Curitiba teve 12 candidatos a prefeito em 2004, um recorde. Muitos partidos queriam aproveitar o momento delicado pelo qual o prefeito à época, Cassio Taniguchi (PFL), vinha atravessando. Ele padecia do mal que é o inimigo número 1 dos políticos: a impopularidade. O desgaste era tão grande que até o vice-prefeito rompeu com Taniguchi. Beto Richa (PSDB), que havia sido escolhido como fiel escudeiro em 2000, resolveu concorrer sem o apoio do PFL e assumiu uma postura de oposição da qual muitos concorrentes e até eleitores duvidaram na época. Mas, com o trunfo da redução da tarifa de ônibus, Richa conseguiu vencer a máquina estadual e federal e venceu a disputa de 2004.
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A estratégia eleitoral de Richa tomou forma no fim de janeiro daquele ano. Taniguchi autorizou um reajuste na passagem de ônibus e viajou ao exterior. A tarifa passou de R$ 1,65 para R$ 1,90 em um domingo. O vice-prefeito assumiu e cancelou o aumento na terça-feira. Taniguchi voltou e teve de enfrentar o imbróglio. A Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec), vinculada ao governo estadual, na época comandada por Roberto Requião (PMDB), também era contra o reajuste, e requisitou as planilhas de cálculo da tarifa.
No início de março, sem resposta da Comec, Taniguchi suspendeu a integração do transporte com as demais cidades da região metropolitana e elevou a passagem para R$ 1,70 na capital. Em 9 de abril, a jogada de Richa e a pressão da Comec naufragaram. A integração voltou a valer, e todas as tarifas passaram a ser de R$ 1,90.
Mas a pauta da eleição já estava definida: reduzir o preço da passagem. Essa era a grande carta na manga de Richa, que precisava de uma estratégia forte para o combate com Angelo Vanhoni (PT), favorito nas pesquisas. O petista havia conquistado um forte capital eleitoral em 2000, quando perdeu de Taniguchi por apenas 26,5 mil votos no segundo turno, uma diferença de 3%. Além disso, o petista contava com o apoio de Requião e do presidente Lula.
Vanhoni inicialmente poupou Richa de críticas. A vantagem de Richa no primeiro turno 329,4 mil votos contra 292,9 mil do petista exigiu mudança de rumos. No segundo turno, Vanhoni passou a criticar de forma mais incisiva o oponente pelos problemas que afligiam a cidade, e tentou vinculá-lo ao que considerava a indústria da multa na cidade.
Mas as maiores ressalvas contra o tucano foram feitas por Taniguchi, alvo de críticas crescentes. Em 4 de outubro, Richa declarou que havia saído da administração municipal por "divergências ideológicas, administrativas e políticas" com Taniguchi. "A reconciliação é impossível", sentenciou Richa a respeito do atual secretário estadual de Planejamento. Em 19 de outubro, o tucano declarou que os desentendimentos teriam iniciado ainda em 2000, e que o "rompimento" total teria ocorrido em janeiro, com o episódio das tarifas de ônibus.
Taniguchi respondeu em um artigo na Gazeta do Povo: "Depois do alegado rompimento, Beto Richa compareceu como pré-candidato e inclusive discursou como vice-prefeito em audiências públicas de prestação de contas". O prefeito também destacou que Richa havia assumido a prefeitura por um total de 75 dias, e se não fez mais pela cidade foi por "falta de iniciativa", e não por "falta de oportunidade".
Mas o que não faltou a Richa foi o senso de oportunidade eleitoral. Ao se colocar como oposição mas sem inovar muito, conquistou o voto dos curitibanos, conservadores por natureza, e pavimentou sua carreira. No segundo turno, Richa venceu Vanhoni com 494,4 mil votos (54,78%) contra 408,1 mil (45,22%).
As idas e vindas dos personagensde 2004
Angelo Vanhoni (PT) concorreu à prefeitura de Curitiba em 2004 com o apoio do PMDB, que indicou o vice, Nizan Pereira. A coligação, abençoada pelo então governador Roberto Requião, foi a gota dágua para o então deputado federal Gustavo Fruet. Ele queria ser o candidato peemedebista. Mas, sem espaço no partido, saiu da legenda e decidiu apoiar Beto Richa (PSDB) para a prefeitura. Hoje Fruet está no PDT, será candidato a prefeito com o apoio do PT de Vanhoni e disputará a eleição contra o prefeito Luciano Ducci (PSB), apoiado por Richa.
No segundo turno de 2004, Richa e Vanhoni buscaram o apoio dos demais candidatos. Rubens Bueno (PPS), que ficou em terceiro lugar no primeiro turno, com 188,3 mil votos, era o mais cobiçado. Mas preferiu ficar neutro. Bueno hoje também é alvo do desejo. Ducci o quer como vice. Mas, por enquanto, ele não disse nem que sim nem que não.
Outro cotado atualmente para ser vice de Ducci é Osmar Bertoldi (DEM). Em 2004, então no PFL, Bertoldi era o candidato apoiado pelo prefeito Cassio Taniguchi. Fez 58,5 mil votos e não declarou apoio a Richa no segundo turno.
Já Mauro Moraes, que em 2004 estava no PL do vice-presidente José Alencar, foi para o lado de Vanhoni no segundo turno, tentando agregar à campanha do petista seus 44,4 mil votos conquistados na primeira etapa da eleição. Hoje Moraes é filiado ao PSDB de Richa.
Memória das eleições curitibanas | 3:46
O coordenador da Pós-Graduação em Gestão Urbana da PUCPR, Fábio Duarte, destaca a importância do transporte público na campanha eleitoral e fala sobre a necessidade dos candidatos incluírem em seus planos de governo outros modais, como a bicicleta.
No último domingo de cada mês, até julho, a Gazeta do Povo publicará uma página mensal relembrando cada uma das eleições para prefeito ocorridas a partir de 1985. O site do jornal trará ainda depoimentos de pessoas que tiveram alguma participação nessa história.