fazendo a minha parte, posso contribuir e mudar o futuro” | Roberto Custódio
Yuri Mendes, 17 anos, se prepara para as primeiras eleições: “fazendo a minha parte, posso contribuir e mudar o futuro”| Foto: Roberto Custódio

Falar a linguagem da juventude

Para o coordenador das eleições 2010 em Londrina, juiz Jamil Riechi Filho, uma forma de atrair os adolescentes às questões políticas está na linguagem usada para se tratar do assunto. O magistrado ressalta que os políticos devem saber "ouvir as reclamações deles" e toda a sociedade mostrar que eles são imprescindíveis para o processo.

E para ouvir e entender o que os novos eleitores querem é preciso ir até eles. Nesse ponto, Riechi Filho reconhece que a sociedade falha, incluindo a Justiça Eleitoral. "Nós, do Eleitoral, devemos ter a disposição de ir às escolas e fazer o título lá, com eles. Tirar essa responsabilidade de eles terem que vir até o cartório. Mesmo facultativo, o voto é uma forma de educá-los. É preciso discutir política com a mesma intensidade que se discute outros assuntos", afirma.

Outro ponto situado pelos especialistas é o uso da internet para se discutir o assunto, pois grande parte dos jovens passa várias horas navegando pela rede mundial de computadores. Um exemplo é o próprio adolescente Yuri Mendes, que busca informações dos candidatos nas páginas oficiais da campanha. "Como não assisto muito à televisão busco as informações sobre as propostas dos candidatos na internet. Hoje, muitos têm blogs e muitas redes sociais são criadas para debater as propostas. Acho que é importante a política estar aonde os jovens estão."

Dezessete anos e um objetivo: construir um futuro melhor. Para conseguir isso, Yuri Mendes usará um poderoso instrumento de mudança: o voto. Esta será a primeira eleição da qual participa, assim como para outros 3.124 adolescentes de Londrina entre 16 anos e 17 anos. O número é um pouco menor do que o registrado no pleito de 2008, quando 3.178 adolescentes foram habilitados a participar.

"Fiz o meu título este ano porque sempre tive interesse nas eleições. Sempre procurei saber o que os candidatos estavam dizendo. Quando cheguei à idade [para obter o título] não perdi a chance de fazer o documento. Muitas coisas me deixam inconformado, como as várias promessas não cumpridas", diz.

Contudo, atitudes como a de Yuri são uma exceção entre os jovens. Considerando que essa faixa etária ainda corresponde a 3,8% da população total (índice do último censo do IBGE em 2000) dos atuais 510.707 londrinenses, 19.406 têm 16 anos ou 17 anos. Com isso, apenas 16,1% dos jovens decidiram participar das eleições. Para especialistas ouvidos pelo JL, os adolescentes que perderam a oportunidade de votar deixam passar a possibilidade de interferir nos rumos do País.

Para essa faixa etária o voto ainda é facultativo, o que leva muitos jovens a adiar a retirada do título. Mas como estimular os adolescentes a se interessarem pela discussão política? "A grande questão para o jovem é que aquilo que ele faz na política tem reflexo na vida dele. A omissão de hoje terá um reflexo no futuro", lembra o cientista político Mário Sérgio Lepre. O coordenador das eleições 2010 em Londrina, juiz Jamil Riechi Filho, apresenta mais um argumento para os jovens participarem das eleições: o grande número de pessoas com mais de 60 anos (61.832 eleitores) que não precisam mais votar, mas fazem questão de ir às urnas. "São pessoas que passaram pela infeliz experiência de não poder votar [para presidente] por 30 anos [de 1960 a 1989]. Então, eles sabem da importância do voto e o valorizam. O jovem que chegou à idade de poder votar não está valorizando isso", diz.

O adolescente Yuri Mendes revela que a maioria dos amigos dele não gosta nem de falar em política. Atitude desaprovada por ele, que afirma que todos devem "fazer a sua parte". "As pessoas reclamam, mas todo mundo espera que o outro faça alguma coisa. Acho que fazendo a minha parte, posso contribuir e mudar o futuro".

Política nas páginas policiais Segundo o juiz Jamil Riechi Filho, a pouca procura pelo voto nessa faixa etária se deve, primeiro, ao fato de os adolescentes não se interessarem por política. Outro empecilho seria a quantidade de escândalos envolvendo políticos. Para ele, os jovens não "estão dispostos a refletir sobre política" e querem informações que já vêm "diluídas". Riechi Filho destaca ainda que os jovens são bombardeados diariamente com matérias jornalísticas destacando conduta negativa de políticos, o que acaba "repelindo a garotada".

O cientista político Mário Sérgio Lepre tem opinião semelhante. O especialista afirma que é preciso que "as coisas da política não venham junto às páginas policiais". "Escândalos são muito frequentes. Política tem que ser política, com pessoas que fazem propostas, grandes debates, mas isto ainda não está tão presente", argumenta. Para os especialistas, os adolescentes devem ter consciência de que o futuro pertence a eles e o rumo a ser seguido depende da atitude deles. A ausência nos pleitos acaba abrindo, como afirma o juiz Riechi Filho, espaço para os maus políticos. "Ele [adolescente] tem que participar do processo para que seja depurado. Só pensando diferente, cobrando diferente, saindo às ruas quando necessário, protestando, as coisas vão mudar."

Esse "estágio de desencanto" do adolescente com as eleições ocorre, segundo o cientista social Lidmar José Araújo, por conta do enfraquecimento dos movimentos sociais nos últimos oito anos, resultado, na opinião dele, da ascensão do Partido dos Trabalhadores (PT) ao poder. "Essa é uma questão crucial. O PT acabou cooptando os movimentos sociais e os tornou, de certa forma, parte do governo. Eles silenciaram a voz dos movimentos. Logo, onde os jovens deveriam estar discutindo as questões do País, Estado e município, ficou um vazio", avalia.

O juiz Riechi Filho ressalta que antes de "lutar contra a oposição" os jovens devem buscar o cumprimento dos mandatos com ética. Para explicar o seu posicionamento, ele faz uma comparação com o futebol. "Se você torce para um time e ele não vai bem, você tem o direito de questionar. Mesma coisa com o político do seu partido, ao votar nele você não dá autorização para fazer coisas erradas", diz.

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