Ciclistas obrigam candidatos a pensarem em alternativas
Um movimento que começou em 2005 em Curitiba vem tomando corpo e está fazendo os candidatos a prefeito da cidade a pensarem em formas alternativas de transporte. Os cicloativistas, como são chamados os ciclistas engajados em um movimento por melhores condições para quem anda de bicicleta, estão chamando os postulantes ao cargo a assinarem uma carta de intenções, na qual pedem investimento para a área e metas de diminuição de acidentes e mortes.
Uma atividade chamada de bicicletada, pela qual os cicloativistas se manifestam, teve início em 2005 e dois anos depois promoveu a pintura de faixas na Rua Augusto Stresser, no Alto da Glória, como forma de chamar atenção para a falta de ciclovias na cidade. O poder público reagiu e retirou a pintura, mas ao mesmo tempo iniciou um diálogo com o movimento. "Naquele ano a prefeitura nos chamou para uma audiência, na qual apresentou o projeto de ciclovia na Avenida Marechal Floriano. A ciclofaixa saiu agora, mesmo com muitos pontos críticos", diz Jorge Brand, Presidente da Associação de Ciclistas do Alto Iguaçu (CicloIguaçu).
Ele diz que falta fiscalização no trânsito, o que diminuiria o desrespeito às bicicletas e pedestres. "Em dias de jogos no Alto da Glória é um festival de carros estacionados em frente de guias rebaixadas e nas calçadas. Não é tão difícil assim fiscalizar. A prefeitura precisa dar a mensagem com mais força de que os motoristas precisam respeitar ciclistas e pedestres", diz Brand.
Eles pedem um investimento de R$ 48 milhões em quatro anos de mandato para a criação de uma rede cicloviária. De acordo com o movimento, o que existe hoje é um projeto de alguns trechos, mas que não criam de fato uma rede capaz de criar mobilidade aos ciclistas por toda a cidade.
Propostas
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As ruas de Curitiba estão lotadas de veículos, causando lentidão no trânsito e horários de pico cada vez mais extensos. O governo federal vem incentivando a compra de carros, o que também gera a necessidade de intervenções urbanas para desafogar o trânsito. A solução, há muito tempo constatada por pesquisadores da mobilidade urbana, é investir em transporte público de qualidade, que leve os moradores a deixarem os carros em casa. Mas, enquanto a boa opção de transporte coletivo não chega, ou os motoristas não procuram reduzir o uso do automóvel, está na pauta da campanha eleitoral uma solução de curto prazo para melhorar a mobilidade na cidade. Uma solução que deve ser apresentada pelos candidatos a prefeito para uma gestão que dura quatro anos.
O número de veículos que rodam por Curitiba dobrou de 2000 para cá. Eram 674.781 no início da década passada e hoje são 1,33 milhão, entre automóveis, motocicletas, caminhonetes e outros. A cidade chegou a ser a terceira em números absolutos de veículos no Brasil, de 2001 a 2009, quando estava abaixo de São Paulo e Rio de Janeiro, mas nos últimos anos baixou de posição, sendo ultrapassada por Belo Horizonte e Brasília. Mesmo assim, ainda é a mais motorizada do país, na proporção veículos por habitantes. Hoje, levando-se em conta o número de carros emplacados até junho, Curitiba tem 75 carros para cada 100 habitantes. São Paulo, por exemplo, tem uma proporção de 59 para cada 100 habitantes.
A opção definida pela prefeitura, nos últimos anos, para tentar melhorar o tráfego de veículos foi a implantação de binários (ruas paralelas com sentidos opostos) associados a trincheiras, que cortam avenidas mais movimentadas. É o que ocorre na Avenida das Torres, por exemplo, com recursos do PAC da Copa, com a construção do viaduto estaiado e duas trincheiras, em um investimento total de R$ 97 milhões. Foram criados, de 2007 para cá, 24 binários e outras 171 ruas por toda a cidade estavam em obras nas últimas semanas.
O presidente do Instituto de Engenharia do Paraná (IEP), Jaime Sunye Neto, entende que é necessário ter um diagnóstico dos pontos mais críticos para saber que tipo de intervenção é a mais adequada para o local. Isso é importante, segundo ele, porque as grandes obras de mobilidade demandam grandes investimentos e precisam ser eficientes. "Os binários têm custo alto e são difíceis de fazer, pois são poucas áreas que ainda podem ser aproveitadas. Uma alternativa é usar mais passagens em desnível, que evitam conflitos", exemplifica.
Na opinião do professor de Engenharia de Tráfego Pedro Akishino, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), não existe solução de curto prazo para o trânsito de Curitiba. "A prefeitura não tem dinheiro suficiente para resolver o problema em uma gestão. O trânsito se controla com planejamento de transporte de forma geral e como não foi feito. Chegamos à situação em que estamos. Agora, para consertar, será preciso fazer muita coisa", diz. Ele explica que a solução de binários e trincheiras, enquanto não for feita uma intervenção com planejamento para saber a origem e o destino de todos os veículos, funciona por um certo tempo, mas também se esgota.
Para Joel Kruger, presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR) e coordenador do curso de Engenharia Civil da Pontifícia Universidade Católica (PUCPR), é preciso conjugar os investimentos em trânsito e transporte público, o que passa pela reestruturação do sistema de transporte coletivo. "Não é o aumento no número de vias que dará mais qualidade à circulação de veículos. É preciso dar mais fluidez ao trânsito, o que acontecerá se mais pessoas utilizarem o transporte público", avalia.
Paralelamente aos investimentos no sistema de tráfego, Kruger defende uma maior atenção ao pedestre, com a melhoria das calçadas e a abertura de novas ciclovias. "Não se deve pensar as ciclovias apenas para lazer. Elas devem ser integradas à malha viária, de forma que a população possa usá-las no deslocamento da casa para o trabalho", ressalta.
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