Notícias da época
Veja o que foi notícia na Gazeta do Povo na época da eleição de 1988, que ocorreu em 15 de novembro:
3 de setembro Professores da rede estadual, em greve desde 5 de agosto, faziam ato na Rua XV. Dom Pedro Fedalto encaminhava carta ao governador Alvaro Dias, pedindo diálogo com a categoria.
9 de setembro Repetindo gestos de Juscelino Kubitschek e Tancredo Neves, Lula lançava sua candidatura à Presidência da República para o ano seguinte tomando um cafezinho no Café Pérola, em Belo Horizonte. Dez dias depois, o senador paranaense Affonso Camargo também se lançaria à Presidência, pelo PTB.
19 de setembro Ponto de encontro dos políticos paranaenses ainda hoje, a Churrascaria Devons, localizada no Centro Cívico, chamava o público, apesar da situação financeira complicada. "Com inflação ou sem inflação, a Devons é a melhor opção", dizia anúncio da época. Mas muitas das empresas anunciantes em 1988 não existem mais: Mercado Real, e escola de inglês Cebel, por exemplo.
10 de outubro Em um debate sobre a Constituição Federal, promulgada cinco dias antes, Zilda Arns, da Pastoral da Criança, dizia que era preciso garantir os direitos de todas as crianças "O que a criança não recebe quando pequena, cobra depois que é grande", afirmou.
23 de outubro
A Revista da TV da Gazeta do Povo falava sobre o programa Tela Morna, uma sátira da Tela Quente, da Rede Globo. A produção era da TV Pirata (foto), programa de humor da época, que também fazia muitas paródias das novelas da época: Fera Radical, Bebê a Bordo e Vale Tudo.
27 de outubro Novo cais do Porto de Paranaguá era inaugurado para ajudar o Paraná a manter a primeira colocação no ranking das exportações de cereais.
30 de outubro
Ayrton Senna (foto) conquistava o seu primeiro título na Fórmula 1, ao vencer o grande prêmio de Suzuka, no Japão.
10 de novembro O vice-presidente norte americano, George Bush, vencia a disputa pela presidência com uma grande vitória sobre o democrata Michael Dukakis. O republicano ganhou em 40 dos 50 estados dos Estados Unidos.
28 de novembro A exibição do filme A Última Tentação de Cristo, de Martin Scorsese, provocava muita polêmica. O presidente da Ordem dos Ministros Evangélicos do Brasil distribuiu panfletos contra a exibição na frente do Cine Palace Itália, em Curitiba.
Interatividade
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Jaime Lerner é um arquiteto mundialmente reconhecido pelos seus projetos inovadores. Mas foi sua ousadia política que lhe garantiu um grande espaço na história recente do Paraná. Em 1988 ele causou uma reviravolta ao entrar na disputa pela prefeitura de Curitiba faltando menos de duas semanas para a eleição, marcada para 15 de novembro. Foi a famosa campanha dos 12 dias, que acabaram proporcionando a Lerner um período de 12 anos no poder quatro como prefeito (1989-1992) e oito como governador do estado (1995-2002).
FOTOS: Veja fotos e charges das eleições de 1988
Lerner, então no PDT, perdera a eleição de 1985 para Roberto Requião, do PMDB. Naquela época, os peemedebistas carregavam a esperança da redemocratização após o período da ditadura militar. A legenda, que tinha em Ulysses Guimarães sua grande estrela, também conseguiu muitos votos Brasil afora em 1986, na escolha dos governadores. Mas, em 1988, o cenário mudou. A inflação galopante e a desconfiança dos trabalhadores em relação à nova Constituição Federal desgastaram o PMDB.
Os peemedebistas Alvaro Dias, no governo do Paraná, e Requião, na prefeitura de Curitiba, trabalhavam para eleger o correligionário Maurício Fruet, na época deputado constituinte e ex-prefeito da capital (1983-1985). Mas cada um tinha problemas sérios para lidar. Alvaro ficou marcado pela ação policial que dispersou uma manifestação de professores estaduais no Centro Cívico. Requião enfrentava a ameaça de motoristas e cobradores de ônibus, que ensaiavam uma greve para antes da eleição o que acabou ocorrendo só depois.
No início de setembro, o candidato do PMDB até liderava com folga, com 28% das intenções de voto. O concorrente mais forte era Algaci Túlio (PDT), com 20%. Atrás, apareciam Enéas Faria (PTB), com 12%; Aírton Cordeiro (PFL), com 5%; e Claus Germer (PT), com 3%.
Os índices não mudaram muito nas semanas seguintes. Mas, no fim de outubro, surgiu a notícia que mudaria a história da eleição. Em 26 de outubro, o então deputado federal Paulo Pimentel soltou a bomba: ele participou de uma reunião que previa que os três candidatos da oposição Algaci, Enéas e Airton renunciariam em favor de Jaime Lerner. Algaci não quis comentar o assunto, mas os outros dois negaram veemente a renúncia. Os dias seguintes mostraram que Pimentel falara a verdade.
Domicílio carioca
A candidatura de Jaime Lerner tinha um grande obstáculo: ele havia transferido o domicílio eleitoral para o Rio de Janeiro em 5 de fevereiro, e não o mudou de volta a tempo de registrar a candidatura em Curitiba. A Justiça Eleitoral de primeira instância e o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) negaram o retorno do título de Lerner para Curitiba. O recurso apresentado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), entretanto, foi favorável ao pedetista.
No dia 1.º de novembro foi definido que Algaci renunciaria da candidatura para ser vice na chapa do novo candidato. No dia 5, foi a vez de Aírton Cordeiro desistir. O último a sucumbir foi Enéas Faria, no dia 7.
O PMDB tentou desmoralizar a união das oposições. "Todos eles garantiram publicamente que jamais haviam pensado em renunciar e que isto só aconteceria se eles morressem. Temos agora três mortos-vivos, com renúncias patrocinadas por grupos econômicos que não desejam o avanço político e social, mas a volta da política de compadrio, das benesses e da corrupção", afirmou Fruet em comício na Praça Rui Barbosa para cerca de 50 mil pessoas.
Mas o curto período da campanha de Lerner 12 dias acabou sendo uma vantagem: não houve tempo suficiente para ele se desgastar; apenas para a população se encantar com as palavras do arquiteto e urbanista. O mote da campanha de 85, o "Coração Curitibano", lançado pelo publicitário Sérgio Mercer, foi reeditado. E, desta vez, saiu vitorioso. Lerner obteve 48,5% dos votos contra 29,4% de Fruet.
Cenário de 1988 PMDB teve desgaste nacional
Para quem não viveu aquela época, é difícil imaginar o que era uma inflação de 980%. Pois foi esse o índice de reajuste de preços no Brasil em 1988. A hiperinflação, que perdurou mais alguns anos, foi um dos motivos que derrubaram o PMDB naquele ano. O partido, que dominara o Brasil nas eleições de 85 (prefeito e vereadores) e 86 (governadores, deputados e senadores), foi derrotado em várias capitais.
O PT teve uma grande ascensão ao conquistar a prefeitura de São Paulo, com Luiza Erundina, e a de Porto Alegre, com Olívio Dutra. Mas a legenda não era fundamental: o importante era ser da oposição. O desgaste do PMDB era tão grande que, finda as eleições de 1988, o partido queria "romper" com o governo de José Sarney.
Muitas pessoas estavam descontentes também com a Constituição de 1988, promulgada em 5 de outubro. Os trabalhadores, impressionados pelo discurso do líder Luiz Inácio Lula da Silva, deputado constituinte, concluíram que foram poucos os avanços sociais. Enquete feita pela Gazeta do Povo na época comprovou a desconfiança.
Outro acontecimento negativo envolvendo Sarney foi a ação do Exército, que em 9 de novembro ocupou a sede da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em Volta Redonda (RJ), para retirar os 10 mil grevistas do local. A ação resultou na morte de três operários.
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