Eleito
Requião retorna a Brasília
Depois de quase oito anos como governador, Requião volta ao Senado, do qual fez parte entre 1994 e 2002. Nesse período, apresentou 84 proposições. Entre suas principais medidas, estão a tentativa de criação do Conselho Nacional de Justiça (o que veio a acontecer em 2004) e uma PEC propondo a inelegibilidade do presidente, governadores e prefeitos em caso de reeleição, em 1999. Seu tempo de governador, por outro lado, ficou marcado pela aposta em projetos sociais e pelas lutas infrutíferas contra os transgênicos e o pedágio. No período, houve crescimento da violência e falta de investimentos na saúde e na infraestrutura.
Ontem, Requião comemorou a vitória em sua residência, no Champagnat, acompanhado de familiares e aliados. Se declarando satisfeito pela eleição, mesmo com 500 mil votos de diferença para Gleisi, o ex-governador parabenizou Fruet e Gleisi por suas votações. "Quero cumprimentar o Gustavo pela bela votação. E estou muito satisfeito com a eleição da Gleisi. Eu pedi votos para ela no Paraná inteiro", disse.
Gleisi Hoffmann (PT) e Roberto Requião (PMDB) foram os senadores eleitos pelo Paraná para o mandato 20112018. Com 29,5% dos votos, Gleisi se tornou a primeira mulher do estado a assumir um cargo no Senado. Ao todo, teve 3,2 milhões de votos, com vantagem de 500 mil votos para o ex-governador Requião, o segundo colocado, que alcançou quase 25% de preferência do eleitorado.
No Senado, Gleisi e Requião se somam a Alvaro Dias (PSDB). O trio fará, na teoria, oposição ao governador eleito Beto Richa (PSDB). Apesar de pertencer à mesma sigla, Alvaro declarou apoio ao irmão Osmar Dias (PDT). Beto também foi seu adversário na disputa interna do PSDB pela candidatura. A despeito da diferença partidária, Gleisi espera manter boa relação com Richa. "Embora não seja o governador que eu queria ver eleito, acredito que o governador é um representante do estado, não dele próprio e nem do partido. Se ele se comportar como estadista, terá sempre o meu apoio", disse.
Requião, com quem o novo governador não mantém relações desde o pleito de 2006, afirmou que o candidato foi contra sua candidatura. "O Beto Richa trabalhou diretamente contra mim, na linha do que a imprensa vinha criticando: saúde, segurança, porto de Paranaguá", afirmou.
Para o doutorando em Direito Constitucional pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) professor Carlos Luiz Strapazzon a eleição de senadores de oposição é uma dificuldade para Richa. "Para o governo federal, em uma eventual vitória da Dilma [2.º turno], existem grandes benefícios dessa composição. Na relação estadual, por outro lado, pode haver conflito", alerta.
Cientista político da UFPR, Adriano Codato tem opinião semelhante. "O Requião seria difícil, independentemente de quem fosse eleito. No caso da Gleisi, isso pode mudar, dependendo das ambições. Se ela for candidata a prefeita ou a governadora, certamente a relação ficará mais difícil". Para Codato, porém, um Senado difícil será menos problemático do que se o mandato de governador for exercido com um presidente de partido oposto, em uma eventual vitória de Dilma.
Indagado sobre a oposição no Senado, Richa contemporizou: "Estou pronto para o diálogo. Divergências partidárias não podem se sobrepor ao interesse público. Seria irresponsável agir dessa forma porque quem paga é o povo."
Contagem apertada
Requião foi eleito com uma pequena vantagem sobre Gustavo Fruet (PSDB), terceiro na disputa, que fez quase 200 mil votos a menos. Em casa, após a vitória, Requião afirmou que venceu notórios adversários: "Fiz uma campanha modesta e derrotei a Gazeta do Povo, a imprensa do Paraná, o [Orlando]Pessuti e a direitona", afirmou. O senador eleito acusou o atual governador do estado de trabalhar a favor de Fruet. Pessuti rebateu a afirmação: "O Requião que ocupe o tempo dele para preparar uma boa ação pelo Paraná como senador. Se não contribuiu conosco até agora com seis meses de governo, não venha agora nos atrapalhar".
Para o doutor em Ciência Política e professor da Faculdade de Direito da UFPR Fabricio Tomio o crescimento de Fruet surpreendeu. "Como parte do eleitorado tende a volatilidade grande, acabam decidindo o voto nos últimos dias", disse.
Colaboraram Rogério Waldrigues Galindo e Euclides Lucas Garcia