Sérgio Guerra, presidente do PSDB: fiscalização e oposição mais efetiva| Foto: Ivonaldo Alexandre / Gazeta do Povo

O comando do PSDB sai da campanha derrotada à Presidência com a certeza de que o partido terá de trabalhar para evitar que novas divisões internas prejudiquem a candidatura do tucano que irá concorrer à eleição em 2014. A ideia é criar consenso em torno de um novo candidato já em 2012, evitando que a especulação e o desgaste político interfira no processo de escolha. Ao mesmo tempo, líderes pedem uma oposição mais aguerrida do que durante o governo de Luiz Inácio da Lula da Silva.

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Ao contrário do que aconteceu nas últimas três eleições presidenciais, a cúpula tucana quer trabalhar nos dois anos antes da eleição em torno de um único nome. Em 2002, José Serra disputou a vaga com Tasso Jereissati; em 2006, a briga foi com Geraldo Alckmin, que ganhou a queda de braço; e neste ano Aécio Neves concorreu à indicação da legenda. Líderes do partido avaliam que os rachas internos podem ter contribuído para a derrota de Serra na disputa com Dilma Rousseff (PT) no segundo turno.

"Precisamos ter um desenho sobre nosso candidato já daqui a dois anos. Não podemos ficar refém dessa divisão interna", avalia o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra. Para ele, ao colocar Aécio de escanteio na disputa, o partido criou um clima de constrangimento que pode ter interferido negativamente.

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Também cacifado para disputar a eleição presidencial em 2014 depois da vitória ao governo paulista neste ano, Geraldo Alckmin concorda que o partido tem de se antecipar aos eventuais problemas internos. Embora evite assumir discurso de pré-candidato, Alckmin avalia que o PSDB deve aproveitar o bom desempenho na eleição para definir o candidato o quanto antes. "Essa é uma questão que deve ser discutida dentro do partido, sim. É importante criar um sentimento de unidade em torno do candidato", disse.

Fiscalização

Para alguns dirigentes tucanos, outro fator que pode ter pesado na derrota foi a falta de uma postura mais firme por parte da oposição durante o governo Lula. Sérgio Guerra garantiu ontem que o governo Dilma será fiscalizado com rigor, mas disse que os tucanos não levarão em conta as diferenças partidárias na hora de votar matérias importantes para o país. "Vamos fiscalizar Dilma e votar a favor das coisas certas. Não seremos radicais, nem pediremos a cabeça de ninguém ou querer cassar o mandato de ninguém."

A sinalização de que a oposição deverá ser mais propositiva foi dada ontem. Os oposicionistas deverão apresentar a Dilma uma lista de proposições. Segundo o senador José Agripino Maia (DEM-RN), tais propostas dizem respeito a atitudes que precisam ser tomadas "para o bem da democracia e do país". Nesse momento, disse Maia, é que a oposição poderá medir se há "sinceridade" nas palavras de Dilma, que no domingo afirmou estar "de mãos estendidas" para conversar com o DEM e o PSDB.

O senador acrescentou que o tratamento dispensado aos dez governadores eleitos pelo PSDB e pelo DEM será um ponto a ser considerado na relação com o Executivo. "O gesto das mãos estendidas vai começar a ser avaliado a partir da postura do governo federal com relação aos governadores de oposição", disse Agripino.

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Já o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) apontou a possibilidade de formação de um novo núcleo de oposição pelos governadores tucanos eleitos em torno de Aécio Neves, que tem um perfil mais conciliador. Isso, entretanto, destoaria da forma combativa com que a oposição precisa se comportar no Congresso, afirmou Fruet.

Ele reconhece que os opositores ao governo federal perderam sua força e terão de "ter inteligência" para encontrar um caminho que lhes dê mais musculatura na Câmara e no Senado. Com o quadro surgido na eleição de domingo, o tucano ressaltou que o DEM e o PSDB perderam qualquer possibilidade de criar comissões parlamentares de inquérito ou de barrar a votação de matérias tanto na Câmara quanto no Senado. Para o primeiro momento, Fruet considera que o caminho seria a formação de blocos partidários.

Fusão

Outra saída que poderá ser estudada pelos oposicionistas é a fusão entre partidos. O líder do DEM no Senado, Antonio Carlos Júnior (BA), afirmou que por enquanto não há qualquer conversa entre as legendas de oposição sobre eventuais fusões, mas não descartou a ideia. Ele reconheceu que, a partir de fevereiro de 2011, estarão mais vulneráveis que nos oito anos de governo Lula, por causa da redução das bancadas nestas eleições. "Mais adiante, se for o caso, poderemos verificar se há oportunidade e avaliar qual é o melhor caminho", afirmou o senador.

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