Boff esteve ontem em Curitiba| Foto: Pedro Serapio / Gazeta do Povo

O escritor e teólogo Leo­­­nardo Boff cancelou uma série de palestras que ministraria no exterior para se incorporar à campanha da petista Dilma Rousseff. "Não podemos arrefecer até o dia 31 [data da eleição]", disse ele, em conversa informal com correligionários do partido, após o término da entrevista coletiva que concedeu ontem à tarde em Curitiba. Na noite de ontem, Boff participou de uma plenária pró-Dilma na sede da APP-Sindicato, na capital paranaense.

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Ex-padre que renunciou à atividade em 1992 após sofrer a segunda ameaça de punição por defender teses ligadas à Teologia da Libertação (que prega a opção preferencial pelos pobres), Boff, que votou em Marina Silva (PV) no primeiro turno, assumiu uma função específica: correr o país para tentar desvincular de Dilma a pecha de favorável ao aborto.

Na visão do teólogo, a suspeita tirou da ex-ministra a vitória no primeirpo turno. "Ela foi envolvida de forma vil em uma discussão caluniosa, sendo taxada de assassina de crianças. Essa é uma das piores campanhas da história recente, com muitas mentiras e distorções dos fatos", afirmou.

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Boff se diz contra o aborto, mas prega a descriminalização da prática, uma questão de saúde pública na sua visão. O posicionamento fez parte do eleitorado religioso criticar Dilma – a petista voltou atrás durante a campanha. "Eu defendo a linha que países catolicíssimos como Portugal, Espanha e a Itália dos papas [em referência ao Vaticano] decidiram: descriminalizar o aborto e acompanhar aquelas mulheres que desejam fazê-lo com psicólogos e conselheiros religiosos. No fim, deixar a liberdade a ela [optar por fazer ou não]", ressaltou.

Críticas à Igreja

O teólogo intensificou ainda as críticas a setores da Igreja com a mesma veemência que elogiou as políticas sociais do atual governo. "O Lula custou muito para empurrar o Brasil morro acima, não pode agora vir serra abaixo", disse, fazendo um trocadilho com o sobrenome do candidato tucano, antes de cobrar explicações da ala da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que defendeu a divulgação de panfletos pedindo aos fieis para não votarem na candidata do PT. "Parcelas fundamentalistas da Igreja Católica desnaturaram a essência da religião. Isso partiu de bispos conservadores, alguns até reacionários como o de Guarulhos [Luiz Gonzaga Bergonzini], e não representa a totalidade".