Oasis e fé
Em meio à insegurança, o Convento Solitude traz paz à população
As irmãs do Convento Solitude, da Congregação Sion, levam uma vida contemplativa se mantém em clausura. Mas isso não quer dizer que elas sejam desinformadas sobre a cidade ou o mundo, muito pelo contrário. "Acompanhamos o noticiário, assinamos a Gazeta do Povo para nos informarmos. Assim conseguimos carregar as necessidades do mundo nas nossas orações", diz irmã Célia, uma das responsáveis pela administração do local, que fica às margens da BR-277, entre o Cajuru e o Uberaba.
Acompanhando as notícias, as irmãs formam ideias próprias sobre a política. "Cumprimos nossas responsabilidades. Vamos votar, com a expectativa que as coisas melhorem. A experiência mostra que é um desafio manter essa esperança. Mas aí trazemos também os políticos para nossas orações", conta. E como elas veem os casos de violência que ocorrem em toda a cidade e que assustam os moradores da Regional Cajuru?
"De onde vem o desencanto dos jovens com a vida, por que se envolver com o mal? A gente se pergunta isso, mas não há respostas", revela irmã Célia. Mesmo assim, há esperança, ela diz. "O mal não vai acabar, sempre existiu. Mas a fé que nos move para uma vida de orações é a certeza da salvação das pessoas, a certeza de que Deus é capaz de agir nos corações de todas as pessoas. O pecado é condição humana, mas a essência da humanidade é a bondade."
Os comerciantes contam histórias de assaltos, mas estão tão assustados que nem querem tirar fotos ou ter seus nomes revelados. Essa foi a realidade que a reportagem encontrou ao circular na semana passada pela Regional Cajuru, formada pelos bairros Cajuru, Capão da Imbuia, Uberaba, Jardim das Américas e Guabirotuba.
"Elegemos muitos vereadores que tem um pé aqui no Cajuru, mas eles não foram capazes de trazer nenhum benefício para nós. Fomos esquecidos", diz o proprietário de uma mercearia típica de bairro, daquelas que ainda usam a caderneta para anotar as compras dos clientes fiéis. Ele sente inveja do bairro vizinho, o Jardim das Américas. "Lá existe um módulo policial, a viatura da Polícia Militar passa a toda hora. Por que lá tem e aqui não? É por que o povo de lá é rico?", questiona. Ele começa a contar uma história sobre criminalidade, mas diz, com os olhos emocionados e a mão em cima da caixinha de cadernetas, que "não vale a pena, melhor esquecer".
O presidente do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) do Cajuru, Mauro Suyhama, confirma que muitos comerciantes preferem ficar no anonimato, com medo de represálias. Mas ele pondera que a criminalidade no bairro diminuiu. "A gente ainda não recebeu essa Unidade do Paraná Seguro [UPS], que está indo para locais mais pobres e mais violentos", avalia. Ele ressalta a importância do envolvimento dos moradores. "Às vezes um vizinho vê um assalto, mas não faz nada. É preciso ter união."
Viatura não vem
O módulo policial do Jardim das Américas, tão invejado no Cajuru, não está sendo suficiente para barrar o grande número de roubos e furtos a domicílios. "Eles estão lá, mas não circulam o suficiente", diz Rubens Gastão da Silva, 66 anos, que teve a casa furtada há três semanas, quando ele e a mulher estavam fora. "Já fui assaltado uma vez, revólver na cabeça. Desta vez estávamos fora, era 9h30 da manhã, encostaram um carro e levaram tudo." Silva é aposentado, mas se mantinha na ativa como despachante parou temporariamente para fazer companhia para a mulher, que estava com medo de ficar sozinha.
Na Avenida Salgado Filho, no Uberaba, lojistas também se recusaram a dar entrevista por temerem novos assaltos. Elismar Francisco, 24 anos, padeiro, veio da Bahia há cerca de um ano, encontrar familiares que já estavam em Curitiba. "Eu sabia já que a cidade estava violenta, meu irmão dizia. Mas isso tem em todo lugar, e a gente tem que se virar mesmo assim", relata. Para o barbeiro Luiz Antonio dos Santos, 57 anos, o bairro tem melhorado muito, mas faltam ciclovias. "Venho de bicicleta de São José dos Pinhais, é muito perigoso, na Avenida das Torres temos que andar na contramão, no meio do mato."
No Bolsão Audi/União, que reúne sete das dez comunidades que foram ocupadas com policiais da UPS, a população destaca os benefícios da presença policial. Mas os moradores dizem que a ocupação foi ostensiva apenas no começo e cobram que ela se torne permanente. "A viatura aqui perto ficou um tempo, foi bom, mas foi só no começo, depois sumiu", diz Vera Lúcia da Silva, 37 anos, comerciante. A irmã dela é ainda mais crítica. "Para mim não mudou muita coisa. E os policiais vieram aqui mexer com meu filho, que estava apenas fazendo uma festa normal, mas foram atrás dele, com ar de autoridade", conta Nina Teixeira, 42 anos, também comerciante. Mais perto do "quartel general" da UPS, Alessandra da Silva Santos, 33 anos, elogia a iniciativa: "com a polícia aqui, melhora muito".
DeficitCriança sem creche cria dificuldade para pais trabalharem
No Bolsão Vila Audi/União, no Uberaba, muitas mães reclamam de falta de vagas na creche. Elas comentam tudo enquanto fazem fotocópias no comércio de Nina Teixeira. "Elas veem aqui xerocar os documentos para renovar o cadastro a cada seis meses, e continuam voltando, não conseguem vagas nas creches", conta Nina.
Marjorie, de 3 anos, é uma dessas crianças que continua na fila. "Fiz a primeira tentativa quando ela tinha 3 meses. Até hoje, nada", diz a mãe, Laís Camila do Prado, 18 anos, balconista de pizzaria. Ela trabalha apenas à noite, para cuidar da filha durante o dia. O marido faz o turno inverso: trabalha de manhã e cuida de Marjorie à noite.
Não são apenas os pequenos que estão desamparados, avalia Isabel Loraine dos Santos, 56 anos, consultora da empresa de joias e lingerie Fonzaghi e moradora do Uberaba. "Precisamos de um parque para os jovens, de estrutura de esporte e lazer, de mais atividades, para que não fiquem jogados às traças por aí depois das aulas", sugere.
A Gazeta do Povo percorre as nove regionais de Curitiba para levantar os principais problemas e anseios da população. Na próxima segunda-feira, a Regional CIC, a quinta da série.
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