O agricultor José Ferreira do Carmen, de 53 anos, está indeciso| Foto: REUTERS/Paulo Whitaker

Talvez seja esta a última fronteira da disputa presidencial brasileira: pastagens, plantações de morango e eleitores indecisos até onde a vista alcança.

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Enquanto as pesquisas de opinião indicam que a maior parte dos eleitores urbanos já se decidiu, a história é diferente entre os cerca de 15% de brasileiros que vivem em áreas rurais.

Aqui, acesso irregular à televisão, baixas taxas de alfabetização e isolamento criaram talvez o maior grupo de eleitores indecisos para a eleição de outubro - embora eles, assim como a maioria do eleitorado, pareçam prontos a tomar partido da candidata do governo, Dilma Rousseff.

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Isso poderá ser a chave para fazer a ex-ministra-chefa da Casa Civil do presidente Luiz Inácio Lula da Silva superar os 50 por cento de votos necessários para vencer a eleição no primeiro turno, em 3 de outubro, eliminando a necessidade de um segundo turno.

Uma pesquisa do Ibope esta semana mostrou que cerca de 5 por cento do eleitorado quer votar no candidato de Lula, mas ainda não sabe quem é. Dilma Rousseff apareceu à frente do adversário José Serra em pesquisa Vox Populi divulgada terça-feira, com uma diferença de 16 pontos percentuais, um resultado que a coloca perto da vitória.

Em um trajeto de 50 quilômetros de estrada de terra no Estado de Minas Gerais, a cerca de duas horas de São Paulo, 15 eleitores, que iam de um velho leiteiro de charrete a um ex-gerente de empresa de pão em licença, foram entrevistados ao acaso na terça.

Todos afirmaram não terem se decidido por um candidato. Quatro deles afirmaram desconhecer quem eram os principais candidatos.

"Não sei não, eles estavam falando alguma coisa sobre isso na televisão outra noite, certo?", disse o agricultor José Ferreira do Carmen, de 53 anos.

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"Eu vou prestar atenção alguma hora", prometeu ele. "Eu me importo com a saúde."

Mesmo assim, em meio à indecisão, havia um sinal encorajador para Dilma: todos os entrevistaram manifestaram forte apoio a Lula.

O presidente é extremamente popular nas áreas rurais por causa de seus programas sociais e por sua história de vida. Provavelmente, isso vai se traduzir num apoio maior para Dilma, já que a propaganda eleitoral na TV associando os dois atinge mais eleitores - mesmo aqui - na reta final da campanha.

"Lula é um homem bom. Eu vou votar em quem ele disser", afirmou Vito Pedro Vieira, que caminhava até um posto de saúde com infecção no olho. "É aquele cara, o Serra, certo?"

Ao ser informado que Serra na verdade era o principal candidato da oposição e estava atrás na maioria das pesquisas, Vieira balançou a cabeça. "Ah, então esquece. Não vou votar no mais fraco. Isso é jogar o voto fora."

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TV: essencial para chegar ao campo

Ricardo Guedes, diretor do instituto de pesquisas Sensus, afirmou que as áreas rurais são umas das "últimas grandes possibilidades de crescimento" para Dilma - se conseguir difundir a mensagem de que é a melhor para continuar com as políticas de Lula.

O prefeito de Estiva, com 11 mil habitantes, afirmou que a propaganda eleitoral é praticamente a única forma de atingir os agricultores nos vilarejos da região.

"Essas pessoas trabalham durante o dia, pensam sobre a seca, assistem à TV por alguns minutos à noite", disse o prefeito João Gualberto Rezende. "As pessoas aqui da cidade? Já estão decididas."

Guedes afirmou que os eleitores relativamente isolados são mais importantes no Brasil do que em outros países por causa da obrigatoriedade do voto. "Nos Estados Unidos, essas pessoas não iriam votar. No Brasil, a maioria vai."

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Com efeito, a propaganda na estréia do horário gratuito na televisão para os candidatos na terça-feira parecia feita sob medida para os indecisos. No programa de Dilma, o nome de Lula foi mencionado antes do dela. Também apareceram diversas imagens dos dois líderes juntos e de mãos dadas.

O baluarte de Serra está nas classes média e alta das grandes cidades, mas o ex-governador de São Paulo tentou ampliar sua base colocando ênfase no seu passado de "homem comum" com mais experiência do que Dilma no Executivo.

Tone Ander Costa, de 29 anos, prestou muita atenção à propaganda de Serra e de Dilma ao assistir à TV na noite de terça-feira, ao lado da mulher e da filha de 7 anos, em sua casa na zona rural.

"Ainda não estou decidido", disse ele, ao desligar a TV. "Mas se Lula diz que aquela mulher é boa, então acho que acredito nele. Provavelmente votarei nela."

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