Bolsão de pobreza no Parolin
A disposição das pessoas em andarem na rua ou em fazer esporte apenas por diversão não é encontrada facilmente no Parolin, um dos 11 bairros da Regional Fazendinha/Portão. Dos 11.554 moradores do Parolin, 30% moram em favelas, de acordo com o Censo 2010 do IBGE. Eles não têm condição financeira para muito mais. Do total de pessoas com 10 anos ou mais, 38,5% têm renda de até 2 salários mínimos.
Saindo das tabelas e dos gráficos, a realidade é cruel. Em uma segunda à tarde, a reportagem encontrou moradores revoltados na vila Cidade de Deus, por causa de uma ação policial. Várias crianças na rua no meio da tarde, muitos desocupados. Meninos mostravam as balas que caíram no chão após um tiroteio.
A comerciante Judith Cruz, que tem uma loja de presentes no Guaíra, próximo ao Parolin, diz que é preciso conhecer os vizinhos. "Há assaltos aqui. Mas temos que correr esse risco, em nenhum lugar é seguro. Temos que valorizar nosso bairro e conhecer as pessoas, muitas delas são bons clientes."
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A série nas reportagens anteriores sobre os bairros de Curitiba no site www.gazetadopovo.com.br/eleicoes/voz-da-cidade e no blogwww.gazetadopovo.com.br/blog/bairros-curitiba
107,7 habitantes/ha
é a densidade demográfica do bairro Água Verde, o mais alto da Regional Fazendinha/Portão e o segundo mais alto da cidade, atrás apenas do Centro (113,5 habitantes por hectare).
A Regional Fazendinha/Portão, com seus 243 mil moradores, tem a maior densidade demográfica entre as nove administrações regionais de Curitiba. São 72 habitantes por hectare, contra uma média de 40 na cidade, segundo os dados do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc). Pode parecer apertado, mas as pessoas não passam apuro: se espalham pelas calçadas, ruas, praças e parques da regional.
Nessas áreas verdes, a atividade física é estimulada, especialmente no Eixo de Animação da Avenida Arthur Bernardes, entre a Vila Izabel e Santa Quitéria. O eixo consiste em uma série de canchas poliesportivas tênis, vôlei, futebol, basquete , e outros equipamentos de lazer em uma área de 40 mil metros quadrados, que foram adotados pela comunidade.
A mesma regional tem outro eixo de animação ainda maior, com 103,2 mil metros quadrados, entre o Guaíra e o Lindóia, ao longo da Avenida Wenceslau Braz. Mas, neste caso, a comunidade não aderiu 100% ao projeto. Resultado: as redes da quadra de tênis e do vôlei foram furtadas. "O pessoal usa para andar de skate. Ninguém cuida", diz André Camargo, 20 anos, publicitário, morador do Novo Mundo, que vai até a Vila Izabel para jogar tênis. "É só chegar aqui, sempre tem gente, até as 6 da manhã, ou à noite, bem tarde."
Outros frequentadores da quadra pedem algumas melhorias: arborização, para evitar que o farol dos carros atrapalhe a visão dos jogadores e manutenção do piso. Mas, no geral, quem mora nas imediações se orgulha da estrutura. "É como na praia. Muita gente caminhando, a qualquer hora, e à noite tem iluminação. Uma delícia", disse uma transeunte, sem parar.
O Parque Cambuí, no Fazendinha, não tem tantos esportistas. Alguns jovens vão até o local apenas para ouvir som alto no carro. Uma alternativa é colocar um fone de ouvido enquanto corre, como Faberson Diego Carneiro, 32 anos, administrador de empresas. Ele lembra que o terreno, um mangue, servia apenas como atalho, e ponto preferencial de assaltantes. "Meu avô foi assaltado aqui, há alguns anos, quando tinha muito mato. Finalmente fizeram o parque. Até abri minha empresa aqui perto para aproveitar bem."
Segurança não preocupa os frequentadores da praça Bento Munhoz da Rocha, entre o Guaíra e Água Verde. Há um módulo policial, o que garante a tranquilidade de Sabrina Ribeiro Pereira, 20 anos, que vai caminhar com a filha no carrinho, Isabelly, de 10 meses. Marinoel do Nascimento Araújo, 30 anos, acompanha a mulher e a filha (e o cachorro, ainda sem nome) quando está de folga do trabalho. Para Sabrina, a praça está ótima. Mas há coisas a serem feitas na cidade, como agilidade no atendimento à saúde. O casal levou um susto quando Isabelly bateu a cabeça enquanto engatinhava. "Fomos ao Pequeno Príncipe, chegamos às 23 horas, saímos quase 4 da manhã." Ela também gostaria de descer pela porta da frente do ônibus, pois tem dificuldade de passar pela roleta com a filha no colo e os apetrechos de bebê.
Quem evita ônibus e carro sempre que possível é Antonio Ribeiro Lauzana, 55 anos, funcionário da Petrobras. "Gosto de caminhar. De carro tenho que me preocupar em estacionar, e pagar uma fortuna. De bicicleta não dá, não tem ciclovia". Ele deixa a calçada de lado apenas quando faz muito frio para ele, os 10 graus registrados na semana passada foram até convidativos a andar a pé.
A Gazeta do Povo percorre as nove regionais de Curitiba para levantar os principais problemas e anseios da população. Na próxima segunda-feira, a Regional Matriz, a sétima da série.
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