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“O que estamos vendo são candidatos que ontem estavam no palanque contrário, estavam se difamando, e hoje estão no mesmo palanque pedindo voto um para o outro" | Antônio Costa / Gazeta do Povo
“O que estamos vendo são candidatos que ontem estavam no palanque contrário, estavam se difamando, e hoje estão no mesmo palanque pedindo voto um para o outro"| Foto: Antônio Costa / Gazeta do Povo

Requião não aceitou regras da entrevista

A entrevista com Rubens Hering (PV) encerra a série de sabatinas realizada pela Gazeta do Povo durante esta semana com os principais candidatos do Paraná ao Senado. Apenas o ex-governador Roberto Requião, do PMDB, não foi ouvido. Requião não concordou com as regras. Não aceitou comparecer à sede do jornal para ser entrevistado por parte da equipe da editoria de Vida Pública. Informou, por intermédio da assessoria de imprensa, que aceitaria responder apenas a questões enviadas por e-mail, o que descaracterizaria o formato da sabatina.

Rubens Hering pretende ser um político diferente. Por isso só se filiou a um partido, o PV, após encerrar a carreira na iniciativa privada, há dez anos. Está na terceira eleição, a mais difícil no seu ponto de vista. Por isso se autodefine como um Davi lutando contra quatro Golias, em referência à passagem bíblica. Os Golias em questão são Roberto Requião (PMDB), Gleisi Hoffmann (PT), Gustavo Fruet (PSDB) e Ricardo Barros (PP), seus principais concorrentes na disputa pelo Senado. "Vou financiar minha própria candidatura", diz, estimando as despesas em R$ 20 mil. Con­­­servador e religioso, Hering se posiciona contra temas polêmicos que tramitam no Con­­­gresso, como o casamento gay, a liberação da maconha e a descriminalização do aborto.

A sua carreira política é relativamente nova. O senhor se candidatou para vereador, em 2002, e em 2004 saiu para deputado estadual. Agora entra na disputa pelo Senado. De acordo com a declaração de bens apresentada ao TSE é o que tem o maior patrimônio. Por que a opção tardia pela política?

Iniciei no Partido Verde há 10 anos. Entendi que eu devia procurar um caminho no qual pudesse devolver um pouco à sociedade aquilo que ela me deu ao longo da minha carreira profissional. Coincidiu também com a minha aposentadoria. E a alternativa política me pareceu a mais interessante, porque eu entendo que as grandes questões nacionais, regionais, locais se resolvem ou não se resolvem. Ou se resolvem pelo caminho da boa política ou se não resolve pelo caminho da má política. Faço política no Partido Verde, e enquanto fizer política farei só no Partido Verde. Se isso não for mais viável, não farei mais em lugar nenhum.

Os seus principais concorrentes na disputa pelo Senado são mais experientes, todos com mandatos ou testados em grandes eleições. De que maneira contornar essa "inexperiência"?

Se você fizer uma análise dos nossos poderes legislativos, vai constatar que essas câmaras são dominadas pelas velhas oligarquias políticas que levam lá para dentro uma má influência. Eu represento o que representa qualquer cidadão comum, como as pessoa que estão ali na rua pegando o ônibus agora, eu sou um de nós, que quer ser senador para ser o contraponto, ser o contraditório. Quero ser senador para contribuir com a mudança.

O senhor está muito atrás nas pesquisas. Acredita que esse discurso de mudança pode levá-lo à vitória?

Uma das coisas que gostaria de fazer se senador fosse era dar minha contribuição à reforma política. A legislação brasileira privilegia a reeleição dos mesmos, a continuidade dos mandatos. A luta se torna extremamente desigual. Eu me sinto um Davi lutando contra quatro Golias. Tenho uma distância a ser superada. Eu falo com as pessoas quando posso, viajo para onde posso, tenho acesso às mídias quando as oportunidades me são oferecidas. Tenho um tempo no horário gratuito muito menor que o tempo deles. Tenho um minuto para passar alguma proposta. Alguma visibilidade a minha campanha tem. Estamos conseguindo. Eu financio minha campanha com os meus próprios recursos, não tem um centavo de donativo. E diria que, nessa altura do campeonato, se alguém me oferecer, não aceitarei. Não quero ir para Brasília para ser mais um político que vai lá se servir de interesses políticos. Não entendo como um cidadão minimamente informado, minimamente politizado, decida votar no candidato A porque ele tem na esquina da esquerda mais bandeiras que o candidato B na esquina da direita. Enquanto o voto for decidido assim, não tenho chances de vencer.

O senhor falou em investimento do próprio bolso. Quanto irá custar sua candidatura?

O acordo que foi feito era para financiar a minha candidatura com os meus recursos próprios. Assim como a do Paulo Salamu­­­ni [para governador]. A minha campanha até hoje custou R$ 10 mil. Eu presumo que não gastarei mais do que R$ 20 mil.

Por que o PV no Paraná não tem a mesma visibilidade que apresenta em outros estados? Ter ficado à sombra do PMDB na última gestão do ex-governador Roberto Requião não atrapalhou o crescimento do partido?

Não, muito pelo contrário. Nas últimas eleições nós tivemos um extraordinário crescimento, nós estamos crescendo. Só que é preciso crescer com qualidade. Não adianta admitir no partido qualquer um. Os oportunistas surgem, porque veem na legenda uma eleição mais fácil, por causa da equação eleitoral. O PV é um partido aberto, mas não é aberto a qualquer um. O que estamos vendo são candidatos que ontem estavam no palanque contrário, estavam se difamando, e hoje estão no mesmo palanque pedindo voto um para o outro.

Uma de suas propostas fala "em priorização dos meios de transportes ferroviários e hídricos". Ou seja, dois gargalos de infraestrutura do Brasil. Como fazer isso, candidato no Senado? Não seria uma questão para o Executivo resolver?

Há um princípio fundamental verde nessa questão. São dois sistemas de transportes ecológicos. O Brasil tem vários gargalos. O gargalho da infraestrutura é gravíssimo. O PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] está empacado, o que existe são algumas obras eleitoreiras. A prioridade agora é construir estádios de futebol, por causa de uma Copa do Mundo com finalidade politiqueira.

Outra proposta fala em "adoção de vereança não remunerada em municípios com me­­nos de 5.000 habitantes". Isso mexeria diretamente com a classe política, o que não é nada fácil. O que fazer para convencer seus pares no Se­­nado a encampar a medida?

Não seria fácil. Vereador não pode ser profissão, ninguém pode viver de vereança, ter salário de vereança, se aposentar como vereador. Isso é absurdo. Há situações hoje que os vereadores elegem os prefeitos, e os prefeitos elegem os deputados, e os deputados elegem os governadores, e os governadores acabam elegendo o presidente da República. Isso forma uma teia, e você não consegue quebrar o ciclo vicioso que conduz o país.

O que o senhor pensa em relação a temas polêmicos que tramitam no Congresso como a liberação da maconha e o casamento gay?

Eu abro mão de votos, mas não abro mão de minhas convicções. Os meus valores são os sinais da educação que tive da minha família, da educação que recebi dos meus país. Aí formei meus valores éticos. De acordo com a minha fé e minha religião, tenho a seguinte opinião sobre o casamento gay: duas pessoas do mesmo sexo, que eventualmente se gostem ou se amem, podem estabelecer uma relação, conviver no mesmo teto, mas isto não é casamento. Casamento, núpcias e bodas é algo que se consagra na sociedade que vive de acordo com princípios – muito embora o Estado seja laico – das Sagradas Escrituras, da Bíblia Sagrada ou Alcorão, ou outra que for. Eu não concordo com o casamento gay. Eles podem celebrar um contrato para estabelecer as regras.

E a questão da legalização da maconha...

Sou contra a legalização de qual­­quer forma de alucinógenos. É uma questão polêmica porque são chamadas de drogas ilícitas. Talvez o álcool mate mais do que a cocaína, então é um paradoxo porque temos drogas lícitas que matam muito mais. Mas são drogas alucinógenas, que alteram o comportamento humano, drogas que fazem as pessoas se desfazerem do próprio caráter. Drogas que devem ter seu consumo reprimido. A liberação seria uma catástrofe. O que hoje é tráfico amanhã viraria máfia. A descriminalização das drogas é uma utopia.

E com relação à descriminalização do aborto. O senhor acha que a legislação precisa ser fexibilizada?

Como eu disse, por minhas convicções e valores éticos, eu condeno e sou contra qualquer forma de se interromper o ato da vida de qualquer ser humano. Acho que as leis brasileiras já estabelecem algumas exceções, como é o caso do estupro e do risco de vida da mãe. Aquela mulher que pratica sexo sem segurança, sexo sem responsabilidade, e uma vez que ocorrer a concepção se julgue dona do feto e o elimine, eu condeno veementemente. A mulher que comete esse erro tem que reparar gestando o filho e dando a ele uma vida digna, e não o assassinato. Solucionar o problema indo a uma clínica e matando o feto, sou totalmente contra.

Independentemente do resultado das eleições de 3 de outubro, o que pensa em relação ao seu futuro político? Pensa em concorrer à prefeitura de Curi­­tiba em 2012?

Digo com toda a sinceridade, não tenho [projeto político]. Nada além dessa candidatura ao Senado. Mas a política é, como já dizia o grande Ulysses Guimarães, como as nuvens. Quando você olha de novo, ela já mudou. Então não sei o que vai rolar internamente no partido. Eu não sei como vai ser a evolução do país com o novo governo que assumirá em janeiro.

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