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“A Marina saiu desse governo porque a visão predominante era a de que o meio ambiente é o vilão do desenvolvimento. E no PSDB, também. O Serra tem obviamente a mesma visão” | Daniel Castellano / Gazeta do Povo
“A Marina saiu desse governo porque a visão predominante era a de que o meio ambiente é o vilão do desenvolvimento. E no PSDB, também. O Serra tem obviamente a mesma visão”| Foto: Daniel Castellano / Gazeta do Povo

O candidato Guilherme Leal (PV), vice na chapa da Marina Silva (PV), diz que o seu partido não está meramente participando de uma eleição presidencial. "Estamos falando do processo de construção de uma força política", afirmou ontem, em Curitiba, onde esteve para reforçar a campanha de seus correligionários.

Segundo o candidato, Marina e ele estão "no jogo para valer". Ou seja: para "conquistar o poder agora". Mas diz que, se não for possível, o que vale é que está em construção um projeto de longo prazo.

Dono da Natura e um dos 500 homens mais ricos do mundo, Leal afirma que o papel que o PV faz nas atuais eleições já pertenceu em outros momentos ao PSDB e ao PT que, cada um a seu tempo, eram a esperança de um governo mais ético. Crítico das alianças feitas pelos dois partidos para chegar ao poder, o empresário afirma não saber se é possível chegar ao poder sem esses apoios regionais. "Mas acho melhor renovar as esperanças. Porque não é possível dizermos que é assim mesmo e acabou", disse.

Veja os trechos mais importantes da entrevista concedida durante visita à Gazeta do Povo:

Por que o senhor decidiu ser candidato?

Dois anos atrás, estava começando a pensar no meu legado e pensei nessa crise ambiental que vivemos. Estamos gastando recursos equivalentes a 1,3 vez os recursos do planeta, mesmo com 2,5 bi­­­lhões de pessoas fora do mercado de consumo. E logo em seguida o PV teve a sabedoria de buscar a Ma­­­rina Silva para esse momento eleitoral. Eu já conhecia a Marina e vinha tentando entender como fazer prosperar essa agenda para o país. Mas não pensava em ir para a política. Foi aí que vi um grupo de pessoas com a mesma preocupação socioambiental entrar numa eleição que estava falando só do passado, enquanto nós queríamos falar do futuro. Meu ânimo empreendedor acabou falando mais forte e aceitei o convite.

A maior parte dos empresários que participa da política nacional aderiu a um dos projetos majoritários em cena: o do PT ou o do PSDB. O senhor não acredita que eles sejam capazes de implantar essa agenda?

Não. A visão tanto de um quanto de outro não contempla o meio ambiente. O projeto do PT, por exemplo, é respeitabilíssimo sob certo ponto de vista. Mas a Marina saiu desse governo porque a visão predominante era a de que o meio ambiente é o vilão do desenvolvimento. E no PSDB, também. O Serra tem obviamente a mesma visão. Veio a fazer uma lei de mudanças climáticas só depois que a candidatura de Marina Silva foi colocada. Os dois têm uma visão crescimentista. E não é só isso. Há também as velhas alianças. Assim como o PSDB, ao sair do PMDB, representou os "éticos", o PT, em certo momento, representou a esperança de uma certa política. Mas hoje você vê o arco das alianças e vê pragmatismo.

Os dois partidos, porém, para chegar ao poder, lançaram mão dessas alianças. É viável ganhar uma eleição nacional sem isso?

Eu não sei se é viável. Mas acho melhor renovar as esperanças e usar os novos mecanismos da sociedade, de transparência, de inovação, de relações com os núcleos vivos da sociedade, das redes sociais. Porque não é possível que nós, que tivemos esperança de uma política mais ética, mais republicana, dizermos que é assim mesmo e acabou.

O senhor acredita ainda na possibilidade de segundo turno?

Eu acredito. As pesquisas estão apontando uma diferença de sete pontos entre Dilma Rousseff e a soma dos outros candidatos. Houve uma queda importante.

Se houvesse um segundo turno entre Serra e Dilma, quem o PV apoiaria?

Não temos um posicionamento. Os dois têm muito de parecido. Não estamos concorrendo a uma prefeitura. Estamos discutindo Brasil. E ficam falando em fazer mais unidades de saúde, mais postos de atendimento. Isso não é projeto de nação.

Caso Marina não seja eleita, haverá nova candidatura em 2014?

Nós estamos no jogo para valer. Para conquistar o poder agora. Porque nós temos uma proposta que é ligada ao futuro. Mas o futuro começa agora. É óbvio que, se não for desta vez, existe um processo em curso. Nós não estamos falando de uma eleição presidencial. Estamos falando do processo de construção de uma força política em torno de um projeto. Esta­­­mos falando de uma nova visão para o país que, nesse momento, já recebe o apoio de aproximadamente 20 milhões de eleitores. E de eleitores que são o estrato mais informado da população brasileira. Isso é constitutivo de uma nova força política que precisa ser trabalhada.

Quais são os pontos básicos desse projeto?

É um tripé. Primeiro, uma nova forma de fazer política, onde o Estado tem uma gestão mais inteligente, mais republicana. Um Estado promotor do desenvolvimento, mobilizador das forças sociais, menos corrompido. Segundo, uma opção visceral pelo investimento no capital humano. É lógico que temos problemas de infraestrutura. Mas a prioridade tem que ser pela educação. Isso reduz desigualdades, para dar oportunidade a todos, sem ter limitador a seu potencial de crescimento. E, terceiro, essa educação tem que estar ligada ao uso inteligente do patrimônio natural. E aí é que entra o meio ambiente.

A pesquisa Datafolha divulgada na quarta-feira apontou diferença de sete pontos entre Dilma e seus concorrentes. A pesquisa, feita em 21 e 22 de setembro, ouviu 12.294 eleitores. A margem de erros é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos. É registrada no TSE sob o número 31.330/2010.

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